Caro amigo
Sua colaboração nas obras assistenciais é muito importante; adquirindo um livro espírita já estarás ajudando. Por isso sem você tem condições de comprá-lo faça-o.
Que Jesus o abençoe.
Muita Paz
ASSEMBLÉIA DE LUZ
"As entidades espirituais realizam reuniões específicas, em ocasiões determinadas, a fim
de adotarem serviços ou decisões?"
Esta pergunta é motivo para grande número de consultas, formuladas por amigos ainda
vinculados à vida física, e, com ligeira notícia, aqui registrada, esperamos resumir as
respostas que devemos aos companheiros em estágio educativo na Terra.
* * *
Deliberando organizar o presente livro, vários poetas se agruparam em vasto salão de
instituto cultural de nosso plano de vivência comum para troca de idéias e consultas
recíprocas.
Os vates reunidos — cada um por sua vez — liam para os companheiros as produções já
elaboradas por eles mesmos, e o silêncio do recinto se povoava de luz, que se coloria de
tons diversos.
Ora predominava o lilás, ora o róseo, e de outras vezes sobressaíam o verde e o azul a
tingirem o ambiente.
Ser-nos-á permitido dizer que nos achávamos defrontados por verdadeira festa de
kirliangrafias.
* * *
Fomos observar o que se passava e notamos tanta unção e tantos valores mentais
concentrados durante a leitura que se efetuava, enriquecida pela emoção dos
circunstantes, que nos obrigamos a reconhecer que ali estava um grande conjunto de
inteligências, cujas auras se punham ã nossa mostra, suscitando a mudança das cores
que ali predominavam com alternativas que variavam com o tempo da leitura,
profundamente sentida, de cada um.
* * *
Temos aqui o livro nascido desse simpósio de corações devotados ao Belo, por resposta
aos companheiros que nos endereçam indagações acerca de reuniões na Vida Maior.
E, homenageando os poetas que nos deram a conhecer, de modo mais intenso, o valor
das mentes unidas com objetivos de elevação, titulamos o presente volume por
"Assembléia de Luz".
- Emmanuel –
Uberaba, 29 de Março de 1988
4
ESPERANÇA
Repara a luz da esperança
Sempre viva, sempre acesa,
Fulgindo sem descansar
Na bênção da Natureza.
A terra aguarda a semente
E a semente a floração.
Para a vitória do fruto
Em graça, beleza e pão.
O ninho da tempestade,
Ante a fúria que o balança,
Espera, silencioso,
Que o céu retorne à bonança,
Pedras aguardam buril
Para brilharem ditosas,
E o charco espera socorro
Para esmaltar-se de rosas.
O inverno rígido e triste,
Embora a engelhar-se, espera
O sol quente e generoso
Que virá na primavera.
Assim, também no caminho,
Se o pó da mágoa te alcança,
Não te mergulhes na queixa,
Nem percas a confiança.
Há vozes da experiência
Na dor que te dilacera...
Diz a vida: "Ama e confia!"
Diz o tempo: “Espera, espera”.
"Para quem cala Deus fala",
Ensina velho rifão.
Espera com Deus, que o tempo
É o mestre do coração.
Casemiro Cunha
5
DESTINO E PENSAMENTO
Eis o princípio ideal
De agir com calma e com zelo:
Não nos basta ver o mal,
É preciso compreendê-lo.
Álvaro Martins
Sem alarme e sem reclamos,
O destino, em qualquer crença,
É tudo quanto formamos
De tudo quanto se pensa.
Lourenço Prado
Clamando por diretrizes,
Vemos, por todos os lados,
Os que anseiam ser felizes
Mantendo os braços cruzados.
Sylvio Fontoura
Nunca reproves ninguém.
Idéia é fala sem voz.
A gente vê no vizinho
Aquilo que vive em nós.
Pedro Silva
Pensamento que se irrite
Expressa, em linhas gerais,
Uma força sem limite
Buscando forças iguais.
Múcio Teixeira
Nas lutas do dia-a-dia,
Na ação, no lar e no afeto,
O segredo da alegria
É o pensamento correto.
Jovino Guedes
6
Não há quem caminhe a sós,
Trabalha, serve e perdoa,
Pois estamos todos nós
Dentro da mesma canoa.
Jair Presente
Eis que a fé nos elucida,
Bradando em seus estatutos:
Do que semeias na vida
Tens na morte os próprios frutos.
Bóris Freire
Foi sempre vaga e enfermiça
A idéia de João Moleza;
Se escapava da preguiça,
Descambava na tristeza.
Cornélio Pires
Ensinamento sabido:
Destino é ato e proposta.
A idéia faz o pedido,
O tempo traz a resposta.
Marcelo Gama
7
ASSUNTOS DIVERSOS
Mentira em vários extremos,
Do homem rico ao mais pobre,
No mundo é sempre o que vemos
Nas juras que a Terra cobre.
Clovis Amorim
Não tenhas medo de mim,
Porque passei pela morte;
Nosso amor puro e sem fim
Não há lâmina que corte.
Livio Barreto
Alma que busque manter
Lealdade na afeição,
Coloque o próprio dever
Por dentro do coração.
