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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Conversa firma - Francisco Cândido Xavier\Cornélio Pires

Nota do Blog: Apesar de estar integralmente apresentado. Esse livro ainda não está totalmente formatado nesse blog, para uma leitura mais prazerosa.

Conversa firme

Francisco Candido Xavier

Cornélio Pires

Ilustração: Messias

Instituto de difusão espírita -IDEMaio/

1985

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Ficha catalográfica:

Xavier, Francisco Candido,1910 – X 19c Conversa Firme / Francisco Candido

Xavier, Espírito de Cornélio Pires, Prefácio de Emmanuel, Araras, SP , IDE

1985.

Conversa firme

Prezado leitor:

Nosso amigo Cornélio comparece ao encontro conosco neste livro para

o diálogo que ele próprio nomeou como sendo “Conversa Firme”

Companheiro dedicado à verdade e ao amor, cuja palavra se articula em

abençoada luz de compreensão, desejamos que ele seja no contato contigo o

mensageiro de reconforto e bom ânimo, paz e alegria que tem sido para nós. E,

enquanto aprendemos e meditamos com o estimado irmão de sempre,

rogamos ao senhor a todos nos inspire e nos abençoe.

Emmanuel

28/07/1975

1- ASSUNTO DE PAZ

Quer você saber agora

Meu caro Zico Tomás,

Que posso dizer no além,

Quanto ao assunto da paz.

Quantas vezes, meu amigo,

Supúnhamos nós na terra,

Que paz morasse na rede

Da casa branca da serra!

O quintal todo enfeitado

De rosas e margaridas,

O céu azul... As cigarras

Musicando nossas vidas.

O mundo ao longe... Os cavalos

Com montaria a nós dois,

A viola, o cigarrinho

E a mesa farta depois...

As histórias sobre a chuva

O aroma do chão molhado,

A conversinha de sempre,

E os cães dormindo ao lado!...

Relendo as suas palavras,

Tudo me volta à lembrança,,,

Quanta beleza de sonho,

Quanto sonho de criança!...

Sem dúvida, tudo isso,

É paz de preparação,

Memórias e ensinamentos

De apoio à meditação!

A paz que nunca se afasta,

Domínio jamais desfeito,

É aquela que se constrói,

Por dentro do próprio peito.

Hoje anoto esta verdade

Que vejo claro agora!

Segurança verdadeira

Não se conquista por fora!...

Buscando a paz muita gente

Estraga-se, desvaria...

E acaba sempre em mais luta

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Nas lutas de cada dia.

Há quem rogue paz em ouro,

Influência em reboliço,

Sem entender que esses dons

São forças para serviço.

Muitos volvem morro abaixo,

Após a ilusão nos cimos,

Nesses enganos de paz

Quantos fracassos já vimos!

Rogando apenas repouso,

Conhecemos Dona Cissa,

Somente achou moleza

De quem morre na preguiça.

Largou-se de todo encargo

Nhô Tolentino do Avanço,

Pedia paz e mais paz

Depois morreu de descanso.

Neco buscando sossego

Foi residir no Espigão,

Logo após voltou do sítio,

Picado de escorpião.

Saiu da cidade grande

Nhô Marcelino Siqueira,

Buscava a calma num morro,

Caiu de uma ribanceira.

Queria viver tranqüilo,

Nhô Benedito Moraes,

Adoeceu de repente

Porque comia demais.

Fugiu do trabalho e luta

Nosso Antonico da Praça,

Descansou... Ficou mais triste,

Depois tombou na cachaça.

Era feliz trabalhando

Nosso amigo Hilarião

Abandonando as tarefas,

Perdeu-se na obsessão.

Queixando-se de fadiga

Aposentou-se Nhô Bento,

Entretanto morreu logo

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Por falta de movimento.

Nhá Cota entrando em sossego,

Regrava a própria comida,

Em seguida enlouqueceu

De tanto pensar na vida.

Zizina querendo paz

Foi para a Roça da Lebre,

Mas escondida num rancho

Morreu tomada de febre.

Trabalhe quanto puder,

Não largue a enxada do bem,

Serviço ajudando aos outros

Nunca feriu ninguém.

Não caia nesses enganos,

Desses casos que já vi,

Que descanso sem razão

Onde esteja é isso aí.

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2- ASSUNTO DE SALVAÇÃO

Em carta você pergunta,

Meu caro Juca Assunção,

Que posso dizer agora

No assunto de salvação.

Sinceramente, meu caro,

Sua consulta me aperta

Indagação desse naipe

Exige resposta certa.

Acreditava em menino,

De pensamento simplório

Que os mortos encontrariam,

Céu, inferno ou purgatório.

Crianças mortas no berço,

Segundo o mestre Corimbo,

Ficariam resguardadas

Num lugar chamado “limbo”.

Muito mais tarde homem feito,

Fui espírita de fé

Acreditava no Além,

Sem percebê-lo como é...

Agora posso falar

Sem palavra “talvez”,

“Outro mundo” é qualquer mundo

Depois do que já se fez.

A pessoa vai agindo

Consciente ou inconsciente,

Sem o corpo encontra logo

O que carrega na mente.

Nhô Chico do Tatuí

Viveu servindo a Jesus,

Hoje acolhe os sofredores

Em grande mansão de luz.

Dedicou-se ao bem dos outros,

Dona Cocota Clemente,

No Além se vê feliz

Sendo mãe de muita gente.

Você conheceu comigo

Dona Chiquita Rosenda,

Sovina, depois de morta

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Vive agarrada à fazenda.

Desencarnado, o Nhô Jovino

Que viveu de pinga e caça,

É sempre visto onde tenha

Tiro de chumbo e cachaça.

Era agressivo e isolado

Nosso amigo Altino Gama

Depois da morte só pede

Garrafa, silêncio e cama.

Caso triste o que encontrei

Na gulosa Gabriela

Sem corpo só vê à frente

Fogão, quitute e panela.

Trocou a família por pesca

Nosso Nino Peñarol,

Deslanchou do necrotério,

Buscando vara e anzol.

No baralho, foi-se a vida

De Quinquim de Cabreúva,

Hoje só pensa em jogar

Seja no sol ou na chuva

Há dias achei na roça

O avarento João Ribeiro,

Ele agora ajunta pedras

Pensando contar dinheiro.

Salvação? A lei demonstra,

Tanto no Além quanto aqui,

Cada qual vive onde está

Como está dentro de si

Pense no bem, faça o bem,

Não se engane, caro irmão,

Céu, inferno ou purgatório,

Começam no coração.

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3- PENAS DEPOIS DA MORTE

Assunto difícil este,

Meu caro Gino Salerno,

Comentarmos de outra vida

O que existe no inferno.

