FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
MARIA DOLORES
MEIMEI
E
Pelos Espíritos de:
Que Jesus o abençoe
Muita Paz.
Caro amigo:
O livro espírita é sempre um ótimo presente, se você tem condições de adquirí-lo, faça-o e doe, pois além de ajudar na divulgação da doutrina, estarás ajudando várias instituições de caridade, que para onde são destinados os direitos autorais dos mesmos.
Enquanto o progresso se amplia, povoando o mundo
de máquinas e arranha-céus, facilidades de ordem
material e teorias experimentais de libertação, é justo
recordar o imperativo dos valores da alma, sem os
quais a paz e a felicidade, a confiança na vida e a
segurança interior desapareceriam no nascedouro.
Ante as nossas afirmativas, é provável se questione:
- "o avanço tecnológico será, então, uma calamidade a
evitar?"
Respondemos, naturalmente, que de modo algum.
A evolução é irreversível.
O progresso é realizado para o homem. O homem,
no entanto, não é artigo no mercado de consumo.
O ser humano é, acima de tudo, espírito imperecível
e luz da razão no combustível da inteligência,
raciocínio e sentimentos conjugados.
Cérebros geniais, devotados ao brilho externo da
civilização se empenham a criar vantagens e troféus
para a existência física, em trabalho competitivo dos
mais nobres, de vez que se acha alicerçado em
propósitos do bem geral.
Entretanto, encontramos igualmente corações
sublimados na compreensão, consagrados a cultivar
luzes e bênçãos para a Vida Espiritual, em serviços de
abnegação dos mais altos, porquanto se encontra
baseado na exaltação do amor que é Presença de Deus,
nos fundamentos do Universo.
Situadas nas faixas do entendimento e da bondade,
Meimei e Maria Dolores, emissárias de paz e
solidariedade humana, nos oferecem este livro.
Mensagem de união e tolerância, esperança e alegria.
Agradecemos-te, leitor amigo, a atenção com que
nos partilhas o prazer de assimilar o conteúdo destas
páginas nutrientes e edificantes em que ambas as
autoras se esmeram em nos trazer somente amor.
E, ao mesmo tempo em que externamos a nossa
gratidão às duas missionárias do bem, cujos corações
palpitam em todos os tópicos deste livro de iluminação
íntima, rogamos ao Senhor, como sempre, as inspire e
abençoe.
Emmanuel
Uberaba, 4 de outubro de 1978.
Somente Amor
03
Iniciaste a tua construção espiritual da fé em que te
abrigasses. E sentias-te, à maneira de alguém, cujo
coração se revitalizasse ao contato de nova luz.
Entretanto, sombras apareceram no firmamento de
tuas mais belas aspirações, quais nuvens que te
empanassem a visão do Sol.
Afeições, em que te escoravas, desapareceram na
correnteza de interesses inferiores; companheiros
muitos deles obsidiados ou infelizes, te impuseram
inesperadas desilusões; perdeste recursos que
consideravas essenciais à própria segurança e te
refugiaste em amargurada introversão; provavelmente
viste seres amados vencidos pela morte e não pudeste
conter as lágrimas incessantes que te segregaram no
lar; ouviste injúrias de lábios queridos que dantes te
abençoavam a vida e tombaste em desalento.
Ainda assim, ergue-te da tristeza ou do desânimo e
caminhemos adiante.
Sofrimentos vencidos são tijolos de experiência
com que levantarás novas paredes no santuário da
esperança.
Não te demores na solidão e volve ao dia
resplendente do trabalho, de que se fará no mundo
solidariedades humanas, por fonte viva de amor, e
novas benções te farão sorrir.
Não importa a legenda que tragas na bandeira do
teu ideal de fraternidade.
Se caíste em algum erro, levanta-te e corrige com
bondade o que a vida te pede retificar.
Se paraste de servir, recomeça.
Guarda, sobretudo, a certeza de que ninguém
encontra a verdadeira felicidade sem Deus.
1 Recomeça
Meimei
04
Certo amigo de Cristo
Buscou a solidão, no pressuposto
De consagrar-se ao Mestre inteiramente...
A concentrar-se nisto,
Dizia achar, na Terra, um campo irreverente,
Que o situava sempre em extremo desgosto;
Considerava a multidão
Por massa preguiçosa em movimento vão,
Queria meditar sozinho e atento
Sem barulhos quaisquer, sem qualquer elemento
Que lhe pudesse em risco a paz que planejara.
Ei-lo, assim, na paisagem doce e rara
Que ele mesmo formara, dia-a-dia:
A choça acolhedora, em perene harmonia,
A plantação florindo
O chão tratado e lindo.
E as águas marulhosas
Da fonte que nutria os gerânios e as rosas...
Tudo ali era a paz da vida pura e mansa...
E ele, o aspirante à luz
Do contato supremo com Jesus,
Parecia, na essência, uma criança
Que pensava no Céu, de momento a momento,
Sem qualquer sofrimento
Que lhe pudesse vir
Das forças antagônicas do mundo;
E, solitário, em êxtase profundo,
Aguardava o porvir.
De quando em quando,
Fosse regando as palavras prediletas
Ou simplesmente contemplando,
Na mística alegria dos ascetas,
A luz do entardecer,
Dizia em prece calma;
- "Agradeço, Senhor, a santa solidão",
Na qual te posso dar toda a minhalma,
Todo o meu coração!...
Solidão
e
Amor
2
Maria Dolores
05
Graças a Ti Jesus; já não mais compartilho
Das discussões hostis com que o mundo te nega,
Sei que te espero em paz sem qualquer empecilho
Da Humanidade, às vezes, triste e cega...
Louvado sejas, meu Senhor,
Por me haveres doado,
Este sítio feliz, onde vivo isolado,
Para aguarda-te a vinda, em meu imenso amor!...
Meses correram, velozmente,
E o discípulo a sós, piedoso e crente,
Louvava a solidão e os Céus, todos os dias,
Esperando o Messias ".
Numa noite, porém, friorenta e escura,
Quando fitava os astros
A penderem da Altura,
Viu que uma luz de longe,
A esgueirar-se de rastros,
Vinha ao encontro dele e, de repente,
Eis que a luz a crescer, inopinadamente,
Torna a forma de um homem que ele fita
Com ternura infinita...
Ajoelha-se e chora de emoção,
Reconhecendo o Mestre Nazareno,
A pousar nele o olhar belo e sereno,
Renovando-lhe a paz no coração...
Mostrando-se em viagem,
O Cristo lhe sorri como que de passagem,
Mas sem se interromper, prossegue, além...
Levanta-se o aprendiz e corre-lhe no encalço,
Depois, grita, feliz:
- "Encontrar-te, Senhor, é tudo quanto eu quis...
Fica, porém comigo alguns instantes,
São tuas as flores repousantes,
Abençoa estes sítios em que penso
No teu amor imenso,
Este lugar é teu!..."
Jesus, deteve-se um momento
E, após abençoá-lo, esclareceu:
- "Agradeço-te, irmão",
Tudo quanto me dás ao coração,
As preces de louvor
Que me endereças, cada dia,
E o perfume de paz e alegria
Que me ofertas
Em teu jardim de amor
Nestas plagas desertas...
Desejo-te ao remanso,
Refazimento á fé, reconforto ao descanso:
No entanto, para mim,
06
Enquanto houver na Terra algum sinal de pranto,
Não posso demorar-me em teu jardim.
O trabalho do amor é meu clima e meu lar,
Ignoro se escutas
A alma da Humanidade em pavorosas lutas.
Ouço os gritos de dor dos corações caídos,
As petições amargas, os gemidos
De mães desesperadas,
Os apelos dos grandes infelizes,
Peregrinos de todas as estradas
Entre aflições e crises;
O choro das crianças sem ninguém,
Os doentes largados ao vazio
De espírito cansado e coração sombrio,
Ante as visões do Além,
A tristeza e a revolta dos ateus,
Irmãos infortunados
Que se afastam de Deus...
Tenho comigo a paz do Reino Excelso,
Mas de todos os lados
Ouço o imenso clamor
Dos que rogam aos Céus
Consolação e fé, auxílio, luz e amor...
Amo a todos, porém,
Devo permanecer com quem se aflige e chora
À distância do bem!..."
Dito isso, o Senhor põs-se em caminho
Mas o devoto, em novo pensamento,
Deixou a solidão em que vivia
Tão deslumbrado quanto desatento.
E, de novo, entre as grandes multidões
Erguia e consolava corações,
Às vezes, insultado, injuriado e aflito
Mas procurando em todos
A presença do amor soberano e infinito;
Varando lodo e sombra, muito embora,
Seguia com Jesus, hora por hora,
Construindo o porvir...
E, elegendo no amor, a vida, o sonho e o lar,
Começou a esquecer-se e passou a servir,
Sem nada perguntar,
Sem nada mais pedir.
07
Devidamente reunidos, os seguidores de Jesus
viram chegar o Mensageiro da Orientação, cuja
palavra haviam solicitado com insistência.
Queriam alguma instrução que os fizesse mais
adiantados na senda do bem e que lhes propiciasse
mais amplo progresso espiritual, acentuando-lhes o
estímulo ao trabalho e dilatando-lhes a paz.
O Celeste Emissário, sem qualquer presunção no
olhar translúcido e sem o mais leve toque de
autoritarismo na voz, explicou-se com brandura:
- Irmãos, não tenho avisos especiais e nem sei
porque os servos dos Grandes Servos do Senhor, dos
quais não passo de colaborador pequenino, terão
determinado seja eu o portador da resposta às vossas
súplicas sinceras.
Sabemos que o Eterno Amigo confia em vossa
dedicação e a todos nos observa nos encargos
diferentes a que somos trazidos. O Excelso Benfeitor
não ignora que todos nos achamos detidos em
ocupações diversas. Esse administra, aquele ensina,
outro tece o fio e outro ainda lavra o campo. Muitas
criaturas amparam os doentes e outras muitas
protegem as crianças. Por isso mesmo, na Casa do
Senhor não se desconhece que pessoa alguma na
tTerra está sendo chamada a evidenciar-se em
espetáculos de grandeza. Em razão disso, o Lar
Bendito das Alturas recomenda vos seja transmitida
unicamente esta simples mensagem: "sempre que não
puderdes auxiliar-vos uns aos outros, não vos queixeis
de ninguém".
