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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Assembleia de Luz - Francisco Cândido Xavier

 

Caro amigo
Sua colaboração nas obras assistenciais é muito importante; adquirindo um livro espírita já estarás ajudando. Por isso sem você tem condições de comprá-lo faça-o.
Que Jesus o abençoe.
Muita Paz

ASSEMBLÉIA DE LUZ

"As entidades espirituais realizam reuniões específicas, em ocasiões determinadas, a fim

de adotarem serviços ou decisões?"

Esta pergunta é motivo para grande número de consultas, formuladas por amigos ainda

vinculados à vida física, e, com ligeira notícia, aqui registrada, esperamos resumir as

respostas que devemos aos companheiros em estágio educativo na Terra.

* * *

Deliberando organizar o presente livro, vários poetas se agruparam em vasto salão de

instituto cultural de nosso plano de vivência comum para troca de idéias e consultas

recíprocas.

Os vates reunidos — cada um por sua vez — liam para os companheiros as produções já

elaboradas por eles mesmos, e o silêncio do recinto se povoava de luz, que se coloria de

tons diversos.

Ora predominava o lilás, ora o róseo, e de outras vezes sobressaíam o verde e o azul a

tingirem o ambiente.

Ser-nos-á permitido dizer que nos achávamos defrontados por verdadeira festa de

kirliangrafias.

* * *

Fomos observar o que se passava e notamos tanta unção e tantos valores mentais

concentrados durante a leitura que se efetuava, enriquecida pela emoção dos

circunstantes, que nos obrigamos a reconhecer que ali estava um grande conjunto de

inteligências, cujas auras se punham ã nossa mostra, suscitando a mudança das cores

que ali predominavam com alternativas que variavam com o tempo da leitura,

profundamente sentida, de cada um.

* * *

Temos aqui o livro nascido desse simpósio de corações devotados ao Belo, por resposta

aos companheiros que nos endereçam indagações acerca de reuniões na Vida Maior.

E, homenageando os poetas que nos deram a conhecer, de modo mais intenso, o valor

das mentes unidas com objetivos de elevação, titulamos o presente volume por

"Assembléia de Luz".

- Emmanuel –

Uberaba, 29 de Março de 1988

4

ESPERANÇA

Repara a luz da esperança

Sempre viva, sempre acesa,

Fulgindo sem descansar

Na bênção da Natureza.

A terra aguarda a semente

E a semente a floração.

Para a vitória do fruto

Em graça, beleza e pão.

O ninho da tempestade,

Ante a fúria que o balança,

Espera, silencioso,

Que o céu retorne à bonança,

Pedras aguardam buril

Para brilharem ditosas,

E o charco espera socorro

Para esmaltar-se de rosas.

O inverno rígido e triste,

Embora a engelhar-se, espera

O sol quente e generoso

Que virá na primavera.

Assim, também no caminho,

Se o pó da mágoa te alcança,

Não te mergulhes na queixa,

Nem percas a confiança.

Há vozes da experiência

Na dor que te dilacera...

Diz a vida: "Ama e confia!"

Diz o tempo: “Espera, espera”.

"Para quem cala Deus fala",

Ensina velho rifão.

Espera com Deus, que o tempo

É o mestre do coração.

Casemiro Cunha

5

DESTINO E PENSAMENTO

Eis o princípio ideal

De agir com calma e com zelo:

Não nos basta ver o mal,

É preciso compreendê-lo.

Álvaro Martins

Sem alarme e sem reclamos,

O destino, em qualquer crença,

É tudo quanto formamos

De tudo quanto se pensa.

Lourenço Prado

Clamando por diretrizes,

Vemos, por todos os lados,

Os que anseiam ser felizes

Mantendo os braços cruzados.

Sylvio Fontoura

Nunca reproves ninguém.

Idéia é fala sem voz.

A gente vê no vizinho

Aquilo que vive em nós.

Pedro Silva

Pensamento que se irrite

Expressa, em linhas gerais,

Uma força sem limite

Buscando forças iguais.

Múcio Teixeira

Nas lutas do dia-a-dia,

Na ação, no lar e no afeto,

O segredo da alegria

É o pensamento correto.

Jovino Guedes

6

Não há quem caminhe a sós,

Trabalha, serve e perdoa,

Pois estamos todos nós

Dentro da mesma canoa.

Jair Presente

Eis que a fé nos elucida,

Bradando em seus estatutos:

Do que semeias na vida

Tens na morte os próprios frutos.

Bóris Freire

Foi sempre vaga e enfermiça

A idéia de João Moleza;

Se escapava da preguiça,

Descambava na tristeza.

Cornélio Pires

Ensinamento sabido:

Destino é ato e proposta.

A idéia faz o pedido,

O tempo traz a resposta.

Marcelo Gama

7

ASSUNTOS DIVERSOS

Mentira em vários extremos,

Do homem rico ao mais pobre,

No mundo é sempre o que vemos

Nas juras que a Terra cobre.

Clovis Amorim

Não tenhas medo de mim,

Porque passei pela morte;

Nosso amor puro e sem fim

Não há lâmina que corte.

Livio Barreto

Alma que busque manter

Lealdade na afeição,

Coloque o próprio dever

Por dentro do coração.