Etôris Freire
Se a notar mágoas te empenhas,
Não é preciso esconder;
Escreve as queixas que tenhas
Na praia, perto das ondas,
Júlio Diniz
Ante a dor que me esfarrapa,
Oculto o meu desalinho,
Fonte que nasce na lapa
Não se mostra no caminho.
Natal Machado
Digo aos homens e às mulheres
Este rifão sem receios:
Não brinques onde estiveres
Com sentimentos alheios.
Jovino Guedes
8
Esforça-te por vencer
As iras em que te arrasas,
Ninguém consegue viver
Entre paredes de brasas.
Lulú Parola
Trata a todos por irmãos,
Usa o verbo bem composto,
O sorriso de bondade
É um arco-íris no rosto.
Meimei
Nesta noite, tenho flores
Feitas de amor imortal,
Trazendo o nosso carinho
Aos irmãos de Portugal.
Auta de Souza
9
RESPOSTA DE AMIGO
Queres saber no Evangelho
Como agir, como acertar...
A indicação é servir
Sem nunca desanimar.
Espinhos, pedras, ofensas
Com que te busquem marcar..,
Perdoa constantemente,
Sem nunca desanimar.
Procuras novo horizonte
Para a harmonia no lar...
Cultiva a benevolência
Sem nunca desanimar.
Desencantos e amarguras
Da senda particular,
Espera melhores dias
Sem nunca desanimar.
Sucumbiste à tentação
No pó da sombra vulgar...
Ergue-te, luta e confia
Sem nunca desanimar.
Suspiras por afeições
Viver, produzir, amar...
Faze o bem, somente o bem,
Sem nunca desanimar.
Anseias trazer a vida
Repleta de bem-estar...
Cumpre o dever que assumiste
Sem nunca desanimar.
Se sonhas vencer no mundo,
Ascender, edificar...
Atende às lições do Cristo,
Sem nunca desanimar.
Casemiro Cunha
10
FALANDO AO CORAÇÃO
Coração fatigado, enfermo e aflito
Na noite espessa que te envolve a estrada,
Contempla a imensa abóbada estrelada,
Cintilando na glória do infinito!...
Emudece a amargura de teu grito
E, ante as dores da longa caminhada,
Busca o fulgor distante da alvorada
E sorri para o amor puro e bendito.
Segue olvidando pântanos e espinhos,
Pedras, nuvens e serros escarninhos,
Sem que o fel de teu pranto sobrenade...
E, sobranceiro à treva que te espia,
Chegarás soluçando de alegria
Ao Divino País da Eternidade.
Cruz e Souza
11
NORMA DA VIDA
Sinto-te o coração dorido em prece
E perguntas, em pranto, alma querida e boa:
- "Como guardar a fé, sem que a prova nos doa
Nos recessos do ser?
Uma norma de paz haverá sobre a Terra,
Que consiga sanar as chagas da alma triste?"
Sem pretensão, respondo que ela existe:
-Trabalhar e esquecer.
A própria Natureza é um livro aberto.
Recorda o tronco antigo e a tempestade;
Desçam raios do céu, a nuvem brade,
Sob a crise da noite a estremecer,
Ei-lo, porém, ereto e firme, agüentando a tormenta...
Quebra-se-lhe quase toda a ramaria,
Ele guarda, no entanto, as instruções da vida:
-Trabalhar e esquecer.
Vejo a terra humilhada na lavoura,
Ferida e massacrada
Ao peso do trator e entre golpes de enxada
Tem nos vulcões rugindo o seu bravo gemer...
Mas, mesmo assim, produz o pão do mundo,
Injuriada e revolvida
Atende a ordenação que recebe da vida:
-Trabalhar e esquecer.
O fio d'àgua que nasceu na serra,
Pouco a pouco se fez amplo regato,
Percorrendo quilômetros de mato,
A correr e a correr...
Dessedentando pombos e serpentes,
Sofre a baba do lobo que o domina
E segue para o mar, ante a norma divina:
-Trabalhar e esquecer!...
Assim também, alma querida e boa,
Se carregas contigo farpas de amargura,
Desencanto, tristeza, desventura,
Chora, mas faze o bem - nosso alto dever...
Quanto às pedras e empeços do caminho,
Desengano e aflição, mágoa e mudança,
Olvida!... E segue as vozes da esperança:
-Trabalhar e esquecer!...
Maria Dolores
12
ANTEVISÃO
Um dia chegará, de segundo a segundo,
A vitória imortal!...Tiranias ultrizes
Dobrarão para sempre as trágicas cervizes,
Ante o reino do amor a espraiar-se, fecundo!
A impiedade revel, o ódio a rir-se iracundo,
A usura de Harpagão e o gládio de Cambises
Serão rostos crestais de velhas cicatrizes,
Temerárias lições no semblante do mundo!
Não mais fome ou nudez, o arado, a escola e o malho
Entoarão sobre a Terra as canções do trabalho
Em trompas e clarins de concerto bendito!
E os homens, céus além, ao tato incontroverso,
Descobrirão, por fim, nos portais do Universo,
A bússola de Deus nos portais do infinito!
Alceu Wamosy
13
RESSURREIÇÃO
Triste viajante da floresta escura,
Tateando na estrada erma e sombria,
Alcancei a aflição do último dia,
Esmagado na sombra da amargura.,.