A
Mensagem
3
Meimei
08
Disse Jesus na Terra; "Eu sou o pão da vida".
E ansiando seguir os passos do Senhor,
Quis ser, de minha parte, a migalha sem nome
De algo que alimentasse a estranha fome
Dos que morrem no mundo à carência de amor.
Indaguei do mentor que me assistia,
Quanto a idéia de que me via presa
E ele apenas me disse: "Se procuras
Nutrir o coração das criaturas,
Ouve as informações da Natureza ".
Interroguei a Terra e a Terra falou calma;
"Para a manutenção dos seres que acalanto
Preciso tolerar enxadas e tratores
E abrir-me em golpes dilaceradores
Sem que ninguém me veja o sofrimento ".
Velho tronco explicou-me; "Vivo ao tempo,
Trabalhando sem perda de minutos,
Renovo o ar, produzo fartamente,
Mas padeço agressões de muita gente,
Sem que eu possa contar meus próprios frutos" .
Entrevistando o Trigo, ei-lo a dizer-me:
- "Devo entregar-me sem explicação
Á mó que me constringe e me tritura,
Fazendo-me farinha clara e pura,
Que assegure na mesa o júbilo do pão".
Em tudo achei no alento para a vida
O extremo sacrifício em constante processo,
Plantas gemendo em todos os instantes
E óleo a queimar-me em máquinas gigantes,
Sustentando a energia do progresso.
Reconheci então ser preciso esquecer-me,
Apagar-me ao servir, alegrar-me na dor,
Aprender humildade, aparar sem barulho
E despojar-me, enfim, de todo o humano orgulho
Para ser luz e paz, auxílio e amor.
Alimento
e
Vida
4
Maria Dolores
09
Não te afastes do bem, ainda mesmo que a
estrada se te mostre crivada de obstáculos.
Não te detenhas.
Ouvirás aqueles que se instalam na retaguarda
a te repetirem, de longe, os sombrios vaticínios
que os fizeram parar.
Falam dos perigos imaginários da frente;
relacionam conceitos das inteligências
encharcadas de pessimismo; exaltam a filosofia
da indiferença; ou destacam erros do passado,
apedrejando inutilmente o futuro.
Entrega ao tempo quantos se fixaram
transitoriamente nas margens do caminho,
receando calamidades e abismos, e prossegue
adiante.
Não importa encontres aqueles que se revelem
capazes de te golpear a esperança.
Recorda. O espinheiro não os fere
voluntariamente e sim porque ainda se faz
conhecer por lâminas agressivas. A pedra que faz
tropeçar na Terra não tem consciência disso; ela é
apenas um calhau fora do lugar de servir.
Espalha bondade e coragem, suportando com
paciência as forças contrárias que, porventura se
levantem, buscando barrar-te os passos.
Caminha, amando e auxiliando e Deus te
mostrará que ninguém se eleva, sem suor e sem
lágrimas.
Compreenderás que a lágrima na provação é o
suor que purifica e que o suor no trabalho é a
lágrima que aperfeiçoa.
Ainda que experimente, de algum modo, o frio
do entardecer, não te amedrontes perante as trevas.
Acenda a lâmpada de tua fé e prossegue
servindo sempre.
Os que caminham com Deus no coração
transportam consigo os clarões da alvorada. E por
mais espessas se façam as sombras nos cárceres da
noite, ninguém consegue prender o esplendor do
novo dia.
5 Seguindo
Meimei
10
Não lamentes, alma boa,
Contratempo que aconteça,
Que a luta não te esmoreça,
Na da existe sm valor;
Aquilo que te parece
Um desencanto de vulto
É sempre socorro oculto
Que desponta em teu favor.
Uma viagem frustrada,
Uma festa que se adia,
Uma palavra sombria
Que encerra uma diversão;
O desajuste num carro,
Um desgosto pequenino,
Alteram qualquer destino
Em forma de salvação.
Não chores por bagatelas,
Guarda a fé por agasalho,
Deus te defende o trabalho,
Atuando em derredor;
Contrariedades no tempo,
Quase sempre, em maioria,
É amparo que o Céu te envia
Por bênção do mal menor.
Amparo
Oculto
6
Maria Dolores
11
Não te queixes de cansaço na tarefa que Deus te
confiou: um filho a orientar, um lar a manter, o bem
a construir ou algum princípio nobre a defender.
Recorda aqueles companheiros do mundo que
suspiram por ligeira parcela das possibilidades que
te enriquecem a vida: os que anseiam por
movimentos livres e jazem parafusados no catre; os
que desejariam comunicar aos semelhantes os mais
belos sentimentos que lhes povoam a alma e sofrem
a provação da mudez; os enfermos e
desmemoriados que se atormentam na sede de um
lar e sofrem a provação e vagueiam sem rumo,
atirados à noite, mendigando assistência; e os outros
muitos que aspirariam a socorrer aos irmãos em
Humanidade, expondo as idéias de paz e reconforto,
cultura e beleza que lhes brilham no espírito e
permanecem trancados na obsessão ou que
caminham dissipando os próprios recursos nas
substâncias tóxicas que ainda não conseguiram
erradicar das próprias vidas.
Teu trabalho – tua bênção.
Seja lavrando o campo ou amoldando o metal
suportando com paciência algum calvário doméstico
ou sofrendo as vicissitudes das causas públicas, não
digas que te encontras em sacrifício por agradar a
teus pais ou a fim de acompanhar determinado amigo,
de modo a prestigiar um parente amado ou em
benefício desse ou daquele irmão.
Se guardas o privilégio de servir, amparando aos
outros, estás edificando a felicidade em favor de ti
mesmo.
Lembra-te de que todos nos achamos interligados
nas criações da Divina Sabedoria.
Embora transformado e redistribuído por muitas
mãos, à maneira da força elétrica que procede da
usina, o trabalho que se te confia vem positivamente
da Bondade de Deus.
Tua
Benção
7
Meimei
12
Alcei ao Alto o olhar, um dia,
Como quem desejasse adivinhar
Que prodígio de sóis encontraria
No celeste esplendor do Eterno Lar...
Vendo constelações e nebulosas
Lançando irradiações maravilhosas,
Indaguei do mentor que seguia a meu lado:
- "Na faixa de trabalho a que me abrigo,
Quereria saber, prezado amigo,
Se todo este Universo que entrevemos,
Astros e luzes pelos Céus supremos,
Vem a ser limitado ou iluminado...
Onde se ocultaria a rútila nascente,
A luz primeira da primeira fonte
Do Universo esplendente,
A vibrar e a fulgir, acima do horizonte?"
Na bondade que marca os grandes instrutores,
Ele apenas me disse: "Irmã Dolores,
Conhecimento exige gradação,
Não faças do porvir um ponto de aflição...
Sigamos, passo a passo,
Sem antecipações do Tempo, ante as forças do Espaço.
Aprimora-te, estuda, informa e ensina,
Mas fitando as Alturas,
Não tentes alcançar em visões prematuras,
Todo o excelso fulgor da Grandeza Divina..."
Interrompeu-se um tanto, ao pisarmos na Terra,
E prosseguiu depois, em tom profundo:
- "Nota, irmã, este nosso antigo mundo...
Quantas lições encerra!
Quem nos explicará, conscientemente,
O segredo interior de uma simples semente?
Que força existirá na flor que desabrocha,
Como entender a formação do mar
E a gênese da rocha?
É preciso, porém, caminhar, caminhar,
E servir por dever...
Outros pesquisarão na luz da inteligência
Os princípios celestes da existência...
Quanto a nós, entretanto,
Vendo tantos irmãos em dura prova,
Sem mágoa e sem espanto,
Cabe-se acender a luz da vida nova
E construir o bem ao suprimir a dor.
Busquemos o trabalho que nos chama,
Não há tempo a perder...
Vemos, por toda parte, o mundo que reclama:
- Quanta cousa a fazer! ...
Por agora, é impossível
Definimos, por nós, os mundos de alto nível;
Mas podemos ouvir, do palácio à choupana,
Toda a tribulação que atinge a vida humana...
8 Sonho e Trabalho Maria Dolores
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Quantas mães, temos hoje a confortar,
Marcadas pela dor que lhes aflige o lar?
Quantos homens leais aguardam fortaleza,
A fim de prosseguir na luta que os retém
Sustentando no mundo a batalha do bem?
Quantos irmãos doentes sem defesa?
Quantos pedintes amargando crises?
Quantas crianças tristes e infelizes?
Quantos amigos jazem mutilados,
Quantos deles se arrastam desprezados?
Quantos barracos tombam sob o vento?
Quantas mansões guardando o sofrimento?
Quantos homens, tentando a deserção da vida?
Como paralizar tanto impulso suicida?
Na pausa do instrutor que silencia, atento,
Fitei de novo, a luz do firmamento
E de olhar retornando à vastidão do mundo,
Eis que em meditação e em prece me aprofundo...
E concluí, de mim para comigo:
- Deus de Infinito Amor, por tudo te agradeço,
Não me deixes, porém, pensar em céus que ainda
não mereço! ...
Dá-me forças na estrada em que prossigo,
A Terra que nos deste é o nosso imenso lar...
Faze-me trabalhar! ...
Ajuda-me, Senhor,
A espalhar a esperança, a cultivar amor
E deixa-me aceitar e compreender
Tanta gente a lutar, tanta cousa a fazer!...
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Não te doa a obrigação de repetir, vezes e vezes,
esse ou aquele esforço que consideres de sacrifício.
Se já te aceitas na condição de criatura
imperecível, reflete no tempo gasto pela sabedoria
da vida, nas criações na natureza.
Sabemos que a gestação do diamante, no
claustro da Terra exige milênios.
Com semelhante ensinamento, perguntemos a
nós mesmos quantos séculos despenderemos para
construir a compreensão e o devotamento, a
humildade e o amor, no campo da própria alma.
Meditemos nisso e abracemos com paciência as
tarefas que nos foram confoadas.
Regozija-te com as obras de renúncia dentro do
lar; ele é o reduto em que te habilitas para a total
consagração à Humanidade.