Etôris Freire

Se a notar mágoas te empenhas,

Não é preciso esconder;

Escreve as queixas que tenhas

Na praia, perto das ondas,

Júlio Diniz

Ante a dor que me esfarrapa,

Oculto o meu desalinho,

Fonte que nasce na lapa

Não se mostra no caminho.

Natal Machado

Digo aos homens e às mulheres

Este rifão sem receios:

Não brinques onde estiveres

Com sentimentos alheios.

Jovino Guedes

8

Esforça-te por vencer

As iras em que te arrasas,

Ninguém consegue viver

Entre paredes de brasas.

Lulú Parola

Trata a todos por irmãos,

Usa o verbo bem composto,

O sorriso de bondade

É um arco-íris no rosto.

Meimei

Nesta noite, tenho flores

Feitas de amor imortal,

Trazendo o nosso carinho

Aos irmãos de Portugal.

Auta de Souza

9

RESPOSTA DE AMIGO

Queres saber no Evangelho

Como agir, como acertar...

A indicação é servir

Sem nunca desanimar.

Espinhos, pedras, ofensas

Com que te busquem marcar..,

Perdoa constantemente,

Sem nunca desanimar.

Procuras novo horizonte

Para a harmonia no lar...

Cultiva a benevolência

Sem nunca desanimar.

Desencantos e amarguras

Da senda particular,

Espera melhores dias

Sem nunca desanimar.

Sucumbiste à tentação

No pó da sombra vulgar...

Ergue-te, luta e confia

Sem nunca desanimar.

Suspiras por afeições

Viver, produzir, amar...

Faze o bem, somente o bem,

Sem nunca desanimar.

Anseias trazer a vida

Repleta de bem-estar...

Cumpre o dever que assumiste

Sem nunca desanimar.

Se sonhas vencer no mundo,

Ascender, edificar...

Atende às lições do Cristo,

Sem nunca desanimar.

Casemiro Cunha

10

FALANDO AO CORAÇÃO

Coração fatigado, enfermo e aflito

Na noite espessa que te envolve a estrada,

Contempla a imensa abóbada estrelada,

Cintilando na glória do infinito!...

Emudece a amargura de teu grito

E, ante as dores da longa caminhada,

Busca o fulgor distante da alvorada

E sorri para o amor puro e bendito.

Segue olvidando pântanos e espinhos,

Pedras, nuvens e serros escarninhos,

Sem que o fel de teu pranto sobrenade...

E, sobranceiro à treva que te espia,

Chegarás soluçando de alegria

Ao Divino País da Eternidade.

Cruz e Souza

11

NORMA DA VIDA

Sinto-te o coração dorido em prece

E perguntas, em pranto, alma querida e boa:

- "Como guardar a fé, sem que a prova nos doa

Nos recessos do ser?

Uma norma de paz haverá sobre a Terra,

Que consiga sanar as chagas da alma triste?"

Sem pretensão, respondo que ela existe:

-Trabalhar e esquecer.

A própria Natureza é um livro aberto.

Recorda o tronco antigo e a tempestade;

Desçam raios do céu, a nuvem brade,

Sob a crise da noite a estremecer,

Ei-lo, porém, ereto e firme, agüentando a tormenta...

Quebra-se-lhe quase toda a ramaria,

Ele guarda, no entanto, as instruções da vida:

-Trabalhar e esquecer.

Vejo a terra humilhada na lavoura,

Ferida e massacrada

Ao peso do trator e entre golpes de enxada

Tem nos vulcões rugindo o seu bravo gemer...

Mas, mesmo assim, produz o pão do mundo,

Injuriada e revolvida

Atende a ordenação que recebe da vida:

-Trabalhar e esquecer.

O fio d'àgua que nasceu na serra,

Pouco a pouco se fez amplo regato,

Percorrendo quilômetros de mato,

A correr e a correr...

Dessedentando pombos e serpentes,

Sofre a baba do lobo que o domina

E segue para o mar, ante a norma divina:

-Trabalhar e esquecer!...

Assim também, alma querida e boa,

Se carregas contigo farpas de amargura,

Desencanto, tristeza, desventura,

Chora, mas faze o bem - nosso alto dever...

Quanto às pedras e empeços do caminho,

Desengano e aflição, mágoa e mudança,

Olvida!... E segue as vozes da esperança:

-Trabalhar e esquecer!...

Maria Dolores

12

ANTEVISÃO

Um dia chegará, de segundo a segundo,

A vitória imortal!...Tiranias ultrizes

Dobrarão para sempre as trágicas cervizes,

Ante o reino do amor a espraiar-se, fecundo!

A impiedade revel, o ódio a rir-se iracundo,

A usura de Harpagão e o gládio de Cambises

Serão rostos crestais de velhas cicatrizes,

Temerárias lições no semblante do mundo!

Não mais fome ou nudez, o arado, a escola e o malho

Entoarão sobre a Terra as canções do trabalho

Em trompas e clarins de concerto bendito!

E os homens, céus além, ao tato incontroverso,

Descobrirão, por fim, nos portais do Universo,

A bússola de Deus nos portais do infinito!

Alceu Wamosy

13

RESSURREIÇÃO

Triste viajante da floresta escura,

Tateando na estrada erma e sombria,

Alcancei a aflição do último dia,

Esmagado na sombra da amargura.,.