Mas, além do favor da sepultura,
Eis que a paz novamente me sorria...
E, ave exalçando a graça da alegria,
Embriaga-me a luz vibrante e pura!
Glória às dores da vida transitória!...
Não traduzo o meu grito de vitória,
Por mais que a minha fé se estenda e brade;
Cego que torna a ver, além do mundo,
Canto somente a luz de que me inundo,
Nos caminhos de sol da eternidade.
Leôncio Correia
14
A CHAMA DIVINA
Na escuridão hostil da primeira caverna,
Enquanto o homem larval grita, sonha e tateia,
Deus acende na furna humílima candeia
Sobre simples sinais da natureza externa.
A princípio é clarão de pálida lanterna,
Frágil, treme, vacila, ondula e bruxuleia;
Depois, é tocha imensa a crepitar sem peia,
Descortinando ao mundo a Majestade Eterna!
Facho excelso e imortal, desde então se fez guia
Da civilização que fulge e se irradia
Em sublime esplendor flamífero e disperso...
E essa Chama Divina é o livro soberano,
Hífen de sol, ligando o entendimento Humano
À grandeza da Vida e à Glória do Universo.
Olavo Bilac
15
ROGATIVA NO TÚMULO
Amados, rogo a Deus vos compense a ternura
Que me ofertais na campa em marmóreo jardim,
A capela de adorno, as cruzes de marfim,
O abrigo de milhões que os restos me enclausura...
Entretanto, atendei!... Levai de sobre mim
A riqueza de pedra e as jóias de escultura,
Transformai-as em pão na vereda insegura
Da penúria que vejo agora de onde vim!...
Peço a cova sem luxo, um recanto sem palmas.
Em memória do amor que funde as nossas almas,
Não me façais lembrar o orgulho triste e vão.
Mas aceito, feliz, as flores que me destes
E as preces de saudade, à sombra dos ciprestes,
Que me trazem consolo e vida ao coração,
R. de Carvalho
16
DOR
Vi a dor caminhando em negra estrada,
Qual megera da sombra, em noite escura,
E perguntei, rolado de amargura:
"Por que nasceste, bruxa desvairada?"
"Por que ostentas a espada estranha e dura,
Sobre o seio da vida atormentada,
Reduzindo à miséria, cinza e nada
Todo o sonho da paz e da ventura?"
Mas a Dor respondeu: "Cala-te, amigo!
Na torturada senda em que prossigo,
O veneno do mal morre infecundo.
Sem meu gládio que salva, pouco a pouco
O homem padeceria cego e louco
Em tenebrosos cárceres do mundo!"
Anthero de Quental
17
CRÊ
Há na crença uma luz radiosa e pura,
Que transfigura os prantos em prazeres,
Que transforma os amargos padeceres
Em momentos de mística ventura.
Confia, espera e crê. Quando sofreres,
Sob os guantes da ríspida amargura,
Nas tormentas acerbas dos deveres
Esquecerás a dor e a desventura.
É que, em meio das mágoas mais atrozes,
Sentirás dentro em ti estranhas vozes
Repletas de doçura indefinida:
São os seres ditosos, superiores,
Que nos impelem a nós, os sofredores,
Aos luminosos planos da outra vida.
Anthero de Quental
18
QUEM?! ...
Estrelas, quem vos fez por deslumbrante frota
De excelsos bergantins em chamas de ouro e prata?
Céus, quem nos desdobrou, por milênios sem data,
Nos distritos sem fim da vastidão remota?!...
Luzes da imensidão, quem vos alenta e dota
De celeste esplendor e força intimorata?
Mares, quem vos mantém?... Fontes, quem vos desata?
Aves, quem vos compôs a cantiga devota?
Flores, quem vos desvela a doce maravilha?
Troncos, quem vos criou?... Pedras, quem vos empilha
Dando ao mundo, no espaço, apoio incontroverso?!
...E eis que serena voz, sem que se saiba de onde,
Do sol ao verme canta, estremece e responde, - Deus!...
Tudo vem de Deus, na pompa do Universo!...
Tobias Barreto
19
PROMETEU
"Sou médium" - explicou Juquinha Prado
Ao guia da sessão em Passadiço.
“Que fazer, meu irmão? Que há com isso?
Se o meu caminho é sempre atribulado?"
O guia respondeu incorporado:
"Filho, mediunidade é mais serviço
E mais estudo para o compromisso
De viver em maior aprendizado!...
Venha servir!...
Quem serve avança e esquece..."
O moço agradeceu, pondo-se em prece,
E prometeu voltar de modo urgente...
Voltaria do sítio em Serra Brava,
Mas, do grupo fraterno que buscava,
Ninguém mais viu Juquinha, frente a frente!...
Cornélio Pires
20
RENASCENÇA DE LUZ
Além da grande noite, fria e densa,
Da negação que ruge, desvairada,
Aparece risonha madrugada,
Em que ressurge a Terra, ao sol da crença.
O Espiritismo é a Nova Renascença
Da fé cristã, sublime e deslumbrada,
É a vitória da vida sobre o nada
E a glória universal, fulgindo imensa...
Trabalhemos, irmãos!...É novo dia.