Agradece ao trabalho que te cerca de problemas
e, tantas vezes te alaga de suor; nele aprendes a
conquistar a sublimação e a criatividade dos anjos.
Abençoa os dias de prova em que a vida te pede
serviço habitualmente entremeado de labaredas de
inquietação com aguaceiros de pranto; tempo
chegará em que eles trarão a soma das
experiências que se fará luz permanente para os
teus próprios caminhos entre os sóis da
Imortalidade.
Rejubila-te com a possibilidade de contar
comas aulas da angústia e do sofrimento, no
aprendizado da vida terrestre.
Os olhos que nunca choraram raramente
aprendem a ver.
Provas
Meimei
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Quando mãos devotas e piedosas
Arrancaram da cruz o Cristo Amado,
Certo amigo
A revelar extremo desconforto,
Exclamou para o lento áspero, erguido:
- "Antes nunca tivesses existido,
Cruz infamante, horrível instrumento,
Pouso de criminosos,
Ódio a ti para sempre, cruz maldita!"
Mas eis que, em tudo, a vida brilha a estua...
A cruz assinalando a maldição,
Mostrou sentir a própria humilhação...
Atormentada e triste,
Relegada, por fim, à sombra merencória,
Acreditou-se a escória
De tudo quanto existe.
Destacou-se, porém, generoso emissário,
Dentre os Espíritos Sublimes,
Assessores de Cristo no Calvário,
Que acompanhando a cena,
Falou à cruz silente e abandonada,
Carregando de amor e a voz serena:
- "Não te sintas ferida ou desprezada,
Cruz generosa e amiga,
Por mais que o homem te maldiga,
Ninguém te arredará do quadro e da memória
Onde o Cristo estiver nos destaques da História...
É preciso te lembres
Que Jesus te escolheu, racionalmente,
Para atender a Deus, no sacrifício ingente,
A que se deu para elevar o mundo...
O Mestre poderia
Ter escolhido outro instrumento
O anjo
e a Cruz
Maria Dolores
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Para fazer-lhe companhia,
Na amarga agitação que vimos neste dia,
Talvez algum punhal brazonado e violento,
Alguma lança de aguçado corte,
Lapidação ou açoite
Fossem a escolha dele para a morte
Entretanto, o Senhor
Para remate da missão de amor,
Elegeu-te como és,
Madeira despojada,
Obscura madeira,
Para expressar contigo a lição derradeira
Que nos podia ser doada...
Ele, Jesus, sabia
Que tiveste um passado de alegria...
Eras árvore linda, em vigor opulento,
Crescendo para o Sol, às carícias do vento...
Vivias descuidada,
A cobrir-se de flores e de frutos,
Que oferecias sem quaisquer tributos
A quem te procurasse o verde tronco...
Eras o doce lar dos passarinhos.
Encantava-te a música dos ninhos,
Mas sob os golpes de machado bronco,
Tombaste, certo dia...
Ninguém mais te lembrou a bela ramaria,
Nem mais te recordou o refúgio e a riqueza
Que trazias nos braços
Pela bênção de Deus na luz da natureza...
Logo após abatida,
Foste feita aos pedaços,
Maltratada, vendida e revendida...
A Terra não conhece a dor que te consome
E para quem te veja como estás,
És madeira sem nome,
Mas o Mestre da Vida e Príncipe da Paz
Elegeu-te a presença dolorida
Para exaltar com ele as lágrimas da vida...
Contigo, o Cristo Amado quer dizer
Ao sublime futuro por nascer
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Que o Céu não desampara os fracos e os caídos,
Que a vitória do bem, criando resplendores,
Nem sempre dos vencidos!...
Por isto, oh! Cruz de bênçãos salvadoras,
Na civilização que se aproxima,
Brilharás muito acima
De quaisquer expressões renovadoras.
Terás imitações de prata e ouro
Por sinal de Jesus, no caminho vindouro,
Resplenderás, no mundo, em muitas leis,
Serás consolação dos pobres deserdados,
Tanto quanto prestígio e poder conjugados,
Desde a choça da fé ao palácio dos reis!...
Por tudo isso,
O Céu mandou fazer-te em dois pedaços,
Um deles vertical
Apontando no Além a amplidão dos Espaços,
O outro horizontal em traços certos,
Simbolizando o amor universal,
Muito embora, entre os homens esquecido,
Escorraçado, preso, combatido,
Mas de braços abertos...
Cruz amiga de forças benfazejas,
Deus de guarde e abençoe, bendita sejas!..."
Nesse exato momento,
Desfizeram-se nuvens
Descerrando a visão do firmamento...
A Lua apareceu em remoto horizonte,
Concentrando clarões nos ápices do monte,
Abrilhantando em tudo os detalhes da cruz
Que não mais resguardava
Qualquer nota de dor e de agonia...
Cintilante no alto, o lenho parecia
O caminho real da Perfeita Alegria
Para o Reino da Luz.
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Cada criatura, na Terra, traz consigo uma cela
oculta em que trabalha com os instrumentos da
provação em que se burila.
Pensa nisso e auxilia aos que te rodeiam.
Esse companheiro alcançou a fortuna, mas sofre a
falta de alguém; outro dispõe de autoridade, no
entanto, suporta espinhosos conflitos nos
sentimentos; essa irmã construiu o lar sobre preciosas
vantagens materiais, contudo, tem um filho que lhe
destrói a felicidade; e aquele outro atingiu o favor
público, entretanto, é portador de moléstia indefinível
a corroer-lhe todas as forças.
Quando encontres alguém que te pareça em crises
de inquietação e desarmonia, isso não é sinal de que a
tua presença se lhe fez indesejável.
Esse alguém estará em momentos de enormes
dificuldades no reduto invisível do coração em que se
aperfeiçoa. E os resíduos da luta íntima se lhe
transbordam do ser pelas janelas do trato.
Observa o ponto nevrálgico da própria vida em que
o sentimento te procura para efeito de prova e
compadece-te dos outros para que os outros se
compadeçam de ti.
A Cela
Oculta
Meimei
11
19
Em muitas ocasiões,
Sofres ante os próprios gritos,
Abafados nos conflitos
Das tentações a transpor...
É o fel do orgulho ferido,
A rebeldia, a tristeza,
As lutas da natureza,
Agindo em nome do amor.
Queres seguir nos princípios,
Que a Lei Divina te aponta,
Mas as sombras são sem conta
Que o desânimo produz...
Cais, reergues-te e caminhas,
Às vezes, cambaleando,
E, em preces, perguntas quando
Chegarás à Grande Luz.
Entretanto, alma querida,
Deus nos conhece os problemas,
Cala-te, serve e não temas
Treva, amargura ou pesar...
O erro é sinal de escola,
A dor é lição contigo
E Jesus segue contigo.
Não pares de trabalhar.
Norma
de
Vencer
Maria Dolores
12
20
Muitos companheiros em abençoadas tarefas
alusivas ao próprio aperfeiçoamento, na seara do
bem, largaram encargos e compromissos por ouvirem
dizer...
Ouviram dizer palavras descaridosas que lhes
arrefeceram o propósito de trabalhar e o anseio de
servir.
Prepara-te a fim de ouvir semelhantes projeções de
zombaria por parte daqueles que ainda não
despertaram para o amor que Jesus nos ensinou e não
abandones o teu lugar de ação.
Se cometeste algum erro no passado, dirão que não
mereces confiança.
Caso ainda não possuas cultura do mais alto
gabarito, nomear-te-ão por ignorante.
Na hipótese de usares discrição e benevolência
para com os outros, classificar-te-ão por modelo de
ingenuidade.
Se carregas algum desajuste psicológico,
suportarás julgamentos precipitados com amargos
pejorativos de permeio.
Em revelando essa ou aquela enfermidade,
afirmarão que te apaixonaste por desânimo e doença.
Demonstrando afeição mais íntima por essa ou
aquela pessoa, desenharão estranhas sombras sobre
os teus mais belos sentimentos.
Quando isso te ocorra, escuta as censuras que se te
façam, guarda silêncio na certeza de que Deus tudo
reajustará no tempo próprio e prossegue agindo e
construindo a felicidade do próximo, porquanto
erguer a felicidade alheia será descerrar no coração a
fonte de nossas próprias alegrias.
E ainda mesmo quando as tuas faltas hajam sido
muitas, continua trabalhando e servindo, no
levantamento do bem, recordando que o próprio
Jesus declarou, ele mesmo, não ter vindo à Terra
para curar os sãos.
Ouve e
Segue
Meimei
13
21
Procurei ansiosamente
Um símbolo do amor de Deus no mundo,
Carinho permanente,
Amor que nada mais pedisse à vida,
A fim de estar contente,
Que o dom de ser amor sublimado e profundo...
Vi o Sol trabalhando sem cansaço
Doando-se sem pausa, alto e bendito,
O astro imenso, porém, pedia espaço,
De maneira a brilhar nas telas do Infinito.
Julguei achar na fonte esse traço perfeito,
Fitando-lhe a corrente a servir sem parar,
Mas a fonte exigia a hospedagem do leito
A fim de prosseguir à procura do mar.
Fui à árvore amiga e anotei-lhe a lição:
Conquanto a se entregar tanto aos bons quanto
aos brutos,
Precisava defesa e vínculos nos chão
Ao fornecer, sem paga, a riqueza dos frutos.
Vi a abelha no favo a pedir mel às flores,
Nuvens para servir solicitando alturas,
Escolas em função buscando professores
E o lar para ser lar exigindo estruturas.
Toda força do bem que ao bem se entregue
Em bondade constante e em contínua grandeza,
Assegura-se, vive, auxilia e prossegue,
Algo requisitando ao Mundo e à Natureza.
Em ti, unicamente, Mãe querida,
Encontro o amor que nasce e cresce, em suma,
No sacrifício puro, acalentando a vida,
Sem reclamar da Terra cousa alguma.
Eis porque sobre todo amor que existe
As Mães são guias, anjos, cireneus,
Cujo brilho por si nos protege e persiste
Em ser somente amor, no excelso amor de Deus.
Estrela, Deus te guarde em teu fulgor celeste!...
Agradeço-te a luz, o carinho e o perdão...
Bendita sejas, Mãe, porque me deste
A presença de Deus no coração.
14 Mãe
Maria Dolores
22
Senhor! ...