Em tempos que já se foram,

Eu também pensava assim:

O inferno, depois da morte,

Seria fogo sem fim.

Mais tarde, a luta foi crescendo,

Olvidei o mundo antigo

Mas nunca larguei de todo

De certo modo o castigo

Acreditava que a morte

Depois de nossos fiascos,

Colocasse à nossa frente,

Algemas, troncos, carrascos...

Sofrimentos em verdade,

Não faltam no Mais Além:

Impedimentos, prisões

E adversários do bem.

Espíritos infelizes

Inventam charcos e dores

Criando painel imenso

De “trevas exteriores”

No entanto, por mais abismos

A que a pessoa se lança,

A lei de Deus determina

Que a ninguém falte esperança.

Tal qual sabemos na Terra,

Para além da sepultura,

O que se tem no caminho

É aquilo que se procura.

A culpa é desequilíbrio

Sob impulsos insensatos,

E a mente resguarda ao vivo,

A conta de nossos atos.

O inferno, por isto mesmo,

Seja ele o mais atroz,

É o conflito dos conflitos

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Que surgem dentro de nós.

Cada qual transporta em si

- Do mais crente ao mais ateu,-

O resultado infalível

De tudo quanto escolheu.

Por simples anotações

E ensinamentos gerais,

Recordarei com você

Vários casos infernais.

Você lembra a sovinice

Do fazendeiro Adão Noce,

Desencarnado, agarrou-se

Aos sofrimentos da posse.

Querendo vingar o filho

Enlouqueceu Dona França,

Mas vive depois da morte

Atarracada à vingança.

Morreu pisando nos outros,

Nhô Lino do Lumaréu,

Sem corpo, mora no barro

Mas pensa que está no Céu .

Finou-se atracado à gula

O nosso Antônio Lodi;

Agora, enxerga a comida,

Quer tocá-la, mas não pode.

Foi-se a tóxicos violentos,

Juquita de Dona Altina;

No Além, anda alucinado,

Reclamando cocaína.

De tanto excesso em bebida

Morreu Nhô Nico de Alfafa;

Hoje, vê tudo o que encontra,

Sob a forma de garrafa.

Morreu Nhô Juca, usuário

No Roçado da Moenda;

Mesmo assim, vive ligado

Nas porteiras da fazenda.

Ódio e briga? Escuta esta:

Desencarnado, o João Fava

Foi chamado a proteger

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O genro que detestava.

O assunto é isto, meu caro,

Sem engano e sem “talvez”,

Só se recolhe da morte

A vida que a gente fez.

Céu, inferno e purgatório,

Sejam daí ou daqui,

Cada pessoa carrega

O que buscou para si.

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4- ASSUNTO DE MEDIUNIDADE

Recebi o seu bilhete,

Meu caro Juquita Andrade,

Você quer informações

Em torno à mediunidade.

Diz você: “Fale Cornélio,

Quanto àquilo que pergunto:

O médium já nasce médium

Para tal ou qual assunto?”

“O espírito ao reencarnar,

Vem, por fé, atento a isso,

Tendo rogado do Além

Certo campo de serviço?”

Digo a você, caro irmão,

Tendo raízes na mente,

Mediunidade no mundo

É força de toda gente.

Ser médium, por isso mesmo,

É dom de qualquer pessoa,

Que se aproveita entre nós,

Conforme se aperfeiçoa.

Mas muitos irmãos no Além,

Pedem tarefas dobradas

Às vezes para resgate

Das exigências passadas.

Escolhem mediunidade

Por faixa de apoio e ação,

Procurando melhoria,

Progresso e sublimação.

Suplicam lutas enormes,

Apostolados gigantes,

Privações e sacrifícios

Em favor dos semelhantes.

Rogam empregos de santos,

Em caminhos tentadores,

Estenderão paz e fé

À custa das próprias dores.

Depois, na terra, medindo

Esforços e oposições,

Começam fadiga e queixa,

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Recessos e deserções.

Vejo muitos casos tristes

Que registro, a campo aberto,

Falências e frustrações

Que vejo e anoto de perto.

Era médium Dona Branca,

Renasceu para ajudar,

Mas vendo o serviço à frente

Desistiu de trabalhar.

Desde criança era médium

O nosso amigo Tancredo,

Porque a tarefa aumentasse

O rapaz fugiu por medo.

Desenvolveu-se nas curas,

Nosso amigo Josué,

Notando o serviço grande,

Nosso amigo deu no pé.

Era médium na cidade

A irmã Nicota Rosenda,

Ampliando-se o trabalho,

Mudou-se para a fazenda.

Era médium, trabalhava,

Manoelino de Sofia,

Mas deixou de casa e centro

Ao ganhar na loteria

Pensando em moeda grossa

O médium Joaquim das Dores,

Deixou de servir aos guias

E deu-se aos obsessores.

Era médium dedicado

O amigo Antônio Cascudo,

Mas desertou, alegando

Que precisava de estudo.

Por médium servindo a muitos

Vi Antonita Beirão,

Parou logo, declarando

Que não tinha condição.

E assim o assunto vai indo...

Muito médium vem e vai,

Renasce, volve ao serviço

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Segue e recua, entra e sai...

Mas em Deus, na Criação,

Não há caminho inseguro...

Médiuns do bem, somos todos

Em marcha para o futuro.

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5- ASSUNTO DE INCOMPREENSÃO

Aqui vai minha resposta,

Meu caro Lico Assunção,

Quanto ao que vejo no Além,

No estudo da incompreensão.

O tema, em si, é tão sério

Que em toda e qualquer idade,

A história da incompreensão

É história da humanidade.

Discórdias e dissensões

Em que o ódio se encastela,

E a guerra, - horror de milhões, -

São sombras que vivem nela.

Há quem tome a incompreensão

Por assunto sem valor,

No entanto, vejo-a daqui

Por fluido destruidor.

Nascida da ignorância

Da Vida Espiritual,

É a sombra que se condensa

Gerando a sombra do mal.

Agride, acusa, vergasta,

Separa, fere, suspeita,

E quase sempre se oculta

Por delinqüência perfeita.

Parece um caldo de lodo

Tocado de força extrema;

Nele, as moléstias do orgulho

Proliferam sem problema.

Não é só para a doença

Que essa treva se despacha,

Onde alguém lhe dê guarida,

Vai complicando o que acha.

Você recorda o Antonico:

Vendo a esposa com Porfiro,

Sem entender-lhes a prosa,

Matou a mulher num tiro

Sem saber que Ana ajudava

Ao pai oculto em Lajão,

Géo julgando-se enganado,

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Suicidou-se sem razão.

Entretanto, a incompreensão

Dando força ao que não é,

Opera com mais destreza

Nas grandes obras da fé.