Espalhemos na Terra erma e sombria
Nosso ideal de luz, santo e fecundo;
E brilharão, depois da treva humana,
Uma só fé augusta e soberana,
Um só rebanho e um só Pastor no mundo.
João de Deus
21
REPARAÇÃO
"Não me apareças mais!..." - disse ao moço tristonho
A jovem recoberta em jóias de rainha.
E, ao vê-lo cambalear na tosse que os detinha,
Gritou: "Achei agora o rapaz do meu sonho!,.."
Clamou o servidor: "Disseste que eras minha!...
Meu amor aos teus pés novamente deponho,
E por ti morrerei no abismo que transponho..."
E largou-se a gemer do portal que o sustinha!...
Ela casa-se e brilha... Acredita que esquece...
Mas, embora a fortuna, apaga-se, envelhece,
Doente, sofre, chora e morre pouco a pouco!...
No Além quer amparar o antigo amor suicida,
Renasce... E fez-se mãe, entre as pedras da vida,
E hoje carrega ao colo um filho cego e louco!...
Valentim Magalhães
22
REMÉDIO DIFÍCIL
"Socorro, irmão!... Cansei de andar errado..
“Tudo meu desacerta...” - assim pedia
O Adão Bicalho a irmão José Maria,
Numa sessão do Centro de Aterrado.
E prosseguiu: "Estou desesperado,
Preciso apoio contra a bruxaria,
Vou ao doutor e nada me alivia,
A coruja do azar vive a meu lado..."
O guia respondeu: "Irmão Bicalho,
O remédio é trabalho e mais trabalho
Para sanar as aflições que levas!..."
Mas Bicalho gritou, rude e vermelho:
"Estou pedindo auxílio e não conselho.
Sai já daqui, espírito das trevas!..."
Cornélio Pires
23
REJEIÇÃO
Veio à sessão Nhá Bela da Queimada,
Viúva de NhôChico do Pilão.
Rosava dele a comunicação,
E chorava abatida, inconformada...
A petição é sempre renovada,
Noite a noite, Nhá Bela é só paixão,
Quer palavras do esposo...Tudo em vão,
A viúva mais triste, está cansada.,.
Certa noite, eis que o morto se revela...
vem ao leito da esposa e diz:"Nhá Bela,
Minha santa, mais fé! Não te esqueci!,."
Mas Nhá Bela, aterrada, cai no escuro
E grita: "Vai, Nhô Chico! Eu te esconjuro,
Vai baixar lá no Centro! Sai daqui!.,."
Cornélio Pires
24
NOTA ÍNTIMA
Procuras por segurança
Na luta de cada dia...
Se queres refúgio certo,
Trabalha, serve, confia.
Encontras dificuldades,
Anseias por melhoria;
Em qualquer parte onde estejas,
Trabalha, serve, confia.
Carregas fardo pesado
De angústia e melancolia...
Se buscas libertação,
Trabalha, serve, confia.
Padeces em solidão
Por falta de companhia?
Socorre as dores alheias,
Trabalha, serve, confia.
Ressentimento, azedume,
Tristeza, desarmonia...
Esquece o mal, faze o bem,
Trabalha, serve, confia.
O próprio Deus, por leis justas,
Na Eterna Sabedoria,
Agora e sempre, com todos,
Trabalha, serve, confia.
Casimiro Cunha
25
SIMPLIFICA
Clamas que o tempo está curto;
Contudo, o tempo replica:
"Não me gastes sem proveito,
Simplifica, simplifica."
É muita conta a buscar-te..
Armazém, loja, botica...
Aprende a viver com pouco,
Simplifica, simplifica.
Incompreensões, chicotadas?
Calúnia, miséria, trica?
Não carregues fardo inútil,
Simplifica, simplifica
Encontras no próprio lar
Parente que fere e implica?
Desculpa sem reclamar,
Simplifica, simplifica.
Se alguém te injuria em rosto,
Se te espanca ou sacrifica,
Olvida a loucura e segue,
Simplifica, simplifica.
Recebes dos mais amados
Ofensa que não se explica?
Esquece a lama da estrada,
Simplifica, simplifica.
26
Alegas duro cansaço,
Queres casa imensa e rica;
Foge disso enquanto é tempo,
Simplifica, simplifica.
Crês amparar a família
Pelo vintém que se estica...
Excesso cria ambição.
Simplifica, simplifica.
Dizes que o mundo é de pedra,
Que as provas chegam em bica;
Não deites limão nos olhos,
Simplifica, simplifica.
Recorres ao Mestre em pranto
Na luta que te complica
E Jesus pede em silêncio:
Simplifica, simplifica.
Casimiro Cunha
27
OURO
Todo o ouro dos bancos
Pode nutrir, um dia, a bênção do trabalho.
Todo o ouro guardado
Nos altares dos templos
É riqueza da fé
Que o tempo transfigura.
Todo o ouro das jóias
Que esplende nos salões
É láurea passageira
Em louvor à ilusão.
O ouro dos museus,
A derramar-se, estanque,
É ornato da morte
Para a festa da cinza.
Todo o ouro das minas
É promessa de pão,
E o ouro da moeda
Que auxilia e circula
É sangue do progresso.
Mas apenas o ouro
Que Gastas apagando
As aflições dos outros,
Acendendo sorrisos
Em mascaras de pranto,
É o ouro da alegria
Nos tesouros de amor
Que acumulas no Céu.