Disseram os homens que me queriam tanto, mas ao
atingir-lhes a casa, não dialogaram comigo, segundo as
minhas necessidades.
Quase todos me ofereceram um berço enfeitado, mas
poucos me deram o coração.
Afirmam que devo procurar a felicidade, entretanto,
não sei como fazer isso, se os vejo a quase todos
sofrendo e rebelando-se por não aceitarem as disciplinas
da vida.
Escuto-lhes as lições de paz, contudo, acompanholhes
as rixas em vista de estarem sempre exigindo o
maior quinhão de recursos da Terra.
Recomendam-me buscar alegrias, mas, muitas vezes,
observo que está misturado de lágrimas o leite que me
estendem.
Erguem palácios para mim, no entanto, entre as
paredes dessas mansões coloridas e belas, renovam, a
cada dia, reclamações e queixas que não sei
compreender, nem registrar.
Explicam que preciso praticar o perdão e, ao mesmo
tempo, muitos me mostram como exercitar a vingança.
Senhor! ...
Que será de mim, neste grande mundo que construíste
entre as estrelas, sempre adornado de flores e aquecido
de Sol, se os homens me abandonarem?
Faze que eles reconheçam que dependo deles como o
fruto depende da árvore. E, tanto quanto seja possível,
dize-lhe, Senhor, que terei comigo apenas o que me
derem e que posso ser, enquanto estiver aqui,
unicamente o que eles são.
Súplica
da Criança
15
Meimei
23
Notando um companheiro
Trabalhando a chorar,
Fraternalmente perguntei,
Sem qualquer pretensão,
Como podia eu suprir-lhe o pesar,
Através da oração...
Ele me respondeu, de sentimento aberto,
- "Irmã Dolores,
O meu drama por certo
É um caso igual a muito caso triste..."
E como se fitasse o próprio centro
Do romance de dor que trazia por dentro,
Esclareceu, sereno:
- "Penso que amor de mãe é luz maior que existe
Depois do amor de Deus que nos envolve e aquece.
Pois, creia. Há doze anos
Fui expulso
Do ninho maternal para sofrer
Terríveis desenganos
Que nunca admiti me vissem testar
A energia da fé e o perdão por dever,
Benfeitores daqui me prepararam
Para existência nova...
Cabia-me voltar á Terra, o educandário,
Onde entraria em prova
Para seguir, mais tarde, em nosso itinerário,
Fui levado ao casal que me receberia;
Ante a futura mãe que Deus me concedia,
Enterneci-me tanto
Que me desfiz em pranto de júbilo sublime...
Era uma jovem de maneiras ternas,
De olhar meigo e profundo,
Assunto
de
Mulher
Maria Dolores
16
24
Pareceu-me, em verdade, ao conhecê-la,
Que viveria ao lado de uma estrela
Em regressando ao mundo...
Amparado por nossos benfeitores,
No preciso momento,
Adormeci em branda anestesia,
Depois, sem aflição, sem sofrimento,
Não sei como me vi ligado a ela...
Tinha a idéia de estar num sonho de alegria,
Restituído ao tempo de criança...
Dormido, descuidado, em pequena cela,
Junto à jovem mulher que me aguardava,
Não podia dizer se vivia ou sonhava...
Sentia-me crescer envolto de amor puro,
Antevendo, feliz, o brilho do futuro...
Mas, quando tudo parecia
Que estava retornando a novo dia,
Senti-me crescer deslocado, de repente,
Sonâmbulo, inconsciente,
Supliquei proteção naquele pesadelo...
Ninguém, ninguém me ouvia o repetido apelo,
Reconheci, por fim,
Naquele coração a que o Céu me entregara
Um coração de gelo,
Que me batera e me expulsara
Infeliz, humilhado e semimorto,
Num processo de aborto...
Por muito tempo andei numa nuvem estranha,
Remoendo revolta e desesperação,
Como quem despertava, a pouco e pouco,
Até que, em certo dia, acordei quase louco,
Padecendo terrível sensação...
Não quis ouvir qualquer aviso
Que me induzisse à bênção do perdão...
Fiz-me um demônio de improviso,
Duro perseguidor,
Flagelando, a rigor
Aquela que me dera o menosprezo e a morte,
Aniquilando-me à vontade
Em regime de plena impunidade...
Fui encontrá-la numa festa,
Gritei-lhe em rosto o meu ressentimento,
Ela não me escutou, na forma acostumada,
Mas sentiu-me a presença envenenada,
Sob a forma de culpa e de arrependimento...
25
Exagerei-lhe a dor, amargurei-lhe a vida,
Dia a dia, hora a hora, em agressão comprida,
Até que meu desforço injusto e inglório,
Vi-lhe a entrada num triste sanatório..."
E o companheiro transformado
Em obreiro do bem que servia, a meu lado,
Solicitou, comovedoramente: -
- "Agora que compreendo
O dever de ajudar pela bênção do amor,
Já não sou mais o obsessor...
Preciso devolver-lhe o equilibro e a saúde,
Fazer-lhe todo o bem que ainda não pude,
Extirpar a raiz dos males que lhe fiz
E auxiliá-la a ser feliz...
Hoje é o dia em que devo estar com ela
Em vista de paz numa prece singela...
Quer ir comigo, Irmã?" – Falou o amigo.
E lá me fui ao generoso abrigo
Em que vive a doente...
Não posso descrever o quadro comovente,
A dor que me feriu ao vê-la desgrenhada.
Ao sentir-nos de perto a pobre dementada,
Agitou-se ferida na memória
E recapitulando a própria história,
Começou a gritar em penoso estribilho: -
- "Doutor, quero o meu filho...
Onde ficou meu filho?..."
Tocados de emoção,
Oramos pela paz da doente querida,
Mas pensando na dor que geramos na vida,
Roguei a Deus:
- "Senhor, quando eu voltar ao mundo,
Seja qual for o campo em que estiver,
Não me deixes perder o sentido profundo
Que puseste em amor, na missão da mulher!..."
26
Grande é a escola da vida humana!...
Disputaste situações de destaque, junto ao homem
de altos negócios, crendo encontrar ele o apoio de que
necessitas, entretanto, na maioria dos casos, é
justamente esse chefe responsável quem precisa de tua
proteção sacrificial, a fim de sobreviver.
Aceitaste a união esponsalícia com o cavalheiro
nobre e robusto, admitindo seja ele o benfeitor que se te
fará defesa e salvaguarda, nas trilhas humanas, e, quase
sempre, nele percebes o homem fatigado e aflito que
não prescinde do teu auxílio, de modo a cumprir os
encargos que a vida lhe reservou.
Solicitaste em casamento a jovem de bonita
figuração, na certeza de que ela se te erguerá em
consolo e fortaleza na jornada humana e,
freqüentemente, nela descobres a mulher frágil e por
vezes doente, a requisitar-te continuada atenção para
que não resvale em leviandade ou loucura.
Pediste à vida um filho, na esperança de conquistar
em teu próprio rebento um companheiro fiel que te
continuará o trabalho ou te realizará os mais belos ideais
e terminas, muitas vezes, por identificá-lo na posição de
um amigo infatigável, a fim de que não te arraste a
problemas insolúveis.
Recebeste nos braços uma filha querida, imaginando
que o futuro nela te configurará a presença de alguém
que te abençoará na velhice ou te assistirá na
enfermidade, mas em muitas ocasiões, cedo reconheces
nesse coração adorável uma criatura vacilante e rebelde,
a reclamar-te tolerância incansável, para que te não
precipites na delinqüência.
E assim caminharás na estrada terrestre, aprendendo
a amar e a construir, auxiliar e suportar a com heroísmo
e paciência, até que te ausentes do Plano Físico na luz
da vitória sobre ti mesmo.
E se perguntares ao Senhor da Vida o porquê de
tudo isso ele te dirá certamente:
- "Sim, enviei-te os necessitados do mundo para que
pusesses igualmente atender à tua necessidade de
elevação".
Necessitados
17
Meimei
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Era ele um cristão de crença pura,
Caminhava na vida
Mostrando fé vibrante e fronte erguida,
Devoto da verdade e da brandura...
Escrevia e pregava em verbo ardente,
Vergastava costumes e preceitos,
Exigia no mundo irmãos perfeitos,
Reclamava virtude em toda gente.
Alentava, no entanto, antigo anseio,
Entretecido de carinho e luz,
Nas súplicas ao Céu, dia por dia,
Clamava e ansiosamente repetia
Em alto devaneio:
- "Quero encontrar Jesus! Quero encontrar Jesus!..."
Sonhava ver e ouvir o Mestre Amigo,
Abraçá-lo, retê-lo,
Depois, testemunhar-lhe todo o zelo
Que trazia consigo
A inflamar-se de amor...
Mas, ei-lo a procurar, em andanças no mundo,
Erros, falhas, defeitos, cicatrizes,
A fim de levantar o látego infecundo
Sobre os irmãos caídos e infelizes.
Páginas primorosas escrevia
Com lindas conferências de permeio,
No intuito de afastar do campo alheio
As nódoas que ele, acaso, percebia...
Tempos rolaram sobre o tempo mudo
E nada mais fazia o cristão combatente...
Entretanto,
Em matéria verbal, sabia tudo,
Tudo o que fosse amargo ou deprimente.
Em nome de Jesus, erguia a frase rara,
Qual bisturi que corta, poda e apura,
Manejava a palavra fina e rara,
Em constante censura.
Certa noite, porém, depois de muitos anos,
Viu-se fora do corpo, a pervagar...
De improviso, oh! surpresa!... viu Jesus
Que nele punha o generoso olhar...
Verdade e
Amor
Maria Dolores
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Notava que Jesus o fitava em silêncio,
Dispondo-se, talvez, a partir sem demora,
Ele gritou: - "Senhor, abençoa-me a fé,
Espero, desde a infância, este encontro de agora...
Dize, amado Jesus, se estou certo em caminho,
Quero apenas fazer aquilo que te agrade,
Tenho feito da vida um combate sem tréguas,
Mostro os erros do mundo e defendo a verdade!
Ao meditar em ti, vejo em franca expansão,
Os conflitos mortais que amarguram a Terra,
Paixão, intemperança, orgulho, hipocrisia
E a presença do mal trazendo a morte e a guerra!...