Mas, além do favor da sepultura,

Eis que a paz novamente me sorria...

E, ave exalçando a graça da alegria,

Embriaga-me a luz vibrante e pura!

Glória às dores da vida transitória!...

Não traduzo o meu grito de vitória,

Por mais que a minha fé se estenda e brade;

Cego que torna a ver, além do mundo,

Canto somente a luz de que me inundo,

Nos caminhos de sol da eternidade.

Leôncio Correia

14

A CHAMA DIVINA

Na escuridão hostil da primeira caverna,

Enquanto o homem larval grita, sonha e tateia,

Deus acende na furna humílima candeia

Sobre simples sinais da natureza externa.

A princípio é clarão de pálida lanterna,

Frágil, treme, vacila, ondula e bruxuleia;

Depois, é tocha imensa a crepitar sem peia,

Descortinando ao mundo a Majestade Eterna!

Facho excelso e imortal, desde então se fez guia

Da civilização que fulge e se irradia

Em sublime esplendor flamífero e disperso...

E essa Chama Divina é o livro soberano,

Hífen de sol, ligando o entendimento Humano

À grandeza da Vida e à Glória do Universo.

Olavo Bilac

15

ROGATIVA NO TÚMULO

Amados, rogo a Deus vos compense a ternura

Que me ofertais na campa em marmóreo jardim,

A capela de adorno, as cruzes de marfim,

O abrigo de milhões que os restos me enclausura...

Entretanto, atendei!... Levai de sobre mim

A riqueza de pedra e as jóias de escultura,

Transformai-as em pão na vereda insegura

Da penúria que vejo agora de onde vim!...

Peço a cova sem luxo, um recanto sem palmas.

Em memória do amor que funde as nossas almas,

Não me façais lembrar o orgulho triste e vão.

Mas aceito, feliz, as flores que me destes

E as preces de saudade, à sombra dos ciprestes,

Que me trazem consolo e vida ao coração,

R. de Carvalho

16

DOR

Vi a dor caminhando em negra estrada,

Qual megera da sombra, em noite escura,

E perguntei, rolado de amargura:

"Por que nasceste, bruxa desvairada?"

"Por que ostentas a espada estranha e dura,

Sobre o seio da vida atormentada,

Reduzindo à miséria, cinza e nada

Todo o sonho da paz e da ventura?"

Mas a Dor respondeu: "Cala-te, amigo!

Na torturada senda em que prossigo,

O veneno do mal morre infecundo.

Sem meu gládio que salva, pouco a pouco

O homem padeceria cego e louco

Em tenebrosos cárceres do mundo!"

Anthero de Quental

17

CRÊ

Há na crença uma luz radiosa e pura,

Que transfigura os prantos em prazeres,

Que transforma os amargos padeceres

Em momentos de mística ventura.

Confia, espera e crê. Quando sofreres,

Sob os guantes da ríspida amargura,

Nas tormentas acerbas dos deveres

Esquecerás a dor e a desventura.

É que, em meio das mágoas mais atrozes,

Sentirás dentro em ti estranhas vozes

Repletas de doçura indefinida:

São os seres ditosos, superiores,

Que nos impelem a nós, os sofredores,

Aos luminosos planos da outra vida.

Anthero de Quental

18

QUEM?! ...

Estrelas, quem vos fez por deslumbrante frota

De excelsos bergantins em chamas de ouro e prata?

Céus, quem nos desdobrou, por milênios sem data,

Nos distritos sem fim da vastidão remota?!...

Luzes da imensidão, quem vos alenta e dota

De celeste esplendor e força intimorata?

Mares, quem vos mantém?... Fontes, quem vos desata?

Aves, quem vos compôs a cantiga devota?

Flores, quem vos desvela a doce maravilha?

Troncos, quem vos criou?... Pedras, quem vos empilha

Dando ao mundo, no espaço, apoio incontroverso?!

...E eis que serena voz, sem que se saiba de onde,

Do sol ao verme canta, estremece e responde, - Deus!...

Tudo vem de Deus, na pompa do Universo!...

Tobias Barreto

19

PROMETEU

"Sou médium" - explicou Juquinha Prado

Ao guia da sessão em Passadiço.

“Que fazer, meu irmão? Que há com isso?

Se o meu caminho é sempre atribulado?"

O guia respondeu incorporado:

"Filho, mediunidade é mais serviço

E mais estudo para o compromisso

De viver em maior aprendizado!...

Venha servir!...

Quem serve avança e esquece..."

O moço agradeceu, pondo-se em prece,

E prometeu voltar de modo urgente...

Voltaria do sítio em Serra Brava,

Mas, do grupo fraterno que buscava,

Ninguém mais viu Juquinha, frente a frente!...

Cornélio Pires

20

RENASCENÇA DE LUZ

Além da grande noite, fria e densa,

Da negação que ruge, desvairada,

Aparece risonha madrugada,

Em que ressurge a Terra, ao sol da crença.

O Espiritismo é a Nova Renascença

Da fé cristã, sublime e deslumbrada,

É a vitória da vida sobre o nada

E a glória universal, fulgindo imensa...

Trabalhemos, irmãos!...É novo dia.