Rodrigues de Abreu
28
NOTÍCIAS DA MORTE
Peço aqui a cada um
Que, por favor, me suporte,
Mas vários amigos mandam
Que eu escreva sobre a morte.
Não sei o porquê da escolha,
Já que não sou literato,
Verso que eu possa compor
Recorda uma flor do mato.
Antigamente julguei
Que a morte fosse a visão
De uma bruxa escaveirada
Com grande foice na mão.
Agora que atravessei
A terra-de-toda-gente,
Posso falar de cadeira
Que ela é muito diferente
Ninguém escapa na Terra
Às influências da dita,
Ela chega para todos,
Mas pouca gente acredita.
Quando não surge de estalo,
Vem vindo de passo em passo,
Começa por uma dor,
Uma tristeza, um cansaço...
Quando desponta, de início,
Pouco a pouco, ela reclama
Remédio, exame, cuidado,
Silêncio, repouso e cama.
Se o Céu envia uma ordem
De suspender a sentença,
Ela deixa a Medicina
Afugentar a doença.
29
Mas quando tem carta branca
Para trabalho, a preceito,
Ela carrega a pessoa
Agindo de qualquer jeito.
É um quadro triste de luta...
Muita sente, nessa hora,
Pede apoio e proteção
A Deus e Nossa Senhora.
Uns gritam: "Quero ficar,
Tenho meus filhos pequenos...
Socorro, meu Deus, preciso
De mais tempo, mais ou menos.,"
Outros suplicam: "Doutor,
Eu pago o que possa ter,
Tome qualquer providência,
Mas não me deixe morrer.,"
Contudo, se o Céu ordena,
De nada a Morte se espanta,
Ciência fica no estudo,
Remédio não adianta.
Então se estira a pessoa
Num sono esquisito e enorme,
lembrando nesse descanso
Uma lagarta que dorme.
Depois, recorda um casulo
Na caixa, em forma de cocho,
E o corpo sem movimento
Tome vela e pano roxo.
Logo em seguida, a pessoa
Acorda e entra em ação,
Copiando a borboleta
Que deixa a casca no chão.
30
Aí, é que o carro pega:
Se a consciência está boa,
É muito encontro feliz
E muita luz na pessoa. .
Mas, se apenas sombra e culpa
É o que a mente em si carrega,
Parece um doente aos gritos,
Brincando de cabra cega,
Aqui termino a conversa.
Nada mais a comentar.
Da morte já disse tudo
O que eu podia falar.
Toda criatura na Terra,
Cada qual por sua vez,
Recebe, depois da morte,
Somente a vida que fez.
Leandro Gomes de Barros
31
CONFISSÃO DE CANTADOR
Sou convidado a dizer
Com toda a satisfação
Da paz que o povo encontrava
Na alegria do sertão.
Olhando a Terra de hoje
Com tanto aviso de lei,
Não sei se o mundo mudou
Ou se foi eu que mudei.
Conversa da noite antiga
Era encharcada de lua,
Mas hoje o tempo da noite
É a buzinança de rua.
A gente via na estrada
Céu bonito e flor de cheiro.
Agora, é gente apressada
Na procura do dinheiro.
Menino quando nascia
Vinha em bacia enfeitada.
Agora, é barriga aberta
E a criança numerada.
Uma cabocla passante,
Se alguém atrevia a olhar,
Via a morena vestida
Da cabeça ao calcanhar.
Hoje em dia, moça fina,
Sem diferença de hora,
Anda sem medo na rua,
Mostrando as pernas de fora.
Há dias, olhando o mar
De um monte de samambaia,
Perguntei qual era a tribo
Que estava em banho na praia.
Quis ver o quadro das ondas
Na dança de "traz e leva",
Mas fiquei de pensamento
No tempo de Adão e Eva.
32
Vi tanto gajo nadando
E tanta moça faceira
Que ali se a serpente andasse
Era simples brincadeira.
Quando vi a tentação
Na cabeça como eu pus,
Rezei o "credo" três vezes
E fiz o sinal da cruz.
Renovei o pensamento,
Levei meus olhos ao céu,
Depois, voltei para o campo,
Rezando no mataréu.
Mesa de vida moderna
É papo de gente rica,
Pouca gente sabe o gosto
Da pamonha e da canjica.
Das frutas de minha terra,
Quantas delas conhecia!...
Ata, acari, genipapo,
Axixá e melancia.
Manga doce vinha aos montes
Descendo de muro e rampa;
Hoje é fruta embalsamada
Em muita lata de tampa.
O santo quando saía
Em procissão benfazeja,
Todo o povo ajoelhava
Dizendo: "bendito seja"!.
Quem fala hoje na fé
A fim de salvar ateus
Já sabe que em qualquer praça
É pouca gente com Deus.
Negocião de hoje em dia,
Mostrando riqueza aberta,
É conversa clandestina,
Com ladroagem na certa.
Catador tem seu limite,
Falar muito não me cabe,
Se a terra ainda tem conserto
Só Deus, no Céu é que sabe.
Leandro Gomes de Barros
33
CANTORIA DE ADOLESCENTE
Muito difícil expor
Este assunto diferente;
Mas os mentores insistem,
Não posso ser renitente.