Irmãos dilapidando irmãos, estrada a estrada.
Convertem-me a palavra em chicote violento,
Grito, protesto, acuso e denuncio...
Explica-me, Senhor, se tenho estado atento!..."
Mas Jesus respondeu: - "Agradeço-te, irmão,
Quanto me tens doado em franqueza e rigor,
Não olvides, porém,
Que a construção do Bem,
Solicitando, embora, a base da verdade,
Nunca se elevará no apoio à Humanidade,
Sem o teto do amor...
Não deixes de amparar... Anota as leis da vida,
Esclarece, corrige, ensina, mostra, fala!...
Mas, recorda: não basta apontar a ferida,
Depois de conhecê-la, é preciso tratá-la.
Volta ao mundo e prossegue,
Retifica sem fel e ajuda sem impor,
Verdade que produz é aquela que auxilia,
À maneira do Sol que acende a luz do dia
E estende a vida ao chão em dádivas de amor!..."
O amigo despertou a desfazer-se em pranto,
Inflamado de júbilo e de espanto,
Ergueu-se novamente para a vida...
Em seguida,
Descerrou-se a janela junto dele...
Fitando a rua em frente,
Viu homens construindo
A se esforçarem afanosamente,
Doentes repousavam na calçada,
Pobre mãe desprezada
Passava carregando um pequeno enfermiço...
Tudo era petição de amparo e de serviço...
Não longe, uma criança sem ninguém
Começou a chorar...
Nisso, ele ouviu de novo a voz do Mestre Amado,
No íntimo do ser,
Qual se estivesse ali, respirando a seu lado,
Presente a lhe dizer:
- "Escuta, meu irmão,
Posso falar-te aqui na paz do coração!..."
Depois, disse baixinho:
- "Se queres atingir a luz do Eterno Lar,
Eis, em teu mundo mesmo, os marcos do caminho:
-Trabalhar e servir, servir e trabalhar!..."
29
Muitos companheiros da Terra que perderam entes
queridos em processos de crueldade estimariam ouvirlhes
as impressões do Mais Além, com referência às
provas sofridas ao se despedirem do Plano Físico.
E as respostas, comumente, lhes soariam aos
ouvidos, insuflando-lhes surpresa e admiração.
Os desencarnados que se reconhecessem livres das
estreitezas humanas lhes surgiriam ao entendimento
por advogados de seus próprios algozes.
Filhos abatidos pelas armas de salteadores
infelizes pediriam o perdão dos pais em benefício
deles, compreendendo-lhes o suplício da consciência
culpada; pais sacrificados por pessoas inescrupulosas
solicitariam a tolerância e a bondade dos descendentes
para quantos lhes promoveram a destruição da
existência terrestre; criaturas violentas no próprio
corpo e seviciadas até a desencarnação suplicariam o
socorro dos entes amados para aqueles que lhes
impuseram a morte; e amigos massacrados por
agressores voltariam da Vida Maior, implorando
compaixão para quantos lhes tramaram a perda.
Se, algum dia, tiveres de ouvir os seres queridos,
transportados para a Vida Superior, sob pesados
golpes da delinqüência, não guardes qualquer idéia de
condenação e vindita. Quantos deles já se encontrem
identificados com os ensinamentos de Jesus, te
rogarão piedade e amor para com os perseguidores
que os feriram, de vez que todos aqueles que
atormentam e arrasam os seus próprios irmãos não
sabem o que fazem.
Não
Sabem
Meimei
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30
Expiara, por fim, o Mestre Nazareno.
Cessara a gritaria... O Céu, dantes sereno,
De improviso apresenta a sombra que o invade...
Anuncia-se enorme tempestade.
Raros amigos
Permanecem no monte.
Cristo agora está morto,
Pendera-se-lhe a fronte
Despegada no lenho...
Tudo ali era pó, tristeza, desconforto...
Nisso, um homem tristonho e maltrapilho,
Qual mendigo varando a névoa espessa,
Abeira-se da cruz... É Barrabás
Que exibe extensa chaga na cabeça,
Sanguinolenta nódoa adquirida
Na enfermiça prisão que lhe amargara a vida,
Sem arrimo e sem paz.
O pobre delinqüente
Que tivera o favor da multidão
Obtendo perdão,
Em lugar de Jesus,
Parou ali, fitando longamente
O réu crucificado.
- "Por que motivo fora o Cristo condenado?"
Em solilóquio amargo, refletia –
"Não era Cristo o Sol do novo dia,
O Grande Prometido anunciado?... "
Enquanto se ralava em pensamento,
Pequena gota de suor sangrento
Veio do morto a ele,
Em movimento subitâneo,
Talvez trazida pelo vento
Ao lhe pousar no crânio...
Recordações de Barrabás
Maria Dolores
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31
"Oh! prodígio dos Céus!..." – exclamou Barrabás,
E levando à cabeça as mãos inquietas,
Ajuntou assombrado:
- "Que vejo aqui? Estou recuperado! ...
Este amigo dos pobres Galileus
Terá vindo de Deus? ...
A chaga que eu trazia em sangue e lodo
Foi curada de todo..."
E, erguendo mais a voz ao Céu, marcado a trevas,
Exaltou-se, fremente:
- "Agradeço-te, oh! Deus Onipotente,
À inesperada graça a que me levas,
Curaste-me ao suor de teu Messias
A ferida cruel que me arrasava os dias,
Não só isto, porém,
Oh! Deus do Eterno Bem! ...
Não quiseste salvar quem falava em teu nome
E fizeste-me livre novamente,
Ante a comprovação de toda gente...
Não há condenação que me busque ou me tome,
Sinto-me, agora, oh! Deus, em plena luz,
Colocaste-me acima de Jesus!...
Matei, furtei, prejudiquei... No entanto,
Vejo-me sob a força de teu manto...
A ti, Grande Jeovah, o meu louvor sem fim,
Desprezaste a Jesus e libertasse a mim! ..."
E tomado de orgulho,
Insensível de todo ao crescente barulho
Dos trovões e do vento em derredor,
Com terrível acento,
Ele bradou ao firmamento: -
- "Fala, grande Jeovah, o que já sei...
Abatido Jesus, conforme a Lei,
Livre, tal qual me vejo,
Serei eu o maior?"
Entretanto, um dos anjos de alto nível
Que velava na tarde inesquecível,
Representando os Céus, ao pé da cruz,
Tomou a forma humana e disse: - "Barrabás,
Não nos roube a paz,
Nem blasfemes, à frente de Jesus! ...
Toda vida é missão perante Deus
Que a Lei de Deus pode alterar,
32
Reconstruir, mudar ou recompor
Nos princípios do amor! ...
Mas ouve, meu irmão
Entre a tua existência e a senda do Senhor
A diferença é ilimitada,
Aos chamados do Pai, eis que Jesus se eleva
Em liberdade plena, à Vida Soberana,
Quanto a ti, Barrabás, na estrada humana,
Continuas cativo às correntes da treva
Que entreteceste, em torno de ti mesmo...
Jesus resplenderá nos cimos do Universo,
Teu destino, porém, mostra rumo diverso...
No indulto que tiveste, ante aplausos embora,
Guarda a certeza disto:
Não mereces morrer para ser livre agora...
Com o amparo do Cristo,
Seguirás para a gente, a passo tardo,
Suportarás o fardo
Dos remorsos de fel a que te algemas...
O Senhor buscará nas Alturas Supremas
Os sóis livres do Eterno Alvorecer,
A Pátria dos Heróis, ridente e linda...
Quanto a ti, Barrabás, é cedo ainda
Para buscar o Além... O resgate é dever...
Segue, querido irmão,
À procura da própria redenção,
Necessitas da Terra... É preciso aprender..."
Barrabás, assustado, pôs-se em pranto,
E vergado de dor, angústia e espanto,
Viu-se no temporal rude e violento,
Preso ás cadeias do arrependimento...
E agora mais em si, mais solitário,
Desceu chorando as pedras do Calvário;
E espancado a granizo, a pensar e a sofrer,
Falava, a sós consigo, alarmado e abatido: -
"Graças te dou, meu Deus, por haver
compreendido!...
Necessito da Terra... É preciso aprender!..."
33
Se já te reconheces na condição de alma
imperecível, compadece-te dos outros e diminui os
problemas que lhes possam alcançar o coração.
Qual te ocorre, todos eles carregam consigo
necessidades e lágrimas.
Esse adquiriu débitos de grande porte e
despenderá longo tempo para ressarci-los; aquele
mora num espinheiro em forma de lar; aquele é
portador de enfermidades irreversíveis; aquele outro
ainda traz o coração retalhado de angústia por haver
perdido um ente amado nos labirintos da morte.
Se sabes no caminho onde se oculta alguma
pedra, capaz de ferir os pés alheios, procura retirála,
em silêncio, sem criar complicações. Se
conheces algum episódio desagradável, acerca da
vida de alguém, cala-te e ora pela paz desse alguém,
porque não conheces a estrada que trilharás amanhã,
em cujos obstáculos poderás perder o próprio
equilíbrio.
Não faças perguntas que funcionem por lâminas
revolvendo o coração dos que te ouvem e evita as
questões dolorosas que a tua palavra seja incapaz de
resolver.
Aprende, em tua convivência, a nutrir a união e a
paz, a esperança e o bom ânimo, buscando esquecer
indagações suscetíveis de levantar qualquer
comentários maledicentes.
Compadece-te de todos, mas especialmente
daqueles que vivem junto de ti.
Não cortes a mão que te auxilia, nem derrubes o
telhado que te protege.
Ama somente e acertarás.
Assunto
de Todos
Meimei
21
34
A senhora viúva, dia a dia,
Sob os efeitos de uma hemiplegia,
Trazia a própria vida concentrada
Na cadeira de rodas, manejada
Por amiga enfermeira.
Dos parentes mais íntimos
Um filho lhe restava, um filho só,
O filho que ela amava enternecidamente...
Marido, pais, irmãos, chamados pela morte,
Deixaram-lhe na vida
Muita emoção frustrada
E aquele moço forte
Que não lhe confortava a existência dorida,
Muito embora abastada.