Fundou-se o grupo Fraterno,

Na Fazenda dos Macacos;

Incompreensão deu de cima,

O grupo jogou-se aos cacos.

Era médium das melhores

Dona Liquita Valença,

Porque poucos a entendessem

Largou-se de toda crença.

Era um homem de oração

Nosso Balbino Jece;

Incompreensão veio a ele,

O moço fugiu da prece.

Nobres senhoras fizeram

O Educandário Harmonia;

Incompreensão revelou-se,

A escola acabou num dia.

Era bom médium de curas

O nosso Adalvino Adão

Incompreendido entre amigos,

Perdeu-se na obsessão.

Juca era médium servindo

Numa limpeza sem Jaça;

Recebendo incompreensão,

Derivou-se para a cachaça.

Era apontada em missão

Nossa médium Leodegária;

Incompreensão veio ao grupo,

Apagou-se a missionária.

Lia, médium de cabine,

Produzia voz direta;

Incompreensão discutiu,

A moça ficou pateta.

Escrevia lindos textos

A médium Joana Azevedo;

Encontrando a incompreensão,

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Fugiu do lápis com medo.

Dedicando a vida aos passes,

Era grande o João José;

Escutando a incompreensão,

O rapaz perdeu a fé.

É isto aí, caro irmão...

Por tudo o que tenho visto,

Para curar esta chaga,

Precisamos mais de Cristo.

Só se cura a incompreensão

Pela farmácia do bem,

Formada no amor de Cristo

Que não despreza ninguém.

Dos remédios mais aceitos,

Que não aplicam em vão,

São eles: serviço, paz,

Bondade, apoio, perdão...

Quanto ao mais, tudo se explica,

Neste conceito comum:

Incompreensão sem amor

Arrasa com qualquer um.

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5- ASSUNTO DE DISCIPLINA

Você quer saber de nós,

Meu prezado João Messina,

Como se anota no Além

A questão de disciplina.

Tema difícil, - meu caro, -

Pois disciplina é dever,

Mas isso, enquanto entre os homens,

Não é difícil de saber.

Veja conosco: na Terra,

Sem que a verdade se torça,

O corpo já lembra em si

Uma camisa de força.

O mundo é um quadro formoso:

Mar e céu, fonte e verdura;

Pomares, roças, jardins,

No tempo em rota segura...

Mas, por dentro, em cada canto,

Se o trabalho nos consola,

Embora a luz que nos cerca,

O mundo parece escola.

Se vivermos descuidados,

Deixando as horas em vão,

Surgem testes retardados

E lutas de revisão.

A prova que se recusa

É caminho a desamparo,

Ensinamento esquecido,

Mais a frente custa caro.

As casas lembram colégios

De planos renovadores,

Os habitantes recordam

Alunos e professores.

Todo aquele que se esquece

Do que lhe cabe fazer,

Descamba no prejuízo,

Tem sempre muito a perder.

Lembre Antonico do Prado

Na Fazenda Couro d’Anta:

Morreu sem necessidade

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Com dois bifes na garganta.

Comia sem disciplina,

Nosso bravo Altamirão,

Desencarnou num jantar,

Com pesada congestão.

Renegando tratamento

Depois de uma cirurgia,

Finou-se Joana, comendo

Meio pote de ambrosia.

Almoçando esfomeada,

Lá se foi Nhá Castorinha,

Depois de engolir sem pausa

Nove latas de sardinha.

Abusando de chá quente,

Calinério de Alcabaça,

De xarope contra a gripe,

Mudou-se para a cachaça.

João bebeu pinga com mel

Quando enfermo na restinga,

Já melhor, largou do mel

Mas nunca largou a pinga.

Você recorda a penúria

Do Silorico Machado,

Vivendo sem disciplina,

Faleceu desempregado.

Para tratar de enxaquecas

Medicava-se Enfrozina,

Desrespeitando os remédios,

Arrasou-se em cocaína.

Gastava como ninguém,

Nosso rico Adão Mazola,

Desprezando a disciplina,

Faleceu pedindo esmola.

Por bagatela de rua

Irritava-se Elesbão;

De tanto se enraivecer,

Morreu de uma obsessão.

Lembre, nos quadros da Terra

Que recordamos a dois:

Onde surge a indisciplina,

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Tribulação vem depois...

Não creia que a morte mude

Esse caminho ilusório,

No Além quem não se respeita

É gente de purgatório.

Discipline, caro amigo,

Seu tempo, corpo e função...

Quanto mais ordem na vida,

Mais vida de elevação.

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7 – ARTE E ABUSO

Você nos roga notícias,

Meu caro Arnaldo Gotuzzo,

Sobre arte além da morte,

Depois de tombar no abuso.

Arte, em verdade, é missão,

Que espírito e vida encerra

Construção de inteligência

Das mais nobres que há na terra.

Os artistas, caro amigo,

Nos caminhos onde estão,

São companheiros chamados

À obra de elevação.

Cada um deles no mundo

Deve em tudo andar atento,

Para guardar a limpeza

Na força do pensamento.

Entretanto, - quantos deles!...

Escondem os dons divinos,

Nos antigos espinheiros,

De trevas e desatinos.

No esquecimento corpóreo,

Muitos que a terra não conta,

Se a vaidade os domina

Vão seguindo, de alma tonta.

Mas, na morte, eis que observam

Os fracassos de alto preço

E chovem as petições

Dos cursos de recomeço.

Ruth dançando em aplausos

Enlouqueceu muita gente...

Hoje, ela quer renascer

Carregando um pé doente.

Abusou de baile em bale,

Nosso amigo Estanislau...

Renasceu de pernas duras,

Lembrando pernas de pau.

Nina arrasou alma e corpo,

Pintando murais e telas,

Agora quer vida nova

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Para servir em panelas.

Mentia usando voz linda

Nosso Nicola Maleta...

Encontrei-o reencarnado

Cantando na picareta.

Armênio esculpia pedras,

E endoidava corações

Hoje remove calhaus

Na Fazenda Solimões.

Antônio enfeitiçava

Muita moça em bandolim,

Hoje ele toca cabritos

No morro do Gergelim.

Manequim, fez muito abuso,

Maricota dos Castilhos...

Morreu mas pede outro berço

Quer ser mãe de quinze filhos.

Morreu bordando calúnias

Nosso amigo Gil da Glória,

Hoje, ele quer escrever,

Mas quase não tem memória.

Arte é recurso sublime,

Que se deve respeitar,

Quanto mais dela se abusa

Mais débitos a pagar.

Arte limpa, caro amigo,

Nos lares ou nos museus,

É sempre luz apontando

Para a grandeza de Deus.