Na Terra de hoje é grande
A luta do adolescente.
Há muitas acusações
Em torno da petizada,
Muitos lhe notam abusos
No lar, na rua, na estrada,
E eis que um nome se lhe atira:
"Juventude transviada".
De fato, a muitos excessos
A gente verde se lança,
Mas não se pode arredar
De nossa própria lembrança
Que a puberdade revela
O que colheu em criança.
Antigamente se viam
Meninas e rapazolas
Depois do trabalho em casa,
Entre petecas e bolas,
Livros, cadernos e lousas,
Lições, deveres, escolas.
Aos sábados e domingos,
Sempre na trilha dos pais,
Tinham passeios no campo,
Alguns folguedos a mais,
Visitas às goiabeiras,
Distrações nos laranjais.
Entretanto, atualmente,
Pelo "sim" ou pelo "não"
Em qualquer parte da Terra,
É grande a transformação;
Desde cedo, a criançada
Está na televisão.
34
Os pequeninos atentos,
Seja na rua ou no lar,
Registram quadros tremendos,
Assuntos de arrepiar,
Assaltos, crimes e furtos,
E tocam a perguntar.,,
Querem saber sobre sexo,
Em todo e qualquer artigo;
Muitos adultos se ausentam,
Temendo entrar em perigo...
Papai diz: "Não tenho tempo"
Diz mamãe: "Depois eu digo".
Os pais, coitados, nem contam
As horas que o dia tem,
Necessitam trabalhar
No ritmo de vaivém,
Precisam pagar colégio,
Farmácia, gás, armazém...
Os meninos vão à rua
Para o que der e vier;
Procuram experiência,
Interpelando a qualquer;
Cegonhas e carochinhas
São coisas que ninguém quer.
Nos fatos mais escabrosos,
A meninada se agüenta,
A turma toda se gasta
Na atividade violenta;
Aos doze anos, já sabe
O que aprendi nos quarenta.
Eu sei que há milhões de jovens
Honrando o próprio dever,
Falo aqui, unicamente,
Dos que só querem prazer
E chegam aos vinte anos
Pedindo para morrer.
Esses verdes companheiros
Sem controles e sem contas
35
Parecem fazer da vida
Uma vela acesa, às tontas,
A consumir-se apressada
No fogo de duas pontas.
Qual a Terra de amanhã?
Pergunto comigo a sós.
Responda quem tenha vez
E muito peito na voz;
Só peço a Deus que nos guarde
Com pena de todos nós.
Leandro Gomes de Barros
36
UM CERTO DEVOTO
Um homem que se entregara à devoção
Havia muito tempo andava em ansiosa espera,
Queria ver Jesus.
Por isso, quase sempre, em profunda oração,
Vivia em súplica sincera...
Até que, certa noite,
Viu, reverente, o Mestre
Que o abraçava e prometia,
Com palavras de aviso terno e exato,
Visitá-lo no dia imediato.
O devoto acordou... Amanhecia...
Antes que o Sol surgisse, inteiramente,
Apresentando a Terra em novas cores,
O amigo de Jesus, agindo como em festa,
Varre a casa modesta,
Depois, ei-lo a enfeitá-la,
Desde a pequena sala
Ao fogão da cozinha limpa e estreita,
Com dezenas de flores,
Estampando na face a alegria perfeita.
Logo pela manhã,
Bateu-lhe à porta um pobre em roupa esfarrapada,
Mostrando pés e mãos em estranhas feridas,
A rogar-lhe uns minutos de pousada,
Através de expressões enternecidas,
Alegando sofrer tribulações
De comprida jornada.
Mas o devoto respondeu:
-Amigo, segue adiante,
O seu caso é comum,
Espero por alguém muito importante
Não tenho tempo algum.
O mendigo saiu, cambaleante,
Depois de agradecer.
37
Em seguida apareceu
Triste rapaz errante,
Demonstrando, no todo, traço a traço,
Febre, penúria e dor, indigência e cansaço,
Suplicando socorro ao devoto feliz...
Ele, porém, lhe diz;
- Põe-te à frente, rapaz, não tenho neste mundo,
A obrigação de abrir a porta de meu lar
A qualquer vagabundo...
Logo após, um menino pobre e triste
Surgiu descalço e só,
Corpo todo a encobrir-se sob o pó
Das veredas difíceis que trilhara.,.
Pedia pão e abrigo,
Mas falou o devoto em voz segura e clara:
- Hoje, espero um amigo,
Não posso recolhê-lo,
Peça pão ao vizinho
E segue o teu caminho...
Aliás, para mim, é simples desmazelo
Dos lares sem amor
Que deixam a criança, um garoto qualquer,
Pedir, pedir, pedir e andar como quiser
Para depois fazer-se malfeitor...
Mais tarde, ao fim do dia,
Um velhinho doente, arrimado a um bordão,
Respeitoso, rogava compaixão,
Receava dormir exposto à noite fria
E sair, ao relento,
Aumentando a fadiga e o sofrimento.
O devoto, no entanto, informou da janela:
-Não posso dar-te asilo,
Não bata à minha porta nem te escores nela...