Achando-nos na véspera do dia
Que marcaria o enlace do rapaz,
E a mãezinha doente
Num misto de alegria,
De esperança e de paz
Entregou-lhe, feliz, tudo quanto possuía:
A fazenda, as ações de grande companhia,
Os créditos de banco e a linda moradia,
Os créditos de banco e a linda moradia,
A dizer-lhe, contente:
- Filho, tudo o que tenho é seu...
De amanhã para a frente,
Passo a morar no estreito pavilhão
Que seu pai construiu ao fundo da mansão.
Desejo ver você e a jovem companheira
Sempre felizes, sem cuidados...
Toda alegria agora para mim
Será sabê-los sossegados,
Ante a bênção de Deus, na visão do futuro...
O filho comovido
Beijou-lhe as mãos num gesto de amor puro
E agradeceu a doação materna,
Prometendo-lhe em voz macia e terna,
Pela jovem com quem se casaria
Segurança, carinho, convivência
Para todas as horas da existência
Que desejava fossem
Adornadas de paz e de alegria.
Amar
para
Sempre
Maria Dolores
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35
Depois do enlace, a enferma recebia
Cartões lindos da Europa...O casal de viajores
Via a lua-de-mel por um mundo de flores...
Ambos davam noticias da beleza
De Lisboa e Paris, de Florença e Veneza...
Mas de retorno ao lar, após a festa
De comemoração do regresso feliz
A dama recebeu na vivenda modesta
O jovem par... E a nora exigente lhe diz:
- Minha sogra, ouça bem!...
Seu filho e eu
Pensando em seu descanso,
Resolvemos agora transferi-la
Para um lar de repouso, um abrigo claro e manso
Onde a senhora viva mais tranqüila.
Precisamos aqui viver a sós,
Não pretendemos tê-la junto a nós.
Porque a pobre espantada procurasse
O olhar do filho amado para ver
A atitude interior que lhe viesse à face,
Ele mesmo aduziu:
É um pouso geriátrico, mãezinha,
A senhora, por lá, não estará sozinha.
Nada disse a velhinha, posta a um canto,
Tão somente mostrou silêncio e pranto...
No dia imediato,
Mudara-se-lhe o trato...
Internada num belo casarão,
Apesar da gentil acompanhante,
Eis que saudade enorme a domina e consome...
O recinto de luxo para ela,
Alma nobre e singela,
Tinha apenas um nome:
"Exílio e solidão".
Seis meses transcorreram, lentamente,
Não mais tornou a ver o filho ausente
E sem que a pompa, em torno, a reconforte,
A velhinha mais triste e mais doente,
De mágoa em mágoa, vagarosamente,
Entregou-se, de todo, às mãos da morte...
Ante as indagações do verniz social,
Deu-se-lhe sobre a Terra um lindo funeral...
A pobre repousou num sono longo e raro;
Mais tarde, despertou solicitando amparo.
Junto dela, um Emissário de Vigia,
Descortinou-lhe os Céus, comentando a alegria
Que a esperava na Altura...
A pobre mãe, porém, perguntou com ternura:
- E meu filho onde está?
- Sem dúvidas quaisquer – falou-lhe o mensageiro –
36
Tanto quanto ficou, seu filho ficará
Por muito tempo ainda em franco cativeiro,
Tem muito que lutar, nos encargos que leva,
Entre as forças da Luz e as tentações da treva...
Mas você, minha irmã, pode elevar-se agora,
Pelo sacrifício e devoção ao Bem,
Mundos da Eterna Aurora
Esperam-na no Além...
A senhora, porém,
Expressando respeito àquelas diretrizes,
Disse, calma e sincera:
- Não aspiro a viver entre os mundos felizes!...
Voltar a ver e acompanhar meu filho,
Sem qualquer empecilho,
É todo o Céu de minha longa espera.
O Mensageiro que lhe conhecia
Os tempos de doença e de agonia
Anotou com brandura:
- Irmã, descer da Altura Imensa
A fim de trabalhar sem recompensa
Em favor dessa ou daquela criatura
É conquistar maior merecimento...
Para estar com seu filho, em constante união,
Precisará viver
Sob o regime da reencarnação...
E, acaso, aceitará, por mãe a própria nora?
- Como não, anjo bom? – replicou a senhora –
Se Deus me consentir, assim regressarei,
Creio que a luz do amor é o princípio da Lei;
Se tenho no meu filho a bênção que procuro,
Como menosprezar a jovem que ele adora?
Amá-lo-ei melhor por minha nora
De quem devo ser filha no futuro...
Hei de amá-la também, voltando a ser criança,
Sempre encontrei no amor divina maravilha,
Minha nora no lar me acolherá por filha,
Serei nos braços dela uma nova esperança...
Envolverei meu filho e ela em meu sorriso,
Todo berço na Terra aponta o Paraíso...
Cinco anos passaram sobre o Tempo...
Hoje anotei um trio encantador:
Ante a filhinha: - luz recém-nascida –
Disse o pai ao beijá-la: "minha vida!"...
A criança sorriu no berço cor-de-rosa
E a mãezinha, a enfeitar-lhe o corpinho de flor,
Exclamou comovida e venturosa:
- "Deus te abençoe, meu anjo, meu amor!..."
37
Ante o materialismo que ensombra ainda muitos
caminhos na Terra, indaga de ti mesmo, em que terá
ele sido bom para as criaturas.
E, ao mesmo tempo, nessa contabilidade da alma,
ouve as testemunhas de Jesus, expondo-lhe a grandeza.
Escuta história dos corações arrancados à
delinqüência da alma, os depoimentos dos pais
consolados à frente de filhos desertores; os poemas de
aflição das mães que se resguardaram na embarcação
da fé, sob as tempestades das provações e das
lágrimas; os hinos de paz interior dos que perdoaram
as ofensas e as injúrias recebidas, considerando os
agressores quais seus próprios irmãos; as páginas de
heroísmo dos que souberam amar no espinheiro do
sacrifício; as epopéias ocultas dos que venceram
tentações e desafios das trevas na intimidade do
próprio ser; o cântico das crianças resgatadas da
doença e da morte; e as preces daqueles outros que
aceitaram a enfermidade e a desencarnação,
abençoando-lhe o nome e louvando-lhe o imenso
amor.
Pergunta em teus cálculos, quantas criaturas o
materialismo afastou do pessimismo e do suicídio; da
violência e do desespero e, por outro lado, relaciona
todas aquelas que Jesus conduziu à esperança e à
coragem, à renovação e à alegria.
Se necessitas de semelhante confronto para
conhecer a verdade, faze isso e acertarás.
Confronto
Meimei
23
38
Já não quero senão entendimento.
Graças te dou, Jesus, porque me ensinas
Que o teu amor, em tudo, é sempre grande,
Ainda mesmo quando se te expande
Na beleza das cousas pequeninas.
Sei que vivo distante do heroísmo
Que vejo fulgurar, entre as almas de escol,
Mas posso ser o apoio em que se tente
Socorro e proteção a uma planta doente
Para que não lhe falte a carícia do Sol.
Não consigo extinguir a penúria na Terra,
Entretanto, Senhor,
No espinheiral de luta em que ainda me embrenho,
Posso partir, sem mágoa, o pão que tenho
Para um gesto de amor.
Quantas lições me mostras no silêncio!...
A da semente enriquecendo o chão,
A das provas cruéis numa prece a vencê-las,
A da vela na noite sem estrelas,
Expulsando a tristeza e a escuridão...
Lembro a história de antigo fio d'água
Que criou no deserto amorável jardim,
Lembro a lagarta e a seda, nobre e rara,
A perola e a concha que a formara
Por lágrima de luz crescida em dor sem fim...
Penso na areia resguardando o rio,
Na pedra que se oculta, assegurando o lar,
Na raiz da roseira, às vezes, sob estrume,
Para que a rosa em vagas de perfume
Possa elevar-se à vida, existir e bilhar.
Observo e registro os meus empeços
Que o passado de débitos me traz,
Mas posso ser na fé que hoje me alcança
Uma simples tarefa, um toque de esperança,
Uma palavra boa e um sorriso de paz!...
Estou feliz, Senhor, porque me ergueste,
Serva que por teus servos se conduz,
E porque rogo luz sem que a treva me tome,
Por trazer em minhalma a bênção de teu nome,
Agradeço, Jesus!...
Cantiga de Gratidão
Maria Dolores
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39
Empresa difícil no mundo íntimo – a desvinculação.
Se te encontras à beira de empreendimento assim
arriscado e se já consegues imaginar-te no lugar
daqueles que te rodeiam, medita nas repercussões de
que serias objeto ao recolher semelhante surpresa da
parte dos outros.
Certas separações apresentam na vida mental a
gravidade de cirurgias determinadas nos tecidos
orgânicos.
Um toque inadequado de bisturi seria suscetível de
criar prejuízos e problemas nas estruturas do corpo.
Uma providência inoportuna é capaz de estabelecer
lesões de grande extensão no campo da alma.
Decerto, na contabilidade da existência, surgem
devedores que desfrutam a possibilidade de retardar o
resgate total dos débitos contraídos. Em vista disso,
nada pode barrar-te as determinações mais intimas,
com exceção das Leis de Deus.
Entretanto, se a desvinculação comparece no
esquema das lutas morais em que te vês, compadecete
daqueles que te amam, talvez ainda sem
compreender-te.
Não te desvincule deles, de improviso, qual se
estivesses operando enfermos vários com pancadaria
no coração.
Ninguém deveria separar-se de alguém, sem
propiciar a esse alguém o equilíbrio preciso, a fim de
sustentar-se de pé.
Reflete nos pais e filhos, irmãos e companheiros
que a desvinculação violenta já relegou aos vales do
sofrimento e da morte e não assinales o teu caminho
com as lágrimas alheias.
Prepara o sentimento das criaturas que te
compartilham as experiências do dia-a-dia, antes de
entregar-te às renovações que desejas.
Compreensão e auxílio são vias importantes no
templo da caridade.
Deus nos ajude a pensar nisso.
Desvinculações
25
Meimei
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Na floresta de Gubbio, um lobo se fizera
Uma espécie de monstro aterrador,
Mais astuto e mais hábil que uma fera
Parecia um terrível salteador,
Matando qualquer homem desarmado,
Espalhando pavor e aniquilando o gado...