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8- ASSUNTO DE BRIGAS

Notas do Além quanto a brigas,

Prezada Tereza Marta,

É aquilo que você pede

No texto de sua carta.

Existe uma briga boa,

É aquela de que provém

A idéia de se fazer

A paz, o progresso, o bem...

Algum de nós tem um plano

Para a vida em derredor,

Surge alguém apresentando

Um plano muito melhor.

Escutam-se bate-bocas,

Pareceres diferentes,

Amarguras momentâneas,

Companheiros descontentes...

Parece uma tempestade...

Toda equipe em convulsão...

Mas, se o bem palpita em todos,

O conflito não foi em vão.

Afirma-se a caridade,

A tolerância aparece,

A humildade acende a luz

No combustível da prece.

Ressurge o clima de amor

Na paz que se lhe consente,

A briga deixa de ser

E o trabalho segue a frente

Esta é a rixa proveitosa

Em que o melhor se detém,

Construindo e restaurando

Sem prejuízo a ninguém.

Entretanto o desacordo

No capricho pessoal

É sempre invasão de trevas

Trazendo a força do mal.

Nós mesmos, quanto ao assunto,

Ao tempo que nos alcança,

Temos histórias amargas

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Arquivadas na lembrança.

Matilde brigou com Nélia

Em rumorosa contenda,

Com três mortes sem razão

Nos colonos da fazenda.

Zequinha entestou com Lopes

Disputando bagatela,

Depois fizeram as pazes...

Quem morreu foi Felisbela.

Recorde as velhas demandas

No Roçado da Mutuca...

Com tiro vai, tiro vem,

Morreu a filha do Juca.

De tanta luta em família

Enlouqueceu Dona Irene,

Ateando fogo em casa

A jarros de querosene.

De tanto atrito no lar,

Na Fazenda Serafina,

Neneco perdeu a casa

Com fósforo e gasolina.

A briga nas boas obras

Com problemas de alarmar,

São outras tantas histórias

Que precisamos lembrar.

O centro de caridade

Por brigas de Conceição,

Depois de tanto trabalho

Acabou de sopetão.

O círculo da bondade

Feito por damas de prol,

Apagou-se pelas brigas

De Donana do Paiol.

Irmão Nico ergueu o grupo:

-“A Paz Que Nunca Se Atrasa”,-

Mas brigou com tanta gente

Que arrasou a própria casa.

Havia um Grupo de Estudo,

Na antiga Mata das Flores,

A briga enrolou a escola

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Em chusmas de obsessores.

Brigava tanto, nas tanto,

O nosso irmão Nicolau,

Que após seis anos de prece,

Transformou-se em bate pau.

É isso aí, minha irmã,

No lugar em que estiver,

Aja muito, fale pouco,

Faça o melhor que puder.

Quanto ao mais, no dia-a-dia,

Fique ligado no bem,

Que a briga, de qualquer modo,

Não dá camisa a ninguém.

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9- ASSUNTO DE DESCANSO

Em carta, você me pede,

Meu caro Joaquim Picanço,

Que eu digo do Além,

O que há sobre descanso.

Diz você “- Fale, Cornélio,

Sem exagero e sem corte,

Que se pensa do repouso

Na vida depois da morte.”

Olhe, Quincas, de começo

É meu dever afirmar:

Se você sente fadiga,

O remédio é descansar.

Quem serve perdendo forças

Em ação ou pensamento,

Precisa de quando em quando,

Restauração a contento.

Não conheço engenho algum

Mesmo só quando se arraste,

Que não espere o socorro

Da pausa contra o desgaste.

Pense na terra girando;

Luz do dia – ação acesa,

A sombra que envolve a noite

É sono da natureza.

Trabalhar no bem de todos,

De qualquer modo é dever,

Quem desiste de servir

Larga o melhor a fazer.

A criatura cai fora,

Busca sossego e mais nada,

Depois é a própria criatura

Que fica prejudicada.

A grande questão no assunto,

Exposta, em pilhas gerais,

É a série de prejuízos

Quando o descanso é demais.

Além da morte, meu caro,

É que se vê, dia-a-dia,

Que se vive, sobretudo,

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Nas formas que a mente cria.

Você recorda a preguiça

Do nosso Antônio Corazza;

Morreu,,, mas vive escondido

Num canto da própria casa.

Viveu Julhinha em repouso

No Roçado da Parede,

Agora desencarnada,

Vive atolada na rede.

Recusou qualquer encargo,

O nosso amigo João Gama,

Sem corpo, pensa no céu,

Dormindo de cama em cama.

Sempre fugiu do trabalho

Nosso caro Ludgero,

Agora chegou aqui,

Lutando na estaca zero.

Viveu, por gosto, em poltrona,

Nossa Lalaia Joaninha,

Noutra vida quer ação,

Quer andar, mas não caminha.

Nenhum esforço na terra

Apareceu em João Tampa...

Sem corpo, vê-se nos céus,

Morando na própria campa.

Viveu parado, mas tanto,

Nosso amigo Albergaria,

Que após largar-se do corpo

Entrou em paralisia.

Desencarnado em preguiça,

O nosso Juca Dirceu,

Vive xingando o serviço

Estirado num museu.

É isso aí, caro amigo,

Não fuja de luta boa,

Se você quer melhorar

Não queira descanso à-toa.

Todos temos dons na vida

Para servir e aprender,

Mas quem não queira trabalho

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Que progresso pode ter?

O tempo é assim como o Sol

Que segue fazendo o bem;

Brilha, passa e ajuda a todos

Mas não espera a ninguém.

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10- ASSUNTO ENTRE AMIGOS

Em carta você pergunta,

Meu caro Tarcísio Roca,

Como se enxerga no Além

Os problemas da fofoca.

Fofoca, ao que me parece,

Se estou certo na lembrança

Pela voz do dicionário,

Era roupa de criança.

Agora, fofoca é isto:

Uma praga que caminha,

Maledicência que nasce

De cabeça miudinha.

Sabe você: ninguém passa

Sem assuntos escolhidos,

Que só se deve explicar

Da boca para os ouvidos.

De afeição para afeição,

Em algum canto da sala,

Quanta lição de família,

Quanta luz no que se fala.

Mas, a fofoca, meu caro,

No lugar onde se ajeita,

Pelo conceito de agora

É sempre a intriga perfeita.

Se a vemos do Além? De certo...

É uma sombra indefinida

Que se enrola ou se distende,

Lançando estragos à vida.

Faz-se garra, pedra, nuvem...

Faz-se monstro ou veneninho...

Em muita perturbação,

Fofoca vive em caminho...

Você conhece de sobra

As lutas do “leva-e-traz”,

Notemos algumas delas

Em nossa busca de paz.

Lilia da conceição,

Exagerava o que via;

Temos três lares em guerra,

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Por fofoca de Lilia.