Espalhemos na Terra erma e sombria

Nosso ideal de luz, santo e fecundo;

E brilharão, depois da treva humana,

Uma só fé augusta e soberana,

Um só rebanho e um só Pastor no mundo.

João de Deus

21

REPARAÇÃO

"Não me apareças mais!..." - disse ao moço tristonho

A jovem recoberta em jóias de rainha.

E, ao vê-lo cambalear na tosse que os detinha,

Gritou: "Achei agora o rapaz do meu sonho!,.."

Clamou o servidor: "Disseste que eras minha!...

Meu amor aos teus pés novamente deponho,

E por ti morrerei no abismo que transponho..."

E largou-se a gemer do portal que o sustinha!...

Ela casa-se e brilha... Acredita que esquece...

Mas, embora a fortuna, apaga-se, envelhece,

Doente, sofre, chora e morre pouco a pouco!...

No Além quer amparar o antigo amor suicida,

Renasce... E fez-se mãe, entre as pedras da vida,

E hoje carrega ao colo um filho cego e louco!...

Valentim Magalhães

22

REMÉDIO DIFÍCIL

"Socorro, irmão!... Cansei de andar errado..

“Tudo meu desacerta...” - assim pedia

O Adão Bicalho a irmão José Maria,

Numa sessão do Centro de Aterrado.

E prosseguiu: "Estou desesperado,

Preciso apoio contra a bruxaria,

Vou ao doutor e nada me alivia,

A coruja do azar vive a meu lado..."

O guia respondeu: "Irmão Bicalho,

O remédio é trabalho e mais trabalho

Para sanar as aflições que levas!..."

Mas Bicalho gritou, rude e vermelho:

"Estou pedindo auxílio e não conselho.

Sai já daqui, espírito das trevas!..."

Cornélio Pires

23

REJEIÇÃO

Veio à sessão Nhá Bela da Queimada,

Viúva de NhôChico do Pilão.

Rosava dele a comunicação,

E chorava abatida, inconformada...

A petição é sempre renovada,

Noite a noite, Nhá Bela é só paixão,

Quer palavras do esposo...Tudo em vão,

A viúva mais triste, está cansada.,.

Certa noite, eis que o morto se revela...

vem ao leito da esposa e diz:"Nhá Bela,

Minha santa, mais fé! Não te esqueci!,."

Mas Nhá Bela, aterrada, cai no escuro

E grita: "Vai, Nhô Chico! Eu te esconjuro,

Vai baixar lá no Centro! Sai daqui!.,."

Cornélio Pires

24

NOTA ÍNTIMA

Procuras por segurança

Na luta de cada dia...

Se queres refúgio certo,

Trabalha, serve, confia.

Encontras dificuldades,

Anseias por melhoria;

Em qualquer parte onde estejas,

Trabalha, serve, confia.

Carregas fardo pesado

De angústia e melancolia...

Se buscas libertação,

Trabalha, serve, confia.

Padeces em solidão

Por falta de companhia?

Socorre as dores alheias,

Trabalha, serve, confia.

Ressentimento, azedume,

Tristeza, desarmonia...

Esquece o mal, faze o bem,

Trabalha, serve, confia.

O próprio Deus, por leis justas,

Na Eterna Sabedoria,

Agora e sempre, com todos,

Trabalha, serve, confia.

Casimiro Cunha

25

SIMPLIFICA

Clamas que o tempo está curto;

Contudo, o tempo replica:

"Não me gastes sem proveito,

Simplifica, simplifica."

É muita conta a buscar-te..

Armazém, loja, botica...

Aprende a viver com pouco,

Simplifica, simplifica.

Incompreensões, chicotadas?

Calúnia, miséria, trica?

Não carregues fardo inútil,

Simplifica, simplifica

Encontras no próprio lar

Parente que fere e implica?

Desculpa sem reclamar,

Simplifica, simplifica.

Se alguém te injuria em rosto,

Se te espanca ou sacrifica,

Olvida a loucura e segue,

Simplifica, simplifica.

Recebes dos mais amados

Ofensa que não se explica?

Esquece a lama da estrada,

Simplifica, simplifica.

26

Alegas duro cansaço,

Queres casa imensa e rica;

Foge disso enquanto é tempo,

Simplifica, simplifica.

Crês amparar a família

Pelo vintém que se estica...

Excesso cria ambição.

Simplifica, simplifica.

Dizes que o mundo é de pedra,

Que as provas chegam em bica;

Não deites limão nos olhos,

Simplifica, simplifica.

Recorres ao Mestre em pranto

Na luta que te complica

E Jesus pede em silêncio:

Simplifica, simplifica.

Casimiro Cunha

27

OURO

Todo o ouro dos bancos

Pode nutrir, um dia, a bênção do trabalho.

Todo o ouro guardado

Nos altares dos templos

É riqueza da fé

Que o tempo transfigura.

Todo o ouro das jóias

Que esplende nos salões

É láurea passageira

Em louvor à ilusão.

O ouro dos museus,

A derramar-se, estanque,

É ornato da morte

Para a festa da cinza.

Todo o ouro das minas

É promessa de pão,

E o ouro da moeda

Que auxilia e circula

É sangue do progresso.