Mas, Francisco de Assis foi procurá-lo, um dia,
E, em plena solidão,
Ao encontrá-lo, em vasta ramaria,
Começou a chamá-lo por irmão...
Em seguida, falou-lhe da bondade,
Da paz, da caridade, do carinho...
Pediu-lhe, por Jesus, alterar o caminho
Em que o pobre animal
Vivera até então
E terminou, rogando ao lobo atento
Fosse morar com ele no convento
E a fera obedeceu,
Sem demonstrar qualquer hesitação.
Seguindo o Irmão Francisco, achou-se em novo lar,
E, ao mudar de atitude, entregou-se, feliz,
No trabalho do bem, nas tarefas de Assis.
Era um guarda-noturno dos melhores
E, carregando um cesto aos dentes,
Buscava pães nos arredores.
Mas o chefe ocupado, muitas vezes,
Por semanas ou meses,
Ausentava-se em serviço,
Quase sempre reunido a Frei Leão,
Saía em sacrifício e peregrinação,
A fim de semear o ensino do Senhor,
Atento a inolvidável compromisso.
Nessas ocasiões,
O Irmão Lobo sentia
A carência de amor
E a fome de alegria.
Maria Dolores
O irmão
Lobo 26
41
Longe do Irmão Francisco, em todas as estradas
Era seguido a insultos e pedradas...
Mesmo entre os servidores do convento
Sofria ele o impacto violento
De varadas cruéis...
Chamavam-no "covarde", "lobo vil",
"Carniceiro feroz..."
E de tanto agüentar o tratamento hostil,
Vendo-se, um dia, a sós,
O Irmão Lobo voltou para a vida selvagem,
Na antiga sede de carnagem;
Tornando à condição a que dantes se dera
Nos instintos de fera...
Voltando o Irmão Francisco
À morada de amor que presidia,
Depois de longa ausência,
Teve noticia da ocorrência
Mas, embora cansado
E prematuramente envelhecido,
A lastimar o acontecido,
Ante as muitas saudades do animal,
Embrenhou-se no verde da floresta...
E reencontrou o Irmão Lobo, como em festa
Na vastidão da natureza,
Perseguindo, sem pausa, uma lebre indefesa.
- "Irmão lobo, o que é isto?"
Disse o recém-chegado.
- "Já não te lembras mais dos ensinos de Cristo?"
O lobo veio a ele, abatido e humilhado,
E respondeu, tristonho:
"Santo amigo, não pude suportar
As dores que sofria em vossa ausência,
Acreditei que o vosso sonho
Fosse uma realidade na existência,
Mas tenho ainda as marcas doloridas
De profundas feridas
Que os homens me fizeram...
Toda vez que deixáveis nossa casa
Tratavam-me com vara, pedra e brasa...
Não vi qualquer pessoa a não ser vós
Nos ensinos sagrados
Que trazeis a nós...
Deixai-me, santo amigo,
Sou lobo, apenas lobo no serrado,
Fera solta nas trilhas em que sigo ".
42
Francisco, então, enfermo e fatigado,
Replicou-lhe, porém:
- "Irmão lobo, recorda!... O caminho do bem
É aquele de Jesus...
Devemos aceitar a própria cruz...
Recorda as instruções que estudaste comigo,
Sentença por sentença!
Deixe que eu te interprete:
A lei é perdoar setenta vezes sete
Qualquer ofensa recebida...
A presença de Cristo é o sol de nossa vida...
Volta, comigo, irmão,
Eu também, já sofri calunia, provação...
Sinto-me fatigado,
Mas a fé no Senhor é uma luz em meu peito,
Continua, Irmão Lobo, de meu lado,
Resguarda-me, com Deus, na pedra
Em que me deito...
Necessito de ti na casa de onde venho,
As tuas grandes cicatrizes
Dos momentos que julgas infelizes
São feridas irmãs das ulceras que eu tenho!..."
O lobo cabisbaixo acompanhou o amigo,
Fez-se-lhe guardião na aspereza do abrigo,
Onde Francisco, dantes forte,
Pôs-se em chaga e oração
Para aguardar a morte...
Finda aquela existência engrandecida e bela,
O Irmão Lobo fugiu para um bosque vizinho,
Algo desatinado,
Como alguém que se vê desamparado
Sem rumo e sem caminho,
Em súbita carreira...
Ouvido no convento
Notou-se que ele uivava a noite inteira;
E porque se calara, de repente,
Quando o Sol regressou, resplandecente,
Um irmão de Francisco foi à mata,
Decidido a trazê-lo,
No máximo de zelo,
Para a vida de paz, de serviço e conforto...
Mas, surpreso, encontrou nas pedras do serrado
Um corpo de animal abandonado:
O lobo de Francisco estava morto.
43
Se tens o conhecimento exato disso ou daquilo, não
menosprezes quem o ignore.
Que será de tua verdade se não a utilizas para
construir ou abençoar?
Esclarece amando.
A semente escondida no solo será talvez, de futuro,
a árvore cujo fruto te favoreça e o tronco,
aparentemente desprezível, entre os dedos hábeis do
artesão, pode vir a ser o violino que interpretará os
sonhos do gênio que ainda não conheces.
Sobretudo, se já adquiriste essa ou aquela
qualidade enobrecida, traze-a no estojo da humildade,
para que não incomodes a ninguém com o brilho que
possas irradiar.
Que será de tua virtude, se não a empregas, em
beneficio dos outros?
Socorre abençoando.
Certas plantas de gosto amargo possivelmente
estão destinadas a fornecer-te medicamento, em
tempo oportuno, e o charco socorrido é capaz de
oferecer-te precioso jardim.
Não constranjas a ninguém com os teus pontos de
vista.
Nem sempre os outros seguirão teu caminho, tanto
quanto desejas ou como poderias talvez esperar, mas
terão em si e por si obrigações diferentes que lhes
foram assinaladas pela Sabedoria de Deus.
Meimei
Caminhos
diferentes
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44
Vendo a amizade estreita
Da filha que ela amava, ardentemente,
Com a jovem artista,
Comediante e equilibrista,
Sempre atirada sob a espreita
Da crítica feroz de muita gente,
O pai chamou-a e disse em palavras severas:
- 'Filha, não tens ainda vinte primaveras,
Estudas num colégio austero e nobre,
Dize: qual a razão
Que te leva a escolher a companhia
Dessa jovem mulher,
Reles mulher sem consideração?"
E, ante a muda surpresa da menina,
O pai continuou na censura ferina:
- "Proíbo-te qualquer intimidade
Com essa moça envilecida,
Que procura arruinar a própria vida,
E que na condição de atriz, quer
No palco ou na rua,
Anda de trama em trama,
Sempre despudorada e seminua
Numa trilha de lama..."
"Mas, meu pai", – disse a filha humildemente,
"Ela trabalha assim,
Para tratar do pai cego e doente..."
- "Minha ordem é o fim" –
Grita o progenitor, derramando azedume,
"Essa atriz para mim
É uma pessoa deprimente,
Que só por si resume
Calamidade, astúcia, meretrício.
Não mais te quero ver, onde estiver
Essa infeliz mulher,
Hoje dama do vicio"
O Socorro
imprevisto
Maria Dolores
28
45
A menina chorou e obedeceu.
Não mais buscou a antiga companheira
E fez mais do que isso,
Negou-se a recebê-la quando procurada,
Alegando trabalho e compromisso.
Mas os dias na Terra vêm e vão...
Numa clara manhã de tórrido verão,
A família fidalga está na praia,
Pai, mãe e filha, em meio dos banhistas...
A multidão descansa, olhando o mar,
Toda gente partilha o mesmo ar,
Os filhos da cidade e os grupos dos turistas.
O mar naquele dia
Estava diferente...Parecia
Um gigante que se alteia
Para depois cair aos estrondos na areia...
Eis que, em certo momento, uma onda mais alta
Chega de escantilhão
E arrasta para longe a menina fidalga
Que desce às profundezas de roldão.
A pobre vem à tona
E grita por socorro,
Aprestam-se a salvá-la os guardas de vigia;
Há confusão, desordem, gritaria...
No entanto, de um grupinho, à parte dos demais,
Certa jovem que estava em gargalhadas,
Avança, mar a dentro, bem valentes braçadas,
Mergulha, em certo ponto, e num momento,
Volta trazendo a jovem desmaiada.
Mas ao depô-la salva, em terreno seguro,
Um vagalhão enorme, um monstro escuro
Arranca a salvadora para trás,
A moça não resiste ao assalto voraz
E, a debater-se, em vão, é atirada
À distância e vai ao fundo...
Esforça-se debalde...Está presa entre plantas,
Que procura vencer, contudo elas são tantas!...
Na luta que mantém, de segundo a segundo,
Perde as forças...Por fim, se desanima,
Não consegue voltar ao ar leve de cima...
Em torno, a multidão, grita por ela,
Agitam-se homens-rãs, correm os nadadores,
Depois de esforços desesperadores,
A moça vem à tona...Posta num barco à vela,
A menina está morta e, em breve, junto dela,
Une-se toda gente, a lastimar-lhe o fim...
Aflito, chega o pai da jovem salva,
Põe-se a rogar: "Acordem a heroína,
Essa moça merece a Proteção Divina,
Ela salvou-me a filha,
A filha que é meu sonho e a luz que me conforta,
Quero entregar-lhe um prêmio e senti-la feliz..."
Mas fitando no barco a pobre moça morta,
Retrocedeu chorando...Era a famosa atriz.
46
Emaranhas-te, algumas vezes, no cipoal da
incompreensão de seres queridos.
Aqui, é um filho que se te afigura inacessível às
diretrizes de renovação; mais além, é um coração
amado que parece não mais te suportar os convites ao
bom senso.
Não insistas com intimações palavrosas. Ameaças e
desafios assemelham-se a marteladas sobre pregos de
fixação.
Oferece-lhes bondade e simpatia, quando te não
consigam entender, mas não os encarceres nas linhas
de teus pensamentos.
Se pessoas queridas fogem de ti, inconformadas
com a vida em tua casa mental,abençoa-as com
serenidade e continua agindo e servido na execução
dos ideais superiores que abraças.