Ouvindo a nora sem vê-la,

Falando a um gato do Enoque,

O sogro fez a malícia,

O filho morreu de choque.

Havia um Centro de Amparo

No Sítio do João Vilhena,

Quando a fofoca surgiu,

A obra saiu de cena.

Recorde o Grupo das Preces!...

Intriga de Aninha Rosa,

Destruiu a confiança,

Pôs o grupo em polvorosa.

Tião servia... Era médium

No Centro da Irmã Clarissa,

Fofoca envolveu Tião,

Tião morreu de preguiça.

Lembra a Casa da Bondade?...

Fofoca entrou em função,

Acabou-se a caridade,

Começou a confusão.

Ana orava e dava passes

No grupo da Irmã Josefa,

A fofoca apareceu,

Ana deixou a tarefa.

Joel era pregador

No templo do irmão Nazário,

A fofoca trabalhou,

Lá se foi o missionário.

Só se falava de Deus

No grupo do irmão José,

A fofoca deu de cima,

O povo perdeu a fé.

Caíam bênçãos e luzes,

No Grupo da Irmã Zozora,

Fofoca falou em fraude,

O grupo morreu na hora.

Onde fofoca se instala

O remate é sempre assim:

Desconfiança aparece,

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A união tomba no fim.

Se você quer trabalhar

No alto dever do Bem,

Perdoe, ampare, auxilie...

Não pense mal de ninguém.

Silêncio e prece – eis a dupla

Que fofoca não desata...

Guarde essa dupla consigo,

Que fofoca também mata.

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11- COMPROMISSO E UNIÃO

Quer você, prezada Zina,

Dar-se ao desquite comum,

No entanto, você deseja

Agir sem remorso algum.

E afirma: “Diga, Cornélio,

Diga o que posso fazer,

Tenho a mente atribulada

Entre a vontade e o dever.

Além de esposa, sou mãe...

Tenho dois filhos em casa...

Mas o marido infiel

É provação que me arrasa!...

Dos ensinos de outro mundo,

Dê-me alguma diretriz,

Acolha fraternalmente

O apelo desta infeliz!...”

Não se sinta, minha irmã,

Desditosa ou desprezada;

Lembre: o Sol abraça a todos,

Do monte às pedras na estrada.

Na essência, prezada Zina,

O caso é assim, qual se vê:

Qualquer deliberação

Pertence, em tudo, a você.

Sociedades e grupos

São destinados, ao Bem,

Deus não cria mal nenhum,

Nem cativeiro a ninguém.

Mas Deus nos fez de tal modo

Que a lei, por todos os lados,

Emancipa as decisões,

E analisa os resultados.

Se possível, entretanto,

Estude esta simples nota:

Quase sempre o esposo é um filho

Que a esposa protege e adota.

Muita vez, antes do berço,

Pedimos no Grande Além,

Enlace e luta na Terra

34

Em favor da paz de alguém.

O Céu nos ouve o pedido,

Tornamos à vida nova,

Querendo agir por servir,

Nosso amor é posto à prova.

Como atender à tarefa

Sem sacrifício no lar?

Amor é somente amor,

Nada tem a reclamar.

De outras vezes, ligação

Em fogo, martírio e chaga,

É o resgate progressivo

Do débito que se paga.

Em toda prova, no entanto,

O amor é uma luz sublime,

No trabalho, faz-se escola

No sofrimento, redime.

Querida irmã, pense nisso:

Amor é abnegação,

Insista no amor. Não fuja

Aos laços do coração.

35

12- CONFLITO E NÓS

“Porque, meu caro Cornélio”, -

- Diz você, meu caro cunha, -

“Em matéria de conflito

Tanta gente se acabrunha?

A você, hoje no Além,

Vendo as cousas como são,

Pergunto: porque nos homens,

Há tanta contradição?

Esbarro, por toda a parte,

Neste enigma violento:

Que ninguém traz na face

O que traz no pensamento!...

Que se vê, depois da morte,

Quanto ao que temos aqui,

No processo em que a pessoa

Vive a lutar contra si”?!...

Expõe você, com razão,

A este seu companheiro

Este enorme desafio

Que atormenta o mundo inteiro...

O fato, na essência é isto:

Tanta presença da dor

É dívida apresentada

Ao senso do devedor

Anote: em face da vida,

O espírito acerta e erra;

Se a terra é lugar de erro,

A corrigenda é na Terra.

Muito espírito culpado,

Na mágoa em que se reprova,

No Além pede novo corpo

E emendas em vida nova.

Quando se roga ao socorro

A compreensão é perfeita,

Mas, depois quando entre aos homens

Muita gente não aceita.

A intervenção vem de Deus,

Mas se a pessoa resiste,

É aquilo que vimos sempre:

36

Muita luta em quadro triste.

Noutra vida em muita dança,

Culpou-se a nossa Lelé...

Ela agora quer dançar,

Mas tem doença no pé.

Lisbelina, no passado,

Fez os abortos que quis,

Hoje tem lar, mas sem filhos

Senhora nobre e infeliz.

Noutra época, Cesária,

Foi linda e astuta mulher,

Agora em nova existência

Tem o corpo que não quer.

Fez muito abuso no afeto

Juvenal do Chafariz,

Hoje tem corpo incapaz

De casamento feliz.

Cantora arruinando lares,

Foi Gina de Casa Santa...

Renasceu... Quer ser cantora

Mas tem calos na garganta.

Viveu dormindo nos copos

O nosso Ramiro Fraga,

Renasceu, doente em luta,

Trazendo o estômago em chaga.

Téo arrasou muitas jovens,

Dizendo querer e amar,

Hoje, ele tem casa grande

Mas nota que não tem lar.

Era belo o nosso Arício

Endoidando corações...

Morreu... E nasceu de novo,

Em velha tribo de anões.

Observa-se, em verdade:

Conflito não surge em vão...

É defesa tratamento,

Remédio, apoio, lição...

Reencarna-se, só por si,

Buscando a luz que nos falta,

- Ser alma e corpo a um só tempo -,

37

É conflito em dose alta.

A vida é um mar... Somos barcos,

Os outros, você e eu...

Cada qual segue levando

A carga que recolheu.

38

13- CORPO TERRESTRE

Caro Mateus, sua carta

Que tanto carinho encerra

Pergunta o que penso agora

Em torno ao corpo da terra.

Pergunta muito importante

A sua pergunta amiga,

Traz a baila em nosso estudo

Uma questão muito antiga.

Não sei por que tantos sábios

Em tempos que já se vão,

Atiraram sobre o corpo,

Injúria e condenação.

Muita gente acreditava

Que desde infância à velhice,

Fosse o corpo responsável

Por todo mal que visse.