Mas apenas o ouro

Que Gastas apagando

As aflições dos outros,

Acendendo sorrisos

Em mascaras de pranto,

É o ouro da alegria

Nos tesouros de amor

Que acumulas no Céu.

Rodrigues de Abreu

28

NOTÍCIAS DA MORTE

Peço aqui a cada um

Que, por favor, me suporte,

Mas vários amigos mandam

Que eu escreva sobre a morte.

Não sei o porquê da escolha,

Já que não sou literato,

Verso que eu possa compor

Recorda uma flor do mato.

Antigamente julguei

Que a morte fosse a visão

De uma bruxa escaveirada

Com grande foice na mão.

Agora que atravessei

A terra-de-toda-gente,

Posso falar de cadeira

Que ela é muito diferente

Ninguém escapa na Terra

Às influências da dita,

Ela chega para todos,

Mas pouca gente acredita.

Quando não surge de estalo,

Vem vindo de passo em passo,

Começa por uma dor,

Uma tristeza, um cansaço...

Quando desponta, de início,

Pouco a pouco, ela reclama

Remédio, exame, cuidado,

Silêncio, repouso e cama.

Se o Céu envia uma ordem

De suspender a sentença,

Ela deixa a Medicina

Afugentar a doença.

29

Mas quando tem carta branca

Para trabalho, a preceito,

Ela carrega a pessoa

Agindo de qualquer jeito.

É um quadro triste de luta...

Muita sente, nessa hora,

Pede apoio e proteção

A Deus e Nossa Senhora.

Uns gritam: "Quero ficar,

Tenho meus filhos pequenos...

Socorro, meu Deus, preciso

De mais tempo, mais ou menos.,"

Outros suplicam: "Doutor,

Eu pago o que possa ter,

Tome qualquer providência,

Mas não me deixe morrer.,"

Contudo, se o Céu ordena,

De nada a Morte se espanta,

Ciência fica no estudo,

Remédio não adianta.

Então se estira a pessoa

Num sono esquisito e enorme,

lembrando nesse descanso

Uma lagarta que dorme.

Depois, recorda um casulo

Na caixa, em forma de cocho,

E o corpo sem movimento

Tome vela e pano roxo.

Logo em seguida, a pessoa

Acorda e entra em ação,

Copiando a borboleta

Que deixa a casca no chão.

30

Aí, é que o carro pega:

Se a consciência está boa,

É muito encontro feliz

E muita luz na pessoa. .

Mas, se apenas sombra e culpa

É o que a mente em si carrega,

Parece um doente aos gritos,

Brincando de cabra cega,

Aqui termino a conversa.

Nada mais a comentar.

Da morte já disse tudo

O que eu podia falar.

Toda criatura na Terra,

Cada qual por sua vez,

Recebe, depois da morte,

Somente a vida que fez.

Leandro Gomes de Barros

31

CONFISSÃO DE CANTADOR

Sou convidado a dizer

Com toda a satisfação

Da paz que o povo encontrava

Na alegria do sertão.

Olhando a Terra de hoje

Com tanto aviso de lei,

Não sei se o mundo mudou

Ou se foi eu que mudei.

Conversa da noite antiga

Era encharcada de lua,

Mas hoje o tempo da noite

É a buzinança de rua.

A gente via na estrada

Céu bonito e flor de cheiro.

Agora, é gente apressada

Na procura do dinheiro.

Menino quando nascia

Vinha em bacia enfeitada.

Agora, é barriga aberta

E a criança numerada.

Uma cabocla passante,

Se alguém atrevia a olhar,

Via a morena vestida

Da cabeça ao calcanhar.

Hoje em dia, moça fina,

Sem diferença de hora,

Anda sem medo na rua,

Mostrando as pernas de fora.

Há dias, olhando o mar

De um monte de samambaia,

Perguntei qual era a tribo

Que estava em banho na praia.

Quis ver o quadro das ondas

Na dança de "traz e leva",

Mas fiquei de pensamento

No tempo de Adão e Eva.

32

Vi tanto gajo nadando

E tanta moça faceira

Que ali se a serpente andasse

Era simples brincadeira.

Quando vi a tentação

Na cabeça como eu pus,

Rezei o "credo" três vezes

E fiz o sinal da cruz.

Renovei o pensamento,

Levei meus olhos ao céu,

Depois, voltei para o campo,

Rezando no mataréu.

Mesa de vida moderna

É papo de gente rica,

Pouca gente sabe o gosto

Da pamonha e da canjica.

Das frutas de minha terra,

Quantas delas conhecia!...

Ata, acari, genipapo,

Axixá e melancia.

Manga doce vinha aos montes

Descendo de muro e rampa;

Hoje é fruta embalsamada

Em muita lata de tampa.

O santo quando saía

Em procissão benfazeja,

Todo o povo ajoelhava

Dizendo: "bendito seja"!.

Quem fala hoje na fé

A fim de salvar ateus

Já sabe que em qualquer praça

É pouca gente com Deus.

Negocião de hoje em dia,

Mostrando riqueza aberta,

É conversa clandestina,

Com ladroagem na certa.

Catador tem seu limite,

Falar muito não me cabe,

Se a terra ainda tem conserto

Só Deus, no Céu é que sabe.

Leandro Gomes de Barros

33

CANTORIA DE ADOLESCENTE

Muito difícil expor

Este assunto diferente;

Mas os mentores insistem,

Não posso ser renitente.