E se, um dia, te retornarem à convivência,
buscando trabalhar perto de ti, quanto se te faça
possível, abre-lhes os braços; e se te solicitarem a
Meimei
intercessão para que venham a servir noutros
caminhos, não vaciles ajudá-las, afim de que
retomem o esforço de elevação do qual se afastaram
transitoriamente.
Perdão não é apenas uma jóia na boca e sim a
aceitação dos outros, na condição em que ainda se
encontrem, com a sincera disposição de colocar-nos
em lugar deles, não somente para avaliar-lhes a
situação, mas também para sabermos quanto
estimaríamos recolher, na situação dos que erram, a
tolerância da generosidade alheia.
Sigamos o próprio caminho, sem impedir que os
semelhantes escolham estradas diferentes das nossas.
Certa feita, recomendou Jesus ao Apóstolo:
- "Perdoarás não apenas uma vez, mas setenta vezes
sete". Isso quer dizer também que à frente dos nossos
irmãos que nos firam ou nos ofendam, cabe-nos
abençoá-los e auxiliá-los, tantas vezes quantas se
fizerem necessárias.
Tolerância
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O cavalheiro de renome e brilho.
Quarenta e dois dezembros de existência,
Tinha consigo um filho,
Irrequieto rapaz de vinte primaveras...
Viúvo, ele encontrara uma jovem bonita,
De maneiras sinceras,
Com quem se reuniria em casamento...
Mas conduzindo o filho de visita
Ao lar da noiva, em doce entendimento,
Eis que o rapaz por ela se apaixona
E, moço inteligente,
Ante a afeição que lhe transborda à tona
Do coração ardente,
Dá-se, de todo, à treva que o invade...
E, tão astuto quanto desumano,
Friamente executa um lamentável plano
De indescritível crueldade...
Notando, em certo dia, o pai acometido
Por resfriado leve,
Ministra-lhe o rapaz um forte entorpecente,
O genitor caído,
Em tremendo torpor, delira estranhamente,
E, de dose a outra dose, parecia
Mais doente e cansado, a cada novo dia.
O rapaz busca a jovem para vê-lo
E a moça foge amedrontada,
Fitando o descontrole e o desmazelo
Daquele que não mais conseguiria
Conceder-lhe migalha de alegria
Da ventura sonhada...
O resto da ocorrência
Qualquer pessoa pode imaginar:
O fazendeiro se afastou do lar,
Quase que inconsciente,
E, recolhido a um pensionato
Para enfermos da mente,
Muito longe da casa,
Eis que todo o equilíbrio se lhe arrasa,
Ante em texto legal que o destitui
Da regência de tudo o que possui.
O filho conseguira ilhá-lo em supremo desgosto,
O pai tanto reclama e tanto se tortura,
Que apresenta, rebelde e descomposto,
Um quadro indiscutível de loucura.
Drama no
Mundo
Maria Dolores
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Não se descuida o moço...Mês a mês,
Envia ao pensionato o justo numerário
Para o custeio necessário
Das despesas do pai
Que deixara de vez...
Tempo vem, tempo vai
E, ao termo de dois anos,
De pesados e rudes desenganos,
Certa noite, o doente
Abandona a pensão e foge sem destino...
O jovem na cidade interiorana
Finalmente conquista
A ex-noiva do pai que acredita, inocente,
Na morte imaginária
Do homem bom que adorara, ternamente,
Através de uma carta simulada
Que o moço sedutor lhe expõe à vista.
O casal prosperou, vivendo agora
Na metrópole grande, em formosa mansão,
Um filho se lhe fez a base da união
E marido e mulher viviam, de hora à hora,
Em constante alegria...
De lembranças do pai nenhum sinal
Que lhes turvasse a vida
No azul do céu mental...
Festas, viagens, luxo, fantasia...
O menino – seis anos de ternura –
Vive ligado à ama que o não solta,
Ambos sob a atenção de um guarda que os escolta,
Era o garoto um gênio de doçura...
Quase todos os dias,
Quando descia ao paeo ajardinado,
Via a criança um velho embriagado
A sorrir-lhe, por trás das grades de um portão,
- "Uma esmola, meu filho" – ele pedia,
Mostrando o rosto magro em desconsolo.
Ia o menino à ama e, em breve, aparecia,
Trazendo-lhe, feliz, grande porção de bolo.
- "Deus te abençoe, meu anjo!..." – O velho
abençoava.
Curioso, o pequeno perguntava:
- "Onde é que você mora?"
O pedinte dizia: - "Aqui por fora,
Moro no Sítio da Calçada..."
A ama, compreendendo a alusão do mendigo,
Endereçava aos dois um olhar piedoso e amigo,
Sabendo com bondade e simpatia
Que a cena, no outro dia,
Seria renovada.
Certa noite em que os pais se afastaram mais cedo
Para uma longa festa em chácaras distante,
Dois ágeis salteadores
Prendem o guarda num recanto escuro,
Depois, transpondo o muro,
Penetram na mansão...A dupla alcança
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O aposento onde jaz a tranqüila criança...
A ama é silenciada com mordaça,
O pequeno a gritar, segue sob a ameaça
Das mãos armadas dos seqüestradores;
A dupla arrasta, a esmo, o menino que chora,
Mas, atingindo os três o portão de saída,
Alguém surge com fúria desmedida,
Um homem que se agarra ao pequeno indefeso
Exclama em alta voz: "Sou da policia!...
Sereis mortos, ladrões!... Meu carro aceso
Chegará neste instante..."
Ouvindo aquela voz tonitroante,
Um deles grita ao outro: - "Apage o velho tonto...
Depois, é dar no pé, nosso carro está pronto!..."
Enquanto o homem semi-embriagado
Guarda o pequeno ao lado,
Ouve-se um tiro e o pobre tomba e geme...
Despertaram servidores,
Distanciam-se os dois seqüestradores.
No piso do jardim, faz-se enorme alarido.
A governanta chega...O velho é conhecido,
É o mendigo que ali espera esmola,
O mesmo que a criança alivia e consola...
Nisso o casal regressa à casa.
Um empregado descreve o acontecido...Enquanto a
jovem mãe abraça o filho amado,
O dono da mansão busca ver o ferido,
Depois, grita ao mordomo:
"Temos aqui um herói, um amigo leal,
Ele salvou meu filho, o anjo que conheço...
Quero agora salvar-lhe a vida, a qualquer peço,
No melhor hospital..."
Mas o homem caído
Nele pousou o olhar profundo
E vendo-se a morrer, de segundo a segundo,
Disse, calmo e sereno:
- "Meu filho, agora é tarde...
Se algo posso pedir, guarde o nosso pequeno..."
Depois, como quem vê nas Telas do Invisível,
Acrescentou com a voz a elevar-se de nível:
- "Maria Clara veio... É a despedida...
Devo hoje segui-la em outra vida...'
Ouvindo ali o nome
Da mãezinha que, há muito, falecera,
O dono da mansão, mais pálido que a cera,
Bradou atormentado:
- "Quem é você? Alguém do meu passado?'
O velho sente o fim,
Estirado a gemer, no piso do jardim...
E, no esforço supremo a que se atira,
Diz, ainda, no pranto que lhe cai:
- "Graças aos Céus, cumpri o meu desejo,
Ver você junto a mim é a luz maior que eu vejo...
Deus o abençoe, meu filho!...Eu sou seu pai!..."
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Nome, favorecendo-lhes a deriva para orgulho e
viciação.
Suplicaram-te possibilidades de vencer a distancia e
o tempo e permitiste-lhes a descoberta de engrenagens
que os transportam facilmente de um pólo a outro da
Terra.
Eles, porém, já conseguem abordar a própria Lua,
sem que muitos deles se disponham a aceitar a mínima
ponte de amor para a comunicação com vizinhos e
amigos, no intuito de auxiliá-los.
Pediram-te providências que lhes suprimissem a dor
e cedeste-lhes os medicamentos de misericórdia, com
os quais se confiam sem preocupação aos tratamentos
de alivio e cura.
Mas muitos deles desencaminham semelhantes
bênçãos, convertendo-as em corredores para a fuga,
anulando os talentos da vida no fogo da leviandade e no
gelo da delinqüência.
Deus de Infinita Sabedoria!
Os homens na Terra e nós outros, os companheiros
de evolução, vinculados ao mundo somos todos irmãos.
As conseqüências dos erros de alguns são as
dificuldades de todos.
Compadece-te de nós e não nos deixes perpetrar o
delito da ingratidão.
Deus de Infinita Bondade!
Perdoa-nos se te pedimos compaixão em favor dos
homens,no Plano Físico.
Eles te solicitaram conhecimento superior e
abriste-lhes escolas.
Entretanto, em se iluminando pela inteligência,
muitos deles apenas procuram destaque dinheiroso
com menosprezo aos seus irmãos.
Rogaram-te liberdade e inspiraste-lhes leis justas e
sábias,com que senhoreassem a independência, em
regime de responsabilidade.
Contudo, muitos deles truncam ou confundem os
textos legais para que os mais fortes se façam
opressores dos mais fracos.
Insistiram contigo para que lhes desses melhores
condições de vida com os familiares e enviaste-lhes os
recursos preciosos ao levantamento de habitações
confortáveis.
No entanto, posseando semelhantes valores, muitos
deles amoleceram na ociosidade e no tédio que se lhes
faz conseqüente, entregando os próprios filhos a mãos
mercenárias pelas quais são orientados fora de Teu
Meimei
Oração
Pelos Homens
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51
No tempo que se desdobra,
Sem um minuto de sobra
No dia a se recompor,
Entendendo o tempo agora,
Pelos bens de toda hora,
Muito obrigado, Senhor!...
Pelo Sol que envolve o mundo
Pelo chão vivo e fecundo,
Pela fonte, pela flor,
Por toda a amplidão que vejo
Do trabalho benfazejo,
Muito obrigado, Senhor!
Pela fé que me descansa
No regaço da esperança,
Pelas promessas do amor,
Pelo caminho risonho
Do ideal a que me exponho,
Muito obrigado, Senhor!...
Por todas as alegrias,
Ante as bênçãos que me envias
Do Plano Superior,
Pelos problemas e provas
Da senda em que me renovas,
Muito obrigado, Senhor!...
Ação
de
Graças
Maria Dolores