No entanto, estragar o corpo,

A pretexto de elevar-se,

É um erro sem contradita,

Contra-senso sem disfarce.

Não se vê em parte alguma

Em qualquer desastre à vista,

Um carro a desgovernar-se,

Agindo sem motorista.

Por outro lado se um carro

Vive encostado e sem nome

É um corpo desabitado,

Que o pó vergasta e consome.

Na escola da evolução,

O corpo é cabine ou cela...

A evolução traz a luz,

Ninguém avança sem ela.

Por menosprezo do corpo

E obrigação esquecida,

Em todo lugar do mundo

Muita gente perde a vida.

Recorde a nossa Laurinda,

Quis viver só de jejum,

Padeceu sem precisão,

39

Morreu sem proveito algum.

Andando em maceração

Para ser feliz no Além

Teve morte prematura

Dona Zilica Belém.

Gina, ao dizer-se com Deus,

Vivia de manga e jaca,

Por fim, no instante da morte

Pedia carne de vaca.

Afirmando-se em virtude

Castigava-se Clemente,

Um dia largou-se ao mundo,

Assuntando muita gente.

Em sacrifício por nada,

O nosso Lico Sertório

Dizia buscar o Céu

E acabou no sanatório.

Alegando crença e regra

O nosso amigo Apulêio,

Condenava o próprio banho...

Morreu por falta de asseio.

Julgando-se em perfeição,

O nosso Anísio Amorim,

Começou passando fome,

Morreu comendo capim.

Em pregações contra o corpo

Viveu Sinhana Tereza,

Passou muita privação

E arrasou-se na fraqueza.

O corpo sem disciplina

Sofre desvios fatais,

Mas o freio é bom amigo

Sem ser aperto demais.

Diz a lei por toda a parte

De forma clara e concisa:

Cada pessoa no mundo

Tem o corpo que precisa.

Quanto ao mais nessa matéria,

Atenda, caro Mateus:

Guarde o corpo com cuidado.

40

Que corpo é benção de Deus.

41

14- DINHEIRO E VIDA

Você deseja saber

Meu caro Juca Monteiro

O que pensamos no Além

Sobre assuntos de dinheiro.

Encontrei muito interesse

Em sua clara consulta

Pois dinheiro, caro amigo,

Tem muita lição oculta.

Sabe você: muita gente

Com despeito e palavrão,

Quando se fala em fortuna,

Estende condenação.

Mas essa gente da inveja

É sempre estranha e infeliz,

Se vê dinheiro no bolso

Esquece logo o que diz.

Quando está na pindaíba

Clama de verbo seguro,

Se melhora de finança

É mão fechada e pão duro.

Sabemos que inveja é isto:

A costumeira manobra

De quem grita contra os outros

E quer moeda de sobra.

Dinheiro, porém, no fundo,

Expressando compromisso,

Pode ser considerado

Alavanca de serviço.

Todo perigo no assunto

Vem da trava que domina

O coração da pessoa

Ambiciosa e sovina.

Dinheiro no esconderijo

Sem proveito e sem ação,

É o que provoca delírio,

Dureza e perturbação.

Recorde o Tino Pulquério,

Era agarrado na cruz,

Ganhando herança da esposa,

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Não quer saber de Jesus.

Quinquim era um médium simples

Num centro em natividade,

Acertou na loteria,

Negou a mediunidade.

Era um bom pai, bom esposo,

Liliu de Cacimba Rasa,

Ganhando dinheiro em penca

O moço deixou a casa.

Noé comentava a bíblia,

- Que crença viva em Noé!...-

Casando com moça rica,

O rapaz perdeu a fé.

Só falava em Jesus Cristo

Dona Lia Conceição,

Rica, por morte de um tio,

Largou a religião.

Erra bom médium de passes,

Antônio de Dona Alice,

Ao tornar-se fazendeiro,

Fala que passe é tolice.

Recorde Joaquim da Mata,

O filho de Nhá Coleta,

Por uma questão de herança,

Arrasou a própria neta.

Nunca reprove o dinheiro,

Dinheiro por si encerra,

Sempre que bem conduzido,

A força do Céu na Terra.

Desequilíbrio e maldade,

Sombras tristes tais que são,

Só aparecem no ouro

Escravizado à ambição.

A finança que se mostra

No serviço e na bondade,

Faz-se apoio do progresso

E apoio da caridade.

A moeda que circula,

Seja entre crente e ateus,

Naquilo que representa

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É sempre benção de Deus.

44

15- DOENÇA E DEFESA

Vão aqui algumas notas,

Meu caro Celso Proença,

As notas de muito pouco

Do que sei sobre doença.

Esta verdade sabida

Não se deixa para trás:

Cada pessoa na vida

Encontra aquilo que faz

Cada qual colhe o que planta,

- Eis o ponto a que me alinho.

Cada um colhe no tempo

O que deixou no caminho.

Temos nós neste princípio

Sem que ninguém se degrade

A chave de solução

Aos casos de enfermidade.

Na terra, muita moléstia,

- Posso afirmar sem receio ,-

Nasce da gula sem pausa

Ou vem da falta de asseio.

Mas, no mundo, certos males,

Dos mais teimosos que temos,

Por escoras defensivas,

Somos nós que requeremos.

Noto aqui, de muito perto,

Almas cansadas e aflitas,

Lutas, juízes, processos

E petições esquisitas.

Há quem se veja por dentro

E a graves penas se arrime,

Rogando mutilações

Em que se afaste do crime.

Muita gente que acendia,

Guerra, conflito, fogueira,

Suplica berço em penúria

Na provação da cegueira.

Os corações que traíram

As afeições do passado

Rogam corpo em que se vejam

45

De sexo torturado.

Quem procurava escutar

Em louvor da insensatez,

Pede problemas difíceis

Na condição da surdez.

Alcoólatras delinqüentes

Sob remorso profundo,

Rogam rins destrambelhados

Que os façam sóbrios no mundo.

Muita gente de outras eras

Que de ódio se nutria,

Encontro pedindo berço

Na prova da idiotia.

Quem cultivava discórdia,

Criando trevas no estudo,

Solicita internação

Em corpo débil no mundo.

Pense, meu caro, e verá

Sem raciocínios externos:

Doença que não se arreda

É a ficha do que fizemos,

Parece contradição,

Mas isto é de lei segura:

A culpa que se contrai

É só doença que cura.

46

16- MISSÃO E VIDA

Recebi a sua carta,

Meu caro Joaquim Pilar,

A respeito da missão

Tenho uma história a contar.

Renasceu Juca Cirino

Em roça de Sapecados,

Para fazer um refúgio

De apoio aos necessitados.