Na Terra de hoje é grande

A luta do adolescente.

Há muitas acusações

Em torno da petizada,

Muitos lhe notam abusos

No lar, na rua, na estrada,

E eis que um nome se lhe atira:

"Juventude transviada".

De fato, a muitos excessos

A gente verde se lança,

Mas não se pode arredar

De nossa própria lembrança

Que a puberdade revela

O que colheu em criança.

Antigamente se viam

Meninas e rapazolas

Depois do trabalho em casa,

Entre petecas e bolas,

Livros, cadernos e lousas,

Lições, deveres, escolas.

Aos sábados e domingos,

Sempre na trilha dos pais,

Tinham passeios no campo,

Alguns folguedos a mais,

Visitas às goiabeiras,

Distrações nos laranjais.

Entretanto, atualmente,

Pelo "sim" ou pelo "não"

Em qualquer parte da Terra,

É grande a transformação;

Desde cedo, a criançada

Está na televisão.

34

Os pequeninos atentos,

Seja na rua ou no lar,

Registram quadros tremendos,

Assuntos de arrepiar,

Assaltos, crimes e furtos,

E tocam a perguntar.,,

Querem saber sobre sexo,

Em todo e qualquer artigo;

Muitos adultos se ausentam,

Temendo entrar em perigo...

Papai diz: "Não tenho tempo"

Diz mamãe: "Depois eu digo".

Os pais, coitados, nem contam

As horas que o dia tem,

Necessitam trabalhar

No ritmo de vaivém,

Precisam pagar colégio,

Farmácia, gás, armazém...

Os meninos vão à rua

Para o que der e vier;

Procuram experiência,

Interpelando a qualquer;

Cegonhas e carochinhas

São coisas que ninguém quer.

Nos fatos mais escabrosos,

A meninada se agüenta,

A turma toda se gasta

Na atividade violenta;

Aos doze anos, já sabe

O que aprendi nos quarenta.

Eu sei que há milhões de jovens

Honrando o próprio dever,

Falo aqui, unicamente,

Dos que só querem prazer

E chegam aos vinte anos

Pedindo para morrer.

Esses verdes companheiros

Sem controles e sem contas

35

Parecem fazer da vida

Uma vela acesa, às tontas,

A consumir-se apressada

No fogo de duas pontas.

Qual a Terra de amanhã?

Pergunto comigo a sós.

Responda quem tenha vez

E muito peito na voz;

Só peço a Deus que nos guarde

Com pena de todos nós.

Leandro Gomes de Barros

36

UM CERTO DEVOTO

Um homem que se entregara à devoção

Havia muito tempo andava em ansiosa espera,

Queria ver Jesus.

Por isso, quase sempre, em profunda oração,

Vivia em súplica sincera...

Até que, certa noite,

Viu, reverente, o Mestre

Que o abraçava e prometia,

Com palavras de aviso terno e exato,

Visitá-lo no dia imediato.

O devoto acordou... Amanhecia...

Antes que o Sol surgisse, inteiramente,

Apresentando a Terra em novas cores,

O amigo de Jesus, agindo como em festa,

Varre a casa modesta,

Depois, ei-lo a enfeitá-la,

Desde a pequena sala

Ao fogão da cozinha limpa e estreita,

Com dezenas de flores,

Estampando na face a alegria perfeita.

Logo pela manhã,

Bateu-lhe à porta um pobre em roupa esfarrapada,

Mostrando pés e mãos em estranhas feridas,

A rogar-lhe uns minutos de pousada,

Através de expressões enternecidas,

Alegando sofrer tribulações

De comprida jornada.

Mas o devoto respondeu:

-Amigo, segue adiante,

O seu caso é comum,

Espero por alguém muito importante

Não tenho tempo algum.

O mendigo saiu, cambaleante,

Depois de agradecer.

37

Em seguida apareceu

Triste rapaz errante,

Demonstrando, no todo, traço a traço,

Febre, penúria e dor, indigência e cansaço,

Suplicando socorro ao devoto feliz...

Ele, porém, lhe diz;

- Põe-te à frente, rapaz, não tenho neste mundo,

A obrigação de abrir a porta de meu lar

A qualquer vagabundo...

Logo após, um menino pobre e triste

Surgiu descalço e só,

Corpo todo a encobrir-se sob o pó

Das veredas difíceis que trilhara.,.

Pedia pão e abrigo,

Mas falou o devoto em voz segura e clara:

- Hoje, espero um amigo,

Não posso recolhê-lo,

Peça pão ao vizinho

E segue o teu caminho...

Aliás, para mim, é simples desmazelo

Dos lares sem amor

Que deixam a criança, um garoto qualquer,

Pedir, pedir, pedir e andar como quiser

Para depois fazer-se malfeitor...

Mais tarde, ao fim do dia,

Um velhinho doente, arrimado a um bordão,

Respeitoso, rogava compaixão,

Receava dormir exposto à noite fria

E sair, ao relento,

Aumentando a fadiga e o sofrimento.

O devoto, no entanto, informou da janela:

-Não posso dar-te asilo,

Não bata à minha porta nem te escores nela...