Aguardo alguém; contudo, segue em frente,
Neste mesmo lugar encontrarás mais gente
Que possa agasalhá-lo,
Desculpa-me a recusa,
É um amigo importante esse alguém de quem falo...
Espero que terás leito e pousada
Na primeira pensão, à direita da estrada.
38
O dia terminou, e a noite veio escura,
O devoto chorou, tomado de amargura,
Mas dormiu e sonhou que reencontrava o Cristo.
Assombrado, gritou: - Por que, por que, Senhor,
Não me queres a fé, nem me aceitas o amor?
Preparei minha casa com cuidado
A fim de demonstrar-te todo o meu carinho,
E não quiseste vir ao meu recanto...
- Como não? - disse o Mestre em doce explicação
- Hoje, por quatro vezes fui
A tua casa, em vão.
Por muito que te achasse, eu me via sozinho..
Finda uma pausa, o Mestre esclareceu:
- Recorda, amigo meu,
O mendigo, o rapaz, o menino e o velhinho...
Sei que teu coração não percebeu,
Mas nos quatro viajores do caminho
Estava eu
A estender-te clarão renovador
E te buscar em meu imenso amor.
Nisso, o devoto em pranto
Voltou ao corpo e veio a despertar...
E, relembrando o ensino, trêmulo de espanto,
Começou a pensar...
Maria Dolores
39
INTELIGÊNCIA E AMOR
Agradeço, alma irmã, a indução à bondade
Com que a tua palavra nos alcança,
Porque falas de amor, sem que se nos degrade
A força da esperança.
Quem se exprime, exaltando o desalento,
Quem somente à amargura se reporta
Vive de raciocínio desatento,
Na sombra que perturba ou desconforta.
Muitos irmãos conhecem lâminas atrozes,
Projéteis e instrumentos de tortura
E a tirania das sinistras vozes
Com que o delito se emoldura.
Mas não sabem que há gestos escarninhos
E discussões lembrando vendavais,
Afirmações que ferem qual espinhos
E frases semelhantes a punhais.
Quanta desolação por fala sem respeito
Esconde-se no mundo, onde a treva desabe!...
Quantas acusações sem base e sem direito?
Quantas chagas ocultas? Ninguém sabe.
Verbo que eleva, ampara, ama e elucida
Em quaisquer circunstâncias a transpor
É um dom de Deus nos caminhos da vida
E a palavra do bem é música de amor.
Maria Dolores
40
SENDA DE LUZ
Carrega sem revolta a cruz que te aguilhoa
Às pedras e espinheiros da subida!...
Se aceitaste Jesus transfiguraste a vida,
E o suor no madeiro é a luz que te abençoa.
Olha ao redor da senda em que transitas
As criaturas vestidas de embaraços,
Largaram-se da cruz com os próprios braços
E te acenam, de longe, anônimas e aflitas.
Algumas, em te vendo os passos vacilantes,
Zombam de ti com impropérios e insultos,
Conservando, no entanto, os tormentos ocultos
Dos remorsos no fel de lágrimas constantes.
Ouves na retaguarda injúrias, desatinos...
E elevas-te agüentando a cruz pesada,
Demonstrando a humildade aos amigos adultos
E falando de amor aos pequeninos,
Mostras a fé robusta aos homens desatentos...
A viagem é longa, em longos trechos brutos.
Chegas, porém, ao topo, em passos diminutos,
A esquecer-te dos pés doridos e sangrentos...
Do topo para a frente é tudo primavera,
A natureza brilha. É a força de outra luz,
E buscas, Mais Além, o abraço de Jesus,
O Servidor Divino que te espera!...
Maria Dolores
41
TRANSIÇÃO
O mundo, em múltiplas crises
Por muito apoio arrecade,
É um barco na tempestade
Sob vasta escuridão...
A bordo, somente a fé
Não se alarma e nada teme,
Sabendo Jesus no leme,
Conduzindo a embarcação.
Entre os viajores ansiosos
Surgem cruéis desavenças.
Discutem pessoas tensas
Quanto as rotas por buscar...
Amigos ferem amigos,
Ignoram-se parentes,
Todos parecem doentes
Sem coragem de esperar.
Coriscos - sinistras luzes –
Rasgam a hora sombria,
Ruge, em torno, a ventania,
Fazem-se os homens pigmeus.
Não há quem pense nos outros,
A multidão se atropela,
Clamando por bagatela.
Ninguém pergunta por Deus.
Assim é a Terra de hoje,
Em transição desmedida.
É a vida mudando a vida,
Buscando equilíbrio e paz...
Sofres as farpas da sombra
Em tua própria vivência;
Usa a luz da paciência;
Com essa luz, vencerás.
Maria Dolores
42
CARIDADE ESQUECIDA
Compreender!... Atitude
Que se fosse observada
Seria uma luz na estrada
Clareando em derredor...
Infelizmente, no entanto,
Há muita gente esquecida
Dessa luz que ampara a vida,
Fazendo o Mundo Melhor.
O homem que administra
Negou-te certa vantagem;
Não é que perdesse a imagem
Do amigo e do benfeitor;
É que carrega nos ombros
Uma cruz de compromissos,
Deveres, contas, serviços
Que não consegue transpor.