Muito jovem, registrou

Num circulo de oração,

Que havia voltado à Terra

Para estar nessa missão.

O Espírito Mensageiro

Disse a ele: “Irmão Cirino,

Atenda á sua tarefa,

O seu encargo é divino”.

Juca logo prometeu

Que teria empenho nisso,

Faria o lar de socorro,

No campo do compromisso.

Comentou o revelado,

Falando em plano graúdo,

Mas alegou que primeiro

Precisaria de estudo.

Ganhou anel e diploma,

Subiu a grande lugar,

Entretanto, acrescentou

Que deveria casar.

Em seguida ao matrimônio

Cirino ganhou dois filhos;

Na idéia do missionário,

Eram novos empecilhos.

Agora, dizia ele,

Para viver, a contento,

Necessitava encontrar

Mais força de rendimento.

Eram notas do armazém

Com pagamento à vista,

As despesas de farmácia,

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As prestações ao dentista;

O pagamento da casa

A preço que desatina,

O carro para conserto,

O preço da gasolina;

Era a pia arrebentada,

E os defeitos do chuveiro,

A casa, de ponta a ponta,

Exigia mais dinheiro.

Se alguém indagasse dele

Pelo futuro da obra,

Respondia que esperava

Finança e tempo de sobra.

Quando os filhos se casaram,

Moços de anseios corretos,

Agora, Juca, mais livre

Passou a prender-se aos netos.

Procurando novos ganhos

Lutava dias inteiros,

Dizia necessitar

De apoio firme aos herdeiros...

O tempo corria sempre,

Qual fonte que se desata,

Cirino tinha a cabeça

Toda vestida de prata.

Quase aos oitenta janeiros,

Relembrava os tempos idos

E seguia prometendo

Um lar aos desvalidos.

Um dia, chegou a morte

E chamou Juca à razão...

Cirino rogou mais tempo

No entanto, pediu em vão.

Falou nos planos do lar,

Não desejava descanso,

Mas disse a morte: “seu tempo

Fechou-se para balanço.

Agora, meu caro irmão,

É a mudança definida,

Seu plano de caridade

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Deve aguardar outra vida”.

E Cirino lá se foi...

É isso, caro Joaquim,

Quem não faz seu próprio tempo

Acha cuidados sem fim.

E quem foge ao prometido,

Caminha sempre sem paz...

Onde há o devedor,

O débito vai atrás.

49

17- OBSESSÃO NO ALÉM

Deseja você saber,

Meu caro Amarílio Sá

O que há na obsessão

Vista do Lado de Cá.

Posso afirmar a você

Que estes casos tais quais são

Seja na Terra ou no Além,

São assuntos de paixão.

O ódio é amor selvagem,

No que exige e não alcança,

Afeto quando egoísta

Insatisfeito é vingança.

O orgulho é amor a si mesmo,

De maneira desastrada,

Ciúme – amor possessivo

Que fere a pessoa amada.

Vaidade – amor ao poder,

Na indiferença ante ao bem,

Opinião que domina

E não atende a ninguém.

Desencarnando na Terra

Estamos por dentro a sós,

Por isto a morte revela

O que trazemos em nós.

Espírito libertado

Sem dúvida e sem talvez,

De imediato no Além,

Está naquilo que fez.

Em razão disto, meu caro,

Céu ou Luz, algema ou lama,

Desencarnando a pessoa

Tem aquilo que mais ama.

Há quem se agarre com gente,

Com sítios, nomes, partidos,

Empresas, casas, remorsos

E sombras de tempos idos.

São muitos os casos tristes

Nessa larga desventura,

Porque a lei manda se ache

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Aquilo que se procura.

Você recorda João Nico,

Envenenou Maristela,

Morreu, mas vive na roça,

Chorando na casa dela.

Perfurado por Toninho

Finou-se Joaquim da Torra ,

Mas Joaquim desesperado

Vive atolado em desforra.

Caçava como ninguém

Nosso amigo Merengueiro,

Largando o corpo na Terra,

Anda atrás do perdigueiro.

Nicósio viveu colado

A grande barril de pinga,

Morreu e bebe sem pausa,

E grita, blasfema e xinga.

Sempre agarrado a conforto

Faleceu Joaquina Fraza,

Mas vive atrelado à cama

E espanta o povo da casa.

Escravizado à fazenda,

Quintino de Maritacas,

Sem corpo, vive no campo,

Cuidando de bois e vacas.

Presa a tarefas de granja,

Desencarnou Mariquinhas...

De tanto gostar de frangos

Vive assombrando as galinhas.

Ligado às antiguidades

Lá se foi Marcos Dirceu,

Hoje, encontrei-o na sombra:

É um fantasma de museu.

Obsessão, meu amigo,

Traçada em linhas gerais,

É sempre desequilíbrio

No apego quando é demais.

No assunto, lembre Jesus

Na luminosa lição:

- “Onde se guarda um tesouro,

51

Tem-se aí o coração”.

52

18- QUESTÃO DE MEDIUNIDE

Você deseja saber,

Meu caro Joaquim Trindade,

O que se sabe no Além

Em torno à mediunidade.

Diz você: “Fale Cornélio,

O que há no meu bestunto,

Onde estou não mais entendo

Tanto espinho neste assunto.

Você talvez do outro mundo

Notará como me sinto,

Sou médium encarcerado

Nas sombras de um labirinto.

Sei que a vida, após a morte

Lembra o sol a nossa frente,

Mas de médium para médium,

Eis que a luz é diferente.

Sendo a verdade uma só

Porque isto, meu amigo?

Resolvo muitos problemas

E este agora não consigo!...”

Recorde, Trindade, a usina:

É um só poder gerador

Mas as lâmpadas variam

De grau, de formato e cor.

Assim, na mediunidade,

Segundo se vê no Além,

Cada pessoa trabalha

Conforme o campo que tem.

E as diferenças existem

Por esta razão comum:

Progresso de qualidade

Depende de cada um.

Até que o mundo fabrique

Um “robô-médium” perfeito,

As falhas que registramos

Seguirão do mesmo jeito.

Milhares de companheiros,

Voltando à Terra em serviço,

Suplicam mediunidade

53

Em ação de compromisso.

Garantem apostolados,

Fazem votos e promessas,

Depois, ocupando o corpo,

Pensam no mundo as avessas.

Nem todos agem assim,

Entretanto a maioria,

Vendo serviço a fazer

Descamba na correria.

Era médium nosso Quincas,

Vivia em brasas de fé,

Quando o serviço aumentou

Simplesmente deu no pé.

Começou fazendo curas

Nosso amigo Lino Guerra,

Doentes foram chegando

O rapaz mudou de terra.

Preso à tarefa crescente,

O nosso Quintino Taco,

Largou-se do movimento,

Dizendo ser pobre e fraco.