Aguardo alguém; contudo, segue em frente,

Neste mesmo lugar encontrarás mais gente

Que possa agasalhá-lo,

Desculpa-me a recusa,

É um amigo importante esse alguém de quem falo...

Espero que terás leito e pousada

Na primeira pensão, à direita da estrada.

38

O dia terminou, e a noite veio escura,

O devoto chorou, tomado de amargura,

Mas dormiu e sonhou que reencontrava o Cristo.

Assombrado, gritou: - Por que, por que, Senhor,

Não me queres a fé, nem me aceitas o amor?

Preparei minha casa com cuidado

A fim de demonstrar-te todo o meu carinho,

E não quiseste vir ao meu recanto...

- Como não? - disse o Mestre em doce explicação

- Hoje, por quatro vezes fui

A tua casa, em vão.

Por muito que te achasse, eu me via sozinho..

Finda uma pausa, o Mestre esclareceu:

- Recorda, amigo meu,

O mendigo, o rapaz, o menino e o velhinho...

Sei que teu coração não percebeu,

Mas nos quatro viajores do caminho

Estava eu

A estender-te clarão renovador

E te buscar em meu imenso amor.

Nisso, o devoto em pranto

Voltou ao corpo e veio a despertar...

E, relembrando o ensino, trêmulo de espanto,

Começou a pensar...

Maria Dolores

39

INTELIGÊNCIA E AMOR

Agradeço, alma irmã, a indução à bondade

Com que a tua palavra nos alcança,

Porque falas de amor, sem que se nos degrade

A força da esperança.

Quem se exprime, exaltando o desalento,

Quem somente à amargura se reporta

Vive de raciocínio desatento,

Na sombra que perturba ou desconforta.

Muitos irmãos conhecem lâminas atrozes,

Projéteis e instrumentos de tortura

E a tirania das sinistras vozes

Com que o delito se emoldura.

Mas não sabem que há gestos escarninhos

E discussões lembrando vendavais,

Afirmações que ferem qual espinhos

E frases semelhantes a punhais.

Quanta desolação por fala sem respeito

Esconde-se no mundo, onde a treva desabe!...

Quantas acusações sem base e sem direito?

Quantas chagas ocultas? Ninguém sabe.

Verbo que eleva, ampara, ama e elucida

Em quaisquer circunstâncias a transpor

É um dom de Deus nos caminhos da vida

E a palavra do bem é música de amor.

Maria Dolores

40

SENDA DE LUZ

Carrega sem revolta a cruz que te aguilhoa

Às pedras e espinheiros da subida!...

Se aceitaste Jesus transfiguraste a vida,

E o suor no madeiro é a luz que te abençoa.

Olha ao redor da senda em que transitas

As criaturas vestidas de embaraços,

Largaram-se da cruz com os próprios braços

E te acenam, de longe, anônimas e aflitas.

Algumas, em te vendo os passos vacilantes,

Zombam de ti com impropérios e insultos,

Conservando, no entanto, os tormentos ocultos

Dos remorsos no fel de lágrimas constantes.

Ouves na retaguarda injúrias, desatinos...

E elevas-te agüentando a cruz pesada,

Demonstrando a humildade aos amigos adultos

E falando de amor aos pequeninos,

Mostras a fé robusta aos homens desatentos...

A viagem é longa, em longos trechos brutos.

Chegas, porém, ao topo, em passos diminutos,

A esquecer-te dos pés doridos e sangrentos...

Do topo para a frente é tudo primavera,

A natureza brilha. É a força de outra luz,

E buscas, Mais Além, o abraço de Jesus,

O Servidor Divino que te espera!...

Maria Dolores

41

TRANSIÇÃO

O mundo, em múltiplas crises

Por muito apoio arrecade,

É um barco na tempestade

Sob vasta escuridão...

A bordo, somente a fé

Não se alarma e nada teme,

Sabendo Jesus no leme,

Conduzindo a embarcação.

Entre os viajores ansiosos

Surgem cruéis desavenças.

Discutem pessoas tensas

Quanto as rotas por buscar...

Amigos ferem amigos,

Ignoram-se parentes,

Todos parecem doentes

Sem coragem de esperar.

Coriscos - sinistras luzes –

Rasgam a hora sombria,

Ruge, em torno, a ventania,

Fazem-se os homens pigmeus.

Não há quem pense nos outros,

A multidão se atropela,

Clamando por bagatela.

Ninguém pergunta por Deus.

Assim é a Terra de hoje,

Em transição desmedida.

É a vida mudando a vida,

Buscando equilíbrio e paz...

Sofres as farpas da sombra

Em tua própria vivência;

Usa a luz da paciência;

Com essa luz, vencerás.

Maria Dolores

42

CARIDADE ESQUECIDA

Compreender!... Atitude

Que se fosse observada

Seria uma luz na estrada

Clareando em derredor...

Infelizmente, no entanto,

Há muita gente esquecida

Dessa luz que ampara a vida,

Fazendo o Mundo Melhor.

O homem que administra

Negou-te certa vantagem;

Não é que perdesse a imagem

Do amigo e do benfeitor;

É que carrega nos ombros

Uma cruz de compromissos,

Deveres, contas, serviços

Que não consegue transpor.