O companheiro que passa
E fugiu à cortesia
Do costumeiro "bom dia"
De modo algum te esqueceu..,
Ele segue ao hospital;
Quer ver, na marcha apressada,
A esposa cirurgiada
Que não sabe se morreu.
A dama que vai de carro,
De olhar triste e contrafeito,
Que não te viu, a preceito,
A fraterna saudação,
Vai buscar antigo chefe,
Embora em desassossego...
O esposo precisa emprego,
A fim de ganhar o pão.
Entender!... Silenciar!...
Ante os apuros da vida
É caridade esquecida,
Em muitas áreas do Bem...
Em louvor dos semelhantes,
Não te queixes, alma boa;
Sorri, ampara, perdoa!...
Não busques julgar ninguém.
Maria Dolores
43
TRIO DA ESPERANÇA
Ah! coração fatigado,
Na aflição que te vigia,
Nunca te percas da fé;
Trabalha, espera, confia.
Por mais lutes, mais avanças
Em triste, espinhosa via...
Não esmoreças, contudo;
Trabalha, espera, confia.
Cada hora te parece
Nova dor que se anuncia...
Não te afundes em revolta;
Trabalha, espera, confia.
Já não sabes o tamanho
Da prova que te assedia;
Mesmo assim, prossegue à frente;
Trabalha, espera, confia.
Encontras, a cada passo,
Desprezo, descortesia...
Desculpa, servindo mais;
Trabalha, espera, confia.
Entre os seres mais amados,
Padeces desarmonia;
Não faltes à paciência;
Trabalha, espera, confia.
Sonhaste calma ventura
E sofres em demasia...
No entanto, aguarda o futuro;
Trabalha, espera, confia.
44
Não temas, nem desesperes,
Toda sombra é fugidia.
O sol brilha, a nuvem passa...
Trabalha, espera, confia.
Para a cura de ansiedade,
Angústia, melancolia,
Usa a receita de sempre:
Trabalha, espera, confia.
Cada manhã, Deus te fala,
Na bênção de novo dia:
- Se queres felicidade,
Trabalha, espera, confia.
Maria Dolores
45
CRIANÇA NOSSO AMOR
(Lembrança aos Tios da Creche do Centro Espírita
Perseverança, em São Paulo, Capital)
Ei-la Alvorada nascente
Em meio do céu escuro,
Anunciando o futuro,
Entre nuvens, ao surgir!...
É a criança que aparece
Por lírio na tempestade
-Deus buscando a humanidade,
Na construção do porvir.
Aspiração torturada
Nas urzes do sofrimento,
Flor lançada à noite e ao vento,
Ternura em tempo de dor...
Uma criança que chora,
Sozinha e desprotegida,
Com toda a força da vida
É o mundo pedindo amor.
Coração ao desamparo,
Na mágoa em que se consome,
Ave sem ninho e sem nome
É um anjo em penúria atroz;
Um anjo que roga apenas
Proteção em que se guarde,
Para que possa, mais tarde,
Amar e servir por nós.
Companheiros da Bondade,
Ante essa flor que mendiga
Carinho de voz amiga,
Entendei e auxiliai!
Tendes em cada criança
Que em vosso apoio se arrime
Uma esperança sublime
Nascida de nosso Pai.
Bendita a mão que levanta
O socorro, o lar, a escola;
Que afaga, serve e consola
Os filhos da provação;
Quem abraça os pequeninos,
No amparo que lhes descerra,
Está lavando na Terra
O campo da redenção.
Irene de Souza Pinto
46
PACIÊNCIA
Paciência - o olhar de mãe
Velando o filho doente
Que piora, de repente,
Gemendo sem proteção;
Nem ela, porém, nem ele
Mostram qualquer rebeldia,
Eis que a dor os associa
Em fervorosa oração.
Paciência - o lar singelo,
A mesa que se descobre...
Ante a sopa humilde e pobre,
A família se bendiz...
Depois, conversa e proveito
Ao clarão da vela acesa,
Demonstrando que a pobreza
Também pode ser feliz.
Paciência - o dom da calma,
Perante o verbo agressivo,
Mantendo o trabalho ativo,
Sempre a esquecer-se no bem;
É o silêncio generoso
Do coração que se faz
O mensageiro da paz
Que não perturba a ninguém.
Paciência - o entendimento
Da pessoa que irradia
Tranqüilidade e alegria,
Tolerância, amor e luz...
Paciência é a fé que age,
Servindo, embora a sofrer,
Agradecendo o dever
De cooperar com Jesus.
Iveta Ribeiro
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REENCARNAÇÃO
Recordo-te o perfil e a nobreza do porte:
Empinando o corcel por esquecidas landas,
Incendeias, invades, feres e comandas,
Onde passas é o crime, a dor, o sangue e a morte...
A vocação do horror ninguém há que te corte,
Queres terras mais terras, a fim de que te expandas,
No intuito de arrasar palácios e locandas,
Mas tombas ao punhal de um príncipe mais forte.
Vi-te a gemer no Além, sob o aguilhão das trevas,
E hoje te achei a chorar nas cruzes que ainda levas,
Vivo-morto sofrendo incessante agonia.
No entanto, louva o fel das tuas grandes provas,
Pés sangrando em caminho; nelas te renovas
Para alcançar de novo a luz de Novo Dia!...
Epiphanio Leite