Largando a tarefa grande

O nosso Antônio Escobar,

Declarou-se escrupuloso,

Com medo de trabalhar.

Janjão começou no lápis ,

Médium de Sítio de Dentro,

As mensagens progrediram

O moço fugiu do Centro.

Era médium de altos dotes

Gina de Juca Labão,

Desposando um milionário

Gina esqueceu a missão.

Receando sacrifício,

A médium Maria Bela

Deixou o grupo alegando

Que as mensagens eram dela.

Passista de grande porte,

Era Lídio de Itaúna,

Ganhando antiga fazenda

54

Trocou-se pela fortuna.

Desistindo de servir,

Disse a médium conceição

Que só achava no mundo

Pouco caso e ingratidão.

Eis o assunto como exponho,

Questão claramente aberta,

Mas que ninguém se aborreça,

Que o tempo sempre conserta.

Sigamos no dia-a-dia,

Sem crítica e sem pesar,

Em favor da melhoria,

Vamos todos trabalhar.

55

19- QUESTÃO DE SORTE

Respondo a sua pergunta

Caro Juca Penaforte,

Quanto ao que penso no Além

Do que aceitamos por sorte.

Sorte, meu caro, na essência,

É aquela força tenaz

Que surge e vive conosco

Daquilo que a gente faz.

Repetimos comumente:

-“Sorte má, sorte feliz...”

Sem ver que o dono da sorte

Encontrou o que mais quis.

A vida é um campo infinito,

O tempo é terreno igual,

Nossos atos são sementes

Produzindo bem ou mal.

Um pensamento, um projeto,

Algum gesto pequenino...

Depois... palavras e ações

Apresentando um destino.

Quanto queira, estude a sorte

Por predição ou baralho,

Mas ouça: fazer a sorte

Nunca dispensa o trabalho.

Quanto à sorte generosa,

Como se quer entender,

A direção que se tome

É a nota que vai dizer.

Não fique aguardando o tempo,

Todo o tempo vai-se embora,

Na criação que se faça,

O tempo chama-se “agora”.

Pessoa parada sempre

Deixando o tempo passar

Sem gastar-se por servir

Que não se queixe do azar.

Recorde: só via ouro

Nosso amigo Aristeu,

Acabando-se a fortuna,

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Teve a luta que escolheu.

Largou-se de todo encargo

O nosso amigo João Massa,

Depois não soube viver

Senão em sono e cachaça.

Lembre Donana... Era ativa

Mas sempre em grito e querela

Por fim, morreu solitária,

O povo fugia dela.

Abrahão era obreiro firme

Mas áspero e respondão...

O resultado foi este:

Ninguém gostava do Abrahão.

Lilia quando empregada,

Cultivava a rebeldia,

Vimos nós em pouco tempo

Dez demissões de Lilia.

Por reclamar e ferir

O nosso Adalberto Fava

Nunca teve boa sorte

Nas empresas que criava.

Vitorino o costureiro,

Pôs tanto aperto no ensino,

Que não se viu mais ninguém

Nas aulas do Vitorino.

João da Extrema quis casar-se,

Ma dava tanto problema

Que não houve moça alguma

Que quisesse João da Extrema.

Dona Rita, grande dama,

Sempre nervosa e esquisita...

Anote: ninguém parava

Na casa de Dona Rita.

É isso aí, caro amigo,

Digamos em alta voz:

Deus nos cria o tempo e a vida,

A sorte fazemos nós.

Em todo lugar do mundo,

Serviço é o melhor troféu,

Não busque o favor da sorte,

57

Que a sorte não cai do Céu.

58

20- VIVOS E MORTOS

Você meu caro Antônio,

Pergunta com seus cuidados

Porque se faz tão difícil

Ouvir os “mortos” amados.

E acentua: - “Sempre tive

Muitos amigos no Além

Entretanto, peço, peço...

Chamo e não vejo ninguém.

Que dizer Cornélio amigo,

Desta busca inacabada?

Faço preces, grito nomes,

Depois... é silêncio e nada”...

Entendo prezado amigo,

Toda a sua inquietação,

Mas ouça: somos quais somos

E as cousas são como são!...

Tudo espera o tempo próprio

Onde o melhor se processa...

A verdade surge aos poucos

Sem ocupar-se de pressa.

Atendendo à luta humana,

Que dá tanto que pensar

O homem, ao pé da morte,

Raciocina devagar.

Por outro lado, as idéias,

Que a terra criou no caso,

Nas portas do grande assunto

Despejou montão de atraso.

No mundo, lembra-se a morte,

E temos pessoas pasmas,

Falando em luto, agonia,

Cinzas, pedras e fantasmas!...

Isso cria tanto entrave,

Tanta sombra e tanta trica,

Que os vivos do Além não acham

A ligação com quem fica.

Basta que um “morto“ qualquer

Dê sinal ou reapareça

E alongam-se fantasias

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Tisnando muita cabeça.

Recorde: Joana, a viúva

Do Marciano Toledo

Chamava o esposo e ele vindo

A moça tombou de medo.

Tonho quis ver o irmão morto

E ao tê-lo junto de si,

Gritou e caiu de susto

Na estrada do Mandaqui.

Desejou ver o pai morto

O nosso amigo Aristeu,

Um dia, o rapaz, ao vê-lo,

Desmaiou e adoeceu.

Após a morte do tio

Totó buscava encontrá-lo,

Notando o tio na roça

Totó caiu do cavalo.

Mariana chamava o esposo,

O falecido Teotônio,

Vendo o marido, a mulher

Dizia que era o demônio.

Julia pedia ao marido

Auxílio num grande apuro,

O finado apareceu

Ela rezou no esconjuro.

Sabino encontrou em prece

Um irmão Já desencarnado,

Gritou, chorou... Depois disse

Que estivera alucinado.

Perdeu Silvino a mulher...

Quis vê-la, a Dona Ceição,

Tendo a esposa junto dele

Clamou que era assombração.

Zelão contou haver visto

A noiva desencarnada...

Chorou, mas disse, em seguida,

Que era tudo patacoada.

Chamava o esposo, a Cecília,

Mulher de Janjão Salerno,

Vendo o finado, a viúva

60

Mandou Janjão pro inferno.

Doca chamava o pai morto

Em frases de imenso amor...

Quando o pai voltou a ela,

Falou que era obsessor.

Ante os problemas da morte

São muitos tropeços juntos,

E a verdade pede ao tempo

Que lhe prepare os assuntos...

Não se agaste, caro irmão,

O mundo é um contraste em si:

Os vivos buscando os mortos

E os mortos andando aí!...

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Francisco Cândido Xavier

Pelo espírito Cornélio Pires