O companheiro que passa

E fugiu à cortesia

Do costumeiro "bom dia"

De modo algum te esqueceu..,

Ele segue ao hospital;

Quer ver, na marcha apressada,

A esposa cirurgiada

Que não sabe se morreu.

A dama que vai de carro,

De olhar triste e contrafeito,

Que não te viu, a preceito,

A fraterna saudação,

Vai buscar antigo chefe,

Embora em desassossego...

O esposo precisa emprego,

A fim de ganhar o pão.

Entender!... Silenciar!...

Ante os apuros da vida

É caridade esquecida,

Em muitas áreas do Bem...

Em louvor dos semelhantes,

Não te queixes, alma boa;

Sorri, ampara, perdoa!...

Não busques julgar ninguém.

Maria Dolores

43

TRIO DA ESPERANÇA

Ah! coração fatigado,

Na aflição que te vigia,

Nunca te percas da fé;

Trabalha, espera, confia.

Por mais lutes, mais avanças

Em triste, espinhosa via...

Não esmoreças, contudo;

Trabalha, espera, confia.

Cada hora te parece

Nova dor que se anuncia...

Não te afundes em revolta;

Trabalha, espera, confia.

Já não sabes o tamanho

Da prova que te assedia;

Mesmo assim, prossegue à frente;

Trabalha, espera, confia.

Encontras, a cada passo,

Desprezo, descortesia...

Desculpa, servindo mais;

Trabalha, espera, confia.

Entre os seres mais amados,

Padeces desarmonia;

Não faltes à paciência;

Trabalha, espera, confia.

Sonhaste calma ventura

E sofres em demasia...

No entanto, aguarda o futuro;

Trabalha, espera, confia.

44

Não temas, nem desesperes,

Toda sombra é fugidia.

O sol brilha, a nuvem passa...

Trabalha, espera, confia.

Para a cura de ansiedade,

Angústia, melancolia,

Usa a receita de sempre:

Trabalha, espera, confia.

Cada manhã, Deus te fala,

Na bênção de novo dia:

- Se queres felicidade,

Trabalha, espera, confia.

Maria Dolores

45

CRIANÇA NOSSO AMOR

(Lembrança aos Tios da Creche do Centro Espírita

Perseverança, em São Paulo, Capital)

Ei-la Alvorada nascente

Em meio do céu escuro,

Anunciando o futuro,

Entre nuvens, ao surgir!...

É a criança que aparece

Por lírio na tempestade

-Deus buscando a humanidade,

Na construção do porvir.

Aspiração torturada

Nas urzes do sofrimento,

Flor lançada à noite e ao vento,

Ternura em tempo de dor...

Uma criança que chora,

Sozinha e desprotegida,

Com toda a força da vida

É o mundo pedindo amor.

Coração ao desamparo,

Na mágoa em que se consome,

Ave sem ninho e sem nome

É um anjo em penúria atroz;

Um anjo que roga apenas

Proteção em que se guarde,

Para que possa, mais tarde,

Amar e servir por nós.

Companheiros da Bondade,

Ante essa flor que mendiga

Carinho de voz amiga,

Entendei e auxiliai!

Tendes em cada criança

Que em vosso apoio se arrime

Uma esperança sublime

Nascida de nosso Pai.

Bendita a mão que levanta

O socorro, o lar, a escola;

Que afaga, serve e consola

Os filhos da provação;

Quem abraça os pequeninos,

No amparo que lhes descerra,

Está lavando na Terra

O campo da redenção.

Irene de Souza Pinto

46

PACIÊNCIA

Paciência - o olhar de mãe

Velando o filho doente

Que piora, de repente,

Gemendo sem proteção;

Nem ela, porém, nem ele

Mostram qualquer rebeldia,

Eis que a dor os associa

Em fervorosa oração.

Paciência - o lar singelo,

A mesa que se descobre...

Ante a sopa humilde e pobre,

A família se bendiz...

Depois, conversa e proveito

Ao clarão da vela acesa,

Demonstrando que a pobreza

Também pode ser feliz.

Paciência - o dom da calma,

Perante o verbo agressivo,

Mantendo o trabalho ativo,

Sempre a esquecer-se no bem;

É o silêncio generoso

Do coração que se faz

O mensageiro da paz

Que não perturba a ninguém.

Paciência - o entendimento

Da pessoa que irradia

Tranqüilidade e alegria,

Tolerância, amor e luz...

Paciência é a fé que age,

Servindo, embora a sofrer,

Agradecendo o dever

De cooperar com Jesus.

Iveta Ribeiro

47

REENCARNAÇÃO

Recordo-te o perfil e a nobreza do porte:

Empinando o corcel por esquecidas landas,

Incendeias, invades, feres e comandas,

Onde passas é o crime, a dor, o sangue e a morte...

A vocação do horror ninguém há que te corte,

Queres terras mais terras, a fim de que te expandas,

No intuito de arrasar palácios e locandas,

Mas tombas ao punhal de um príncipe mais forte.

Vi-te a gemer no Além, sob o aguilhão das trevas,

E hoje te achei a chorar nas cruzes que ainda levas,

Vivo-morto sofrendo incessante agonia.

No entanto, louva o fel das tuas grandes provas,

Pés sangrando em caminho; nelas te renovas

Para alcançar de novo a luz de Novo Dia!...

Epiphanio